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terça-feira, 3 de setembro de 2013

Fábulas


Fábulas
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A GALINHA DOS OVOS DE OURO

Certa manhã, um fazendeiro descobriu que sua gansa tinha posto um ovo de ouro. Apanhou o ovo, correu para casa, mostrou-o à mulher, dizendo:

- Veja! Estamos ricos!

Levou o ovo ao mercado e vendeu-o por um bom preço.

Na manhã seguinte, a gansa tinha posto outro ovo de ouro, que o fazendeiro vendeu a melhor preço. E assim aconteceu durante muitos dias. Mas, quanto mais rico ficava o fazendeiro, mais dinheiro queria. E pensou:

"Se esta gansa põe ovos de ouro, dentro dela deve haver um tesouro!"

Matou a gansa e, por dentro, a gansa era igual a qualquer outra.

Quem tudo quer tudo perde.

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A RAPOSA E AS UVAS

Uma raposa faminta entrou num terreno onde havia uma parreira, cheia de uvas maduras, cujos cachos se penduravam, muito alto, em cima de sua cabeça. A raposa não podia resistir à tentação de chupar aquelas uvas mas,por mais que pulasse, não conseguia abocanhá-las. Cansada de pular, olhou mais uma vez os apetitosos cachos e disse:

- Estão verdes . . .

É fácil desdenhar daquilo que não se alcança.

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A FORMIGA E A POMBA

Uma formiga sedenta veio à margem do rio para beber água. Para alcançá-la, devia descer por uma folha de grama. Quando assim fazia, escorregou e caiu dentro da correnteza.

Uma pomba, pousada numa árvore próxima, viu a formiga em perigo. Rapidamente, arrancou uma folha da árvore e deixou-a cair no rio, perto da formiga, que pode subir nela e flutuar até a margem.

Logo que alcançou a terra, a formiga viu um caçador de pássaros, que se escondia atrás duma árvore, com uma rede nas mãos. Vendo que a pomba corria perigo, correu até o caçador e mordeu-lhe o calcanhar. A dor fez o caçador largar a rede e a pomba fugiu para um ramo mais alto.

De lá, ela arrulhou para a formiga:

- Obrigada, querida amiga.

Uma boa ação se paga com outra.

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A LEITEIRA E O BALDE

Uma leiteira ia a caminho do mercado. Na cabeça, levava um grande balde de leite. Enquanto andava, ia pensando no dinheiro que ganharia com a venda do leite:

- Comprarei umas galinhas. As galinhas botarão ovos todos os dias. Venderei os ovos a bom preço. Com o dinheiro dos ovos, comprarei uma saia e um chapéu novos. De que cor?

Verde, tudo verde, que é a cor que me assenta bem. Irei ao mercado de vestido novo. Os rapazes me admirarão, me acompanharão, me dirão galanteios, e eu sacudirei a cabeça ... assim! . . .

E sacudiu a cabeça. O balde caiu no chão e o leite todo espalhou-se. A leiteira voltou com o balde vazio.

Não se deve contar hoje com o lucros de amanhã!

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O CERVO E O LEÃO

Num belo dia de verão, um cervo chegou até junto a um regato, para beber. Quando inclinou a cabeça, viu na água a própria imagem e exclamou, orgulhoso:

- Oh, como eu sou bonito e que bonitos são meus chifres!

Aproximou-se mais e viu o reflexo das próprias pernas dentro da água:

- Mas como são finas as minhas pernas . . . - observou com tristeza.

Nesse momento surgiu um leão que saltou sobre o cervo.

O cervo disparou pela campina, com tanta velocidade que o leão não podia pegá-lo. Aí, o cervo entrou por dentro da floresta e logo os seus chifres se embaraçaram nos galhos das árvores. Em poucos instantes o leão saltava sobre o prisioneiro.

- Ai de mim! - gemeu o cervo. - Senti orgulho de meus chifres e desprezei minhas pernas . . . no entanto, estas me salvariam e estes causaram minha perda . . .

"Muitas vezes desdenhamos do que temos de melhor."

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O CORVO E O JARRO

Um corvo morria de sede e se aproximou de um jarro, que uma vez vira cheio d'água. Mas, desapontado, verificou que a água estava tão baixa que ele não podia alcançá-la com o bico. Tentou derramar o jarro mas era impossível: o jarro era pesado demais.

