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sexta-feira, 5 de abril de 2013

Em Busca da Perfeição
"Procurar perfeição usando como medida pares de imperfeitos, é o mesmo que tentar calçar uma meia sem tirar o sapato..."
Autor: Jon Talber[1]



Acumular conhecimento em busca da perfeição tem o mesmo significado que o desejo de se ter uma grande colheita semeando grãos de plástico... 
Aparentemente não podemos evitar, trata-se de pura reação que mais parece uma atitude involuntária, e lá estamos, buscando nos outros, um modelo de perfeição que sequer sabemos do que se trata.

Não sabemos o que é a perfeição, mas fomos treinados desde o berço para procurar tal coisa em tudo que fixemos nossos sentidos. É o sabor perfeito, e também o som, a visão, o odor, a consistência táctil. E para nós perfeito significa superior, melhor em desempenho, aparência, nunca sujeito à falhas, ou seja lá o que for, que possui um algo mais do que aquilo que já vimos antes.

Respostas é o que queremos; não as respostas dúbias, aquelas que nos pedem para refletir, avaliar, ponderar, mas as prontas, já concluídas, definidas como resultado final, que irá direcionar nosso pensamento, nosso modo de ser, de agir, de nos relacionarmos com o mundo.
Palavras que nos induzam um comportamento qualquer, eis o que desejamos. Pensar é coisa problemática, confusa, e por isso buscamos os conselhos dos especialistas, dos sábios, dos santos, de quem quer que seja. Basta que nos digam onde encontrar, a coisa pronta, e lá estaremos.

E passamos a vida a agir dessa forma, desde nossa infância, quando idealizávamos nossos projetos num mundo de fantasia especialmente criado para nos agradar. O ideal de satisfação permanente, quando sequer sabemos o que é uma satisfação não permanente, é o que buscamos em vida.

Uma alegria é sempre de curta duração, uma alegria imperfeita então. Perfeita seria a permanente, ou, como nosso imaginário coletivo nos diz, uma alegria que gradualmente, com o tempo, se ampliará até chegar ao seu máximo. O máximo seria o perfeito, difícil porem é determinar o ápice desse máximo, o ponto de chegada, ou perfeição. Por isso buscamos ajuda, daqueles que supostamente já sabem, já possuem a resposta pronta.

Mas, estamos repletos de respostas, isso é tudo que existe em nossas memórias, em nosso banco de lembranças. Lá já estão todas as respostas, como num compêndio impresso, um imenso repositório de palavras que descrevem todas aquelas coisas. Mas, tais respostas prontas, têm o mesmo significado que o tentar explicar para uma criança que gosto tem uma maçã, quando sequer ela conhece o fruto.
E em nossas relações idealizamos a imagem de um “ser” perfeito, impecável, que não mais precisa de retoques, ou ajustes, um protótipo único que já atingiu sua plenitude existencial sobre a terra, sobre os demais mortais. A mesma regra se aplica às nossas aquisições materiais, ou idéias, ou ideais, ou crenças, etc.

Quando buscamos a perfeição, embora não saibamos do que se trata, também estamos nos colocando no topo da pirâmide do saber, uma vez que somos nós que iremos julgar, avaliar, aferir e finalmente decretar, que aquela é a coisa perfeita. Logo, perfeito, a nosso ver, somos nós mesmos. Outros podem nos dizer o que é perfeito, mas, no final, nossa palavra, nosso julgamento, nossa conveniência é que concordará ou não.


O erro é o caminho que nos indica onde encontraremos o acerto... 
Mas, o ente humano não é perfeito, está muito longe disso. E embora seja uma extraordinária máquina biológica, está longe de ser perfeita. Seu veículo físico se desgasta, adoece e morre, enquanto que, sua mente, seus pensamentos, se deformam, mudam, descartam, acrescentam, são contraditórios, se confundem, e imita sem critérios. Seus próprios princípios de escolhas são duvidosos, uma vez que se baseiam em opiniões ou “verdades” que na maioria das vezes não temos como atestar se são coisas falsas ou verdadeiras.

É possível à máquina defeituosa produzir uma peça perfeita? Se estamos sempre em busca do mais é porque temos de menos. Se ao mais sempre estamos acrescentando alguma coisa, é simplesmente porque aquilo que julgávamos perfeito, ainda está incompleto, imperfeito portanto.

Imagine se ao perfeito é possível acrescentar algo mais. Se é possível o acréscimo é porque não o é, nunca foi, e nunca será, uma vez que sempre se permitem mais e mais acréscimos. Então o que buscamos é um mito, uma fantasia criada em nossa mente, uma ilusão inexistente.

Se nos conscientizarmos de que somos imperfeitos, a cobrança excessiva cessa imediatamente. Por reflexo nos tornaremos mais compreensivos, mais tolerantes, e ficaremos atentos aos nossos próprios julgamentos, pois agora saberemos que eles são falhos, imperfeitos, parciais, tendenciosos, confusos, e sem razão de ser.

Teremos então diante de nós, como nós, indivíduos em fase de transição. Não em busca de algo que não existe, mas sabedores de que estamos vivendo um momento transitório, onde as mudanças, que é o definitivo atestado de nossa imperfeição, ocorrerão sem nosso consentimento, sem depender de nossos critérios pessoais ou de quem quer que seja.

O Compreender ocorre quando descobrimos que uma falha é um acerto em andamento. 
Compreender este estado é respeitar nosso próximo, sermos mais tolerantes, esperarmos menos, e nunca o máximo, que é o motivo de todo conflito e frustração em nossos relacionamentos. Sabedores de que somos imperfeitos, que todos somos, não criaremos falsas expectativas em relação a quem quer que seja, seja uma autoridade, seja um santo. Um santo foi eleito pelos nossos critérios, juízos equivocados, pensamento imperfeito, expectativas confusas e contraditórias, isso devemos considerar. A verdade que vemos nos sábios é um reflexo de nossas aspirações, nosso confuso pensamento, resultado de uma tradição que antecede a nossa própria existência.
As palavras nunca serão as coisas que tentam rotular. A palavra “perfeito” não passa de uma alegoria, uma representação simbólica de um estado transitório de alguma coisa, nada além disso. Perfeito quer dizer que os ciclos regentes das coisas existentes são inflexíveis, não foram criados por nós, não sabemos porquê foram criados, e este fato é coisa perfeita. Perfeito é o ciclo, imperfeitos os objetos sujeitos às leis desse ciclo.

E assim, rotulamos o mínimo com a palavra, com a qual julgamos o máximo. Uma coisa que para nós é bem feita, apenas reflete que aquilo atende às nossas expectativas, aos nossos critérios e julgamento. Outros terão outras medidas, outros meios de aferição dessa mesma coisa, e assim, o julgamento passa a ser uma coisa relativa à aquele que julga. Se a opinião de muitos diverge sobre uma mesma coisa, isso quer dizer que ninguém está capacitado a julgá-la, nem mesmo aquele que se julga o mais sábio dos homens. Para o mais sábio, há sempre outro que se julga mais, e ainda outro, e assim por diante.

Por fim, nossos critérios de avaliação criaram todos os sábios, é como o velho ditado que diz: “Em terra de cegos, quem tem um olho é rei.”. Assim, o sábio sabe-se imperfeito, embora outros, nós, o categorizemos como perfeito, logo, perfeito não é o sábio, mas compreender que somos imperfeitos, inclusive ele, o sábio. 

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