De repente, viu ali perto um monte de bolas de gude. Apanhou com o bico uma das bolas e jogou dentro do jarro. Depois outra. E outra mais. E outra. E a cada bola que jogava, a água subia. Jogou tantas bolas dentro do jarro que a água subiu-lhe até o gargalo. E o corvo pode beber.

Onde a força falha, a inteligência vence.

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O PESCADOR E O PEIXE


Um pescador estava pescando e, depois de horas de pescaria, conseguiu apanhar um peixe muito pequeno. O peixinho lhe disse:

- Poupe minha vida e jogue-me de novo no mar. Dentro de pouco tempo, estarei crescido e você poderá pescar um peixe grande!

O pescador respondeu:

- Eu seria um tolo se te soltasse por uma pescaria incerta . . .

Mais vale a certeza de hoje do que a incerteza de amanhã.

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O CONSELHO DOS CAMUNDONGOS

Um dia os camundongos se reuniram para decidir a melhor maneira de lutar contra o inimigo comum, o gato. Discutiram horas seguidas, sem encontrar um bom plano.

Afinal, um ratinho pediu a palavra e falou:

- Sabemos que o grande perigo é quando o gato se aproxima tão mansamente que não percebemos sua presença. Proponho que se coloque um guizo no pescoço do gato. raças ao barulho do guizo, saberemos da aproximação do gato, e teremos tempo para fugir.

Todos aplaudiram a idéia brilhante. Mas um ratinho mais experimentado pediu também a palavra e disse:

- A idéia é muito boa. Mas que vai pendurar o guizo no pescoço do gato?

É mais fácil falar do que fazer.
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O GALO E A JÓIA

Um galo estava ciscando no terreiro e, no meio da suja poeira, encontrou uma jóia.

- Ah - disse, triste, o galo - como ficaria feliz o meu dono se encontrasse esta jóia! Para mim, porém, ela é completamente inútil; eu preferiria ter achado um sabugo de milho...

O que para uns tem valor, para outros nada vale.

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O PASTORZINHO E O LOBO

Todos os dias, um jovem pastor levava um rebanho de ovelhas às montanhas perto da aldeia. Um dia, por brincadeira, ele correu de lá de cima gritando:

- Um lobo! Um lobo!

O Habitantes da aldeia trataram de apanhar pedaços de pau para caçar o lobo. E encontraram o pastorzinho às gargalhadas, dizendo:

- Eu só queria brincar com vocês!

E, vendo que a brincadeira realmente assustava os aldeões, gritou no dia seguinte:

- Um lobo!

E novamente os moradores da aldeia trataram de apanhar suas armas de madeira.

Tantas vezes o fez que a gente da aldeia não prestava mais atenção aos seus gritos. Mais uns dias e ele volta a gritar:

- Um lobo! Um lobo! Socorram-me!

Um dos homens disse aos outros:

- Já não acredito. Ele não nos engana mais.

E era de fato um lobo, que dizimou todo o rebanho do pastorzinho.

Ninguém acredita num mentiroso, mesmo quando ele diz a verdade.

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A LEBRE E A TARTARUGA

A lebre, muito gabola, vivia contando para todos que era o animal mais veloz do mundo. Por isso gostava da apostar corridas.

Dona Lebre já tinha nas corridas um casaco de peles da onça malhada e um pote de mel do amigo urso.

- Olhem só! Outro dia fiz uma corrida com o Sol e ganhei fácil. Ele até se escondeu, todo envergonhado, atrás de uma nuvem - disse a lebre.

- Corto minhas orelhas se alguém ganhar de mim. Desafio todos os animais da floresta - disse novamente a lebre.

A tartaruga, muito calma, aceito o desafio:

- Aceito e darei a você a minha casa se eu perder.

O corredores dariam a volta ao redor da Floresta Encantada, voltando ao ponto de partida.

Partiram. A lebre correu como o vento e a tartaruga saiu lentamente.

Depois de algum tempo a lebre olhou para trás e, vendo que a tartaruga estava muito longe, resolveu tirar uma soneca.

Roncou... Roncou... Roncou...

A tartaruga muito lentamente passou e ganhou a corrida.

Dizem que até hoje Dona Lebre corre muito porque tem medo de que a tartaruga corte suas orelhas.

Paciência vale mais do que pressa.

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AS LEBRES E AS RÃS

As lebres, animais tímidos por natureza, se sentiam oprimidas por causa da sua excessiva timidez, e cansadas de viverem em constante alerta, temendo a tudo e a todos, o tempo todo.

Em comum acordo resolveram por fim as suas vidas e a todos os seus problemas, saltando do alto de um penhasco, para as águas profundas de um lago abaixo.

Assim que elas correram, todas de uma só vez, para colocar em prática sua decisão, as Rãs que repousavam nas margens do lago escutaram o barulho dos seus pés, e desesperadas e tomadas de pânico, fugiram para o fundo da água em busca de segurança.

Ao ver o desespero das ãs em fuga, uma das ebres, rogou aos seus companheiros:

- Fiquem meus amigos, não façam isso que estão pretendendo, vimos agora que existem criaturas que vivem mais aterrorizadas que nós.

É uma grande ilusão e egoísmo, acharmos que nossos problemas são os maiores do mundo e que, apenas nós os temos.

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A CIGARRA E A FORMIGA

A cigarra é uma grande cantora e passou o verão todo cantando lindas canções no alto de uma árvore.

Ficava o dia inteiro cantando e olhando as formigas trabalharem sem parar.

O verão passou. O inverno chegou.

A cigarra, com frio, fome e tossindo muito, um dia bateu na porta da casa da formiga.

A formiga olhou por uma fresta e perguntou:

- Quem é você? Por que está tão suja e gripada?

-E u sou a cigarra que mora no alto da árvore, cantei o verão todinho e agora não tenho comida nem casa para me abrigar do vento e do frio.

- Ah, cantava? Pois agora dance!

A cigarra ia saindo entristecida, quando a formiga chamou.

- Puxa vida! Então era você que ficava alegrando nossas vidas enquanto trabalhávamos? - disse a formiga.

- Sim, era eu mesma - disse chorando, a cigarra.

- Então está bem, fique morando aqui até o tempo ficar bom.

A cigarra sarou e continuou a cantar, alegrando a vida de toda a bicharada da floresta.

Deve-se prever sempre o dia de amanhã.

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A OSTRA E O CARANGUEJO

Uma ostra estava apaixonada pela lua.

Quando seu grande disco de prata aparecia no céu, ela passava horas a fio, com as conchas abertas, olhando para ela.

Certo dia um caranguejo percebeu que a ostra se abria durante a lua cheia e pensou em comê-la. A noite seguinte, quando a ostra se abriu, o malvado caranguejo jogou uma pedra dentro dela.

Nesse momento, a ostra tentou se fechar, mas a pedra a impediu.

Então o astuto caranguejo saiu de seu esconderijo, abriu suas pinças afiadas e quase comeu a ostra inocente, se não fosse um tubarão que apareceu das profundezas para assustá-lo.

Pois é exatamente isso o que acontece com quem abre muito a boca para divulgar seus segredos. Sempre existe algum ouvido querendo se apoderar deles.

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Literatura Infantil


Literatura Infantil
Conceitos importantes
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Como situar a literatura infantil no quadro conceitural dos gêneros literários? Segundo a classificação proposta por Nelly N. Coelho (2000) temos:

• Gêneros (formas geradoras): poesia, ficção e teatro.

Gênero é a expressão estética de determinada experiência humana de caráter universal: a vivência lírica (o eu mergulhado em suas próprias emoções), cuja expressão essencial é a poesia; a vivência épica (o eu em relação com o outro, com o mundo social), cuja expressão é a prosa, a ficção; e a vivência dramática, cuja expressão básica é o diálogo, a representação, isto é, o teatro.

• Subgêneros (formas básicas):

a) Elegia, soneto, ode, hino, madrigal, etc. (poesia)
b) Conto, romance, novela, literatura infantil (ficção)
c) Farsa, tragédia, ópera, comédia, etc. (teatro)

As formas básicas de ficção diversificam-se em categorias (dependendo da natureza do tema da matéria ficcional): ficção científica, romance policial, novela de aventuras, romance de amor, narrativa satírica, paródia, biografia, romance histórico, etc.


De acordo com essa classificação, a literatura infantil pertence ao gênero ficção, o qual abrange toda e qualquer prosa narrativa literária. A literatura infantil ocupa um lugar específico no âmbito do gênero ficção, pois se destina a um leitor especial, em formação, passando pelo processo de aprendizagem inicial da vida. Daí o caráter pedagógico (conscientizador) que, de maneira latente ou patente, é inerente à sua matéria. E também, ou acima de tudo, a necessidade de ênfase em seu caráter lúdico.

Há formas narrativas que vêm, desde a origem dos tempos, que podem ser consideradas como pertencentes ao gênero da ficção, definidas como FORMAS SIMPLES: fábula, apólogo, parábola, alegoria, mito, lenda, saga, conto maravilhoso, conto de fada, conto exemplar, conto jocoso, etc.

Formas simples são narrativas que há séculos surgiram anonimamente e passaram a circular entre os povos da Antiguidade, transformando-se com o tempo no que hoje conhecemos como tradição popular. Pela simplicidade e autenticidade que singularizam essas narrativas, quase todas elas acabaram assimiladas pela literatura infantil, via tradição popular:

a) Fábula: é a narrativa de uma situação vivida por animais que alude a uma situação humana e tem por objetivo transmitir certa moralidade. Foi a primeira espécie de narrativa a aparecer. Nascida no Oriente, a fábula foi reinventada no Ocidente pelo grego Esopo (séc. VI a.C.) e aperfeiçoada pelo escravo romano Fedro (séc. I a.C.), que a enriqueceu estilisticamente. No séc. XVI foi descoberta e reiventada por Leonardo da Vinci. No séc. XVII, La Fontaine reinventou a fábula introduzindo-a definitivamente na literatura ocidental (sua primeira coletânea de fábulas data de 1668).

b) Apólogo: é a narrativa breve de uma situação vivida por seres inanimados (objetos ou elementos da natureza), que adquirem vida e que aludem a uma situação exemplar para os homens. Os personagens não são símbolos como acontece com as personagens da fábula. Ex.: O Sol e o Vento.

c) Parábola: é a narrativa breve de uma situação vivida por seres humanos (ou por humanos e animais), da qual se deduz, por comparação, um ensinamento moral ou espiritual.

d) Alegoria: é uma narrativa (em prosa ou em verso) que expressa uma ideia através de uma imagem. Há presença de entes sobrenaturais, mitológicos ou lendários.

e) Mito: é uma narrativa antiga que nos fala de deuses, duendes, heróis fabulosos ou de situações em que o sobrenatural domina. Os mitos estão ligados a fenômenos inaugurais: a genealogia dos deuses, a criação do mundo e do homem, a explicação mágica das forças da natureza, etc.

f) Lenda: É uma forma narrativa antiquíssima, geralmente breve (em verso ou prosa), cujo argumento é tirado da tradição. É o relato de acontecimento em que o maravilhoso e o imaginário superam o histórico e o verdadeiro. É transmitida e conservada pela tradição oral. A lenda conserva quatro características do conto popular: antiguidade, persistência, anonimato e oralidade (C. Cascudo). Nosso folclore é rico em lendas como a da Mãe d’Água, da Cobra Grande, Mula-sem-cabeça, Boto, Curupira, etc.

g) Conto Maravilhoso: a forma tem raízes em narrativas orientais, difundidas pelos árabes (como em As Mil e Uma Noites). O núcleo de aventuras é sempre de natureza material/social/sensorial (a busca de riquezas; a satisfação do corpo; a conquista de poder, etc). Exs.: Aladim e a Lâmpada Maravilhosa; Os Músicos de Bremen; O Gato de Botas.

h) Conto de Fada: é de natureza espiritual/ética/existencial. Originou-se entre os celtas, com heróis e heroínas, cujas aventuras estavam ligadas ao sobrenatural, ao mistério do além-vida, visando a realização interior do ser humano. A fada (do latim fatum = destino) pertence à área dos mitos, encarna a possível realização dos sonhos ou ideais inerentes à condição humana.

i) Conto exemplar: é conto de moralidades, que se contava “ao pé do fogo” nos logos serões do inverno europeu. Os exemplos ensinam a Moral sensível e popular, facilmente perceptível no enredo, de fácil fabulação.”

j) Conto jocoso: se originou dos fabliaux (narrativas alegres e por vezes obscenas que circularam com grande sucesso na França medieval e daí para as demais nações). São narrativas breves e centradas no cotidiano. Aproximam-se do que chamamos de “anedota”, porém tinham uma intencionalidade crítica mais aguda.

k) Conto religioso: narram castigos ou prêmios pela mão de Deus ou dos santos, segundo C. Cascudo.

l) Conto etiológico: “foi sugerido e inventado para explicar e dar a razão de ser de um aspecto, propriedade, caráter de qualquer ente natural. Assim há contos para explicar o pescoço longo da girafa, o porquê da cauda dos macacos.” (C. Cascudo)

m) Conto acumulativo: é uma história encadeada, popular e divertida. Pode também se apresentar como um desafio à articulação da fala (trava-línguas).

Dessa narrativa primordial (anônima, sabedoria popular, recolhida por diferentes autores), passando porHans Christian Andersen (representante do ideário romântico-cristão), temos o que chamamos deliteratura infantil clássica. As centenas de contos de Andersen (extraídos do folclore dinamarquês ou inventados por ele) são exemplares da orientação ético-religiosa.

Devido à inexistência da literatura específica para a infância e juventude, começaram a surgir adaptações de romances famosos, que encantavam adultos e os menores. Durante os séculos XVIII e XIX, sinultaneamente à divulgação das coletâneas de Perrault, La Fontaine, Grimm e outras bem populares, surgem livros cultos(não populares) que eram destinados aos adultos, mas acabaram por se transformar em leitura para crianças e jovens. Exemplos: Aventuras de Robinson Crusoé (1719), Vinte Mil Léguas Submarinas (1870),Os Três Mosqueteiros (1844), A Volta ao Mundo em 80 Dias (1873), etc. Obras escritas para crianças: Os Novos Contos de Fadas (1856), Alice no País das Maravilhas (1962), Aventuras de Pinóquio (1881), etc. Todas expressando o estilo racionalista/romântico (preocupa-se com o realismo).

Aqui no Brasil, foi Monteiro Lobato quem abriu caminho para que as inovações que começavam acontecer na literatura "adulta" (com o Modernismo) atingissem também a infantil. Um dos grandes achados de Lobato foi mostrar o maravilhoso como possível de ser vivido por qualquer um, misturando o imaginário com o cotidiano. Sua obra A Menina do Narizinho Arrebitado aparece em 1920, trazendo seus traços marcantes: fluente, coloquial, objetiva, despojada e sem retóricas, agarrando de imediato o pequeno leitor, principalmente pelo humor.

Após a fase inovadora pós-lobatiana, a partir dos anos 60/70, houve uma multiplicidade de caminhos, tendências, estilos que se cruzam na enorme produção literária infantil/juvenil.

"O que define hoje a contemporaneidade de uma literatura é sua intenção de estimular a consciência crítica do leitor; levá-lo a desenvolver sua própria expressividade verbal ou sua criatividade latente; dinamizar sua capacidade de observação e reflexão em face do mundo que o rodeia; e torná-lo consciente da complexa realidade em transformação que é a sociedade, em que ele deve atuar quando chegar a sua vez de participar ativamente do processo em curso." Nelly N. Coelho (2000)

As tendências (ou linhas) da literatura infantil/juvenil contemporânea são:
a) Linha do Realismo cotidiano (desdobrada em Realismo crítico, Realismo lúdico, Realismo humanitário, Realismo histórico ou memorialista, e Realismo mágico);
b) Linha do Maravilhoso (desdobrada em: Maravilhoso metafórico, Maravilhoso satírico, Maravilhoso popular ou folclórico, Maravilhoso fabular, e Maravilhoso Científico);
c) Linha do Enigma ou Intriga Policialesca;
d) Linha da Narrativa por Imagens;
e) Linha dos Jogos Linguísticos.

Referência bibliográfica: Coelho, Nelly Novaes. Literatura Infantil: teoria, análise, didática. São Paulo: Moderna, 2000.

Organização Ivanise Meyer®

Trava-línguas


Trava-línguas
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Trata-se de uma modalidade de parlenda.
É uma arrumação de palavras sem acompanhamento de melodia, mas às vezes rimada, obedecendo a um ritmo que a própria metrificação lhe empresta. A finalidade é entreter a criança, ensinando-lhe algo. No interior, aí pela noitinha, naquela hora conhecida como “boca da noite”, as mulheres costumam brincar com seus filhos ensinando-lhes parlendas, brinquedos e trava-línguas. Uma das mais comuns é a elas ensinam aos filhos apontando-lhes os dedinhos da mão: – "Mindinho, seu vizinho, pai de todos, fura bolo e mata piolho".

Cascudo (Literatura Oral no Brasil , 1984 ) incluiu o trava-língua nos contos acumulativos, seguindo a classificação de Antti Aarne / Stith Thompson, com o que não concorda Almeida (Manual de coleta folclórica , 1965) , dizendo que os trava-línguas muitas vezes não são estórias , mas jogos de palavras difíceis de serem pronunciadas. São antes brincadeiras.

Todos os trava-línguas são propostos por fórmulas tradicionais, como : ''fale bem depressa ''; ''repita três vezes '' ; ''diga correndo '', e similares. O importante no trava-língua é que ele deve ser repetido de cor, várias vezes seguidas e tão depressa quanto possível . Lido, e devagar, perde a graça e a finalidade.
Fonte: http://www.qdivertido.com.br

Alguns para você decorar e brincar:

O peito do pé do pai do padre Pedro é preto.

A babá boba bebeu o leite do bebê.

O dedo do Dudu é duro.

A rua de paralelepípedo é toda paralelepipedada.

Quem a paca cara compra, cara a paca pagará

O Papa papa o papo do pato.

Farofa feita com muita farinha fofa faz uma fofoca feia.

Norma nina o nenê da Neuza.

A chave do chefe Chaves está no chaveiro.

Sabia que a mãe do sabiá sabia que sabiá sabia assobiar?

Um limão, dois limões, meio limão .

É muito socó para um socó só coçar!

Nunca vi um doce tão doce como este doce de batata-doce!

Chega de cheiro de cera suja.

É preto o prato do pato preto.

Bagre branco; branco bagre.

Um tigre, dois tigres, três tigres.

Três tristes tigres trigo comiam.

Luzia listra os lustres listrados.

Debaixo da cama tem uma jarra.
Dentro da jarra tem uma aranha.
Tanto a aranha arranha a jarra,
Como a jarra arranha a aranha.
O caju do Juca
E a jaca do cajá.
O jacá da Juju
E o caju do Cacá.
Atrás da pia tem um prato
Um pinto e um gato
Pinga a pia, apara o prato
Pia o pinto e mia o gato.
Olha o sapo dentro do saco
O saco com o sapo dentro
O sapo batendo papo
E o papo soltando vento.
Num ninho de mafagafos,
sete mafagafinhos há.
Quem melhor desmagafar,
bom desmagafagador será.
O tempo perguntou ao tempo,
Quanto tempo o tempo tem,
O tempo respondeu ao tempo,
Que não tinha tempo,
De ver quanto tempo,
O tempo tem.
O seu Tatá tá?
Não, o seu Tatá não tá,
Mas a mulher do seu Tatá tá.
E quando a mulher do seu Tatá tá,
É a mesma coisa que o seu Tatá tá,tá?
O rato roeu a roupa,
Do rei de Roma.
e a rainha, de raiva,
roeu o resto.
Gato escondido
com rabo de fora
tá mais escondido
que rabo escondido
com gato de fora.
Essa casa está ladrilhada.
Quem a desenladrilhará?
O desenladrilhador que a desenladrilhar,
Bom desenladrilhador será!

Organizado por Ivanise Meyer®

Parlendas

Parlendas
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Amanhã é domingo, pé de cachimbo.
O cachimbo é de ouro, bate no touro.
O touro é valente, bate na gente.
A gente é fraco, cai no buraco.
O buraco é fundo, acabou-se o mundo.
O Papagaio come milho.
periquito leva a fama.
Cantam uns e choram outros
Triste sina de quem ama.
Um, dois, feijão com arroz,
Três, quatro, feijão no prato,
Cinco, seis, falar inglês,
Sete, oito, comer biscoito,
Nove, dez, comer pastéis.
Eu sou pequena,
Da perna grossa,
Vestido curto,
Papai não gosta
Por detrás daquele morro,
Passa boi, passa boiada,
Também passa moreninha,
De cabelo cacheado
Tropeiro fala de burro,
Vaqueiro fala de boi,
Jovem fala de namorada,
Velho fala que foi.
Era uma bruxa
À meia-noite
Em um castelo mal-assombrado
com uma faca na mão
Passando manteiga no pão
A sempre-viva quando nasce,
toma conta do jardim
Eu também quero arranjar
Quem tome conta de mim 
Palma, palminha,
Palminha de Guiné
Pra quando papai vié,
Mamãe dá a papinha,
Vovó bate cipó,
Na bundinha do nenê.
Cala a boca!
Cala a boca já morreu
Quem manda em você sou eu!
Enganei um bobo
Na casca do ovo!
Uni, duni, tê,
Salamê, minguê,
Um sorvete colorê,
O escolhido foi você!
Quem cochicha,
O rabo espicha,
Come pão
Com lagartixa
Rei, capitão,
Soldado, ladrão.
Moça bonita
Do meu coração
Fui à feira comprar uva.
Encontrei uma coruja,
Pisei no rabo dela.
Ela me chamou de cara suja
Dedo mindinho,
Seu vizinho,
Pai de todos,
Fura bolo,
Mata piolho..
Batatinha quando nasce
se esparrama pelo chão.
Menininha quando dorme
põe a mão no coração.
Chuva e sol, casamento
de espanhol.
Sol e chuva, casamento
de viúva.
Meio dia,
Panela no fogo,
Barriga vazia.
Macaco torrado,
Que vem da Bahia,
Fazendo careta,
Pra dona Sofia.
No portão do cemitério,
Tério, tério, tério,
Duas almas se encontraram,
Traram, traram, traram.
Uma disse para a outra,
Outra, outra, outra,
Você é uma vagabunda,
Bunda, bunda, bunda,
Mas que falta de respeito,
Peito, peito, peito
Mas que peito cabeludo,
Ludo, ludo, ludo...
Entrou pela perna do pato,
Saiu pela perna do pinto.
O rei mandou dizer
Que quem quiser
Que conte cinco:
Um, dois, três, quatro, cinco.
Lá em cima do piano
tem um copo de veneno
Quem bebeu, morreu
O azar foi seu.
Salada, saladinha
Bem temperadinha
Com sal, pimenta
Um, dois, três.
Cadê o toucinho que estava aqui?
O Gato comeu
Cadê o gato?
No mato
Cade o mato?
O fogo queimou
Cadê o fogo?
A água apagou
Cadê a água?
O Boi bebeu
Cadê o boi?
Amassando o trigo
Cadê o trigo?
A galinha espalhou
Cadê a galinha?
Botando ovo
Cadê o ovo?
O padre bebeu
Cadê o padre?
Rezando missa
Cadê a missa?
Tá na capela
Cadê a Capela?
Tá aqui...
Corre, Cutia,
Na casa da Tia
Corre Cipó
Na casa da Avó
Lencinho na mão
caiu no chão
Moça bonita
Do meu coraão
Um, dois, três.
O macaco foi à feira
Não sabia o que comprar
Comprou uma cadeira
Pra comadre se sentar
A comadre se sentou
A cadeira escorregou
coitada da comadre
foi parar no corredor.

Batatinha quando nasce,
Se esparrama pelo chão,
Mamãezinha quando dorme,
Põe a mão no coração. (variação regional)

Em tempo,
uma visitante deixou uma contribuição sobre a parlenda da Batatinha.
Provavelmente, a versão acima, pesquisada de outras fontes, é uma variação regional:

"Batatinha quando nasce
espalha ramas pelo chão. 
Menininha quando dorme
põe a mão no coração."
Organizado por Ivanise Meyer®

Parlendas

Parlendas e trava-línguas
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Parlenda (do verbo parlar) ou trava-línguas, é uma forma literária tradicional, rimada com caráter infantil, de ritmo fácil e de forma rápida. Usada, em muitas ocasiões, para brincadeiras populares. Normalmente é uma arrumação de palavras sem acompanhamento de melodia, mas às vezes rimada, obedecendo a um ritmo que a própria metrificação lhe empresta. A finalidade é entreter a criança, ensinando-lhe algo.

Em algumas vezes, é chamada de trava-línguas, quando é repetida de forma rápida ou várias vezes seguidas, provocando um problema de dicção ou paralisia da língua, que diverte os ouvintes. Assim, pede-se a alguém que repita uma parlenda, em prosa ou verso, de forma rápida - "fale bem depressa" - "diga correndo" - ou que a repita várias vezes seguidas - "repita três vezes".

As parlendas não são cantadas e, sim, declamadas em forma de texto, estabelecendo-se como base a acentuação verbal.

Uso do trava-línguas na escola

Os trava-línguas fazem parte das manifestações orais da cultura popular, são elementos do nosso folclore, como as lendas, os acalantos, as parlendas, as adivinhas e os contos. O que faz as crianças repeti-los é o desafio de reproduzi-los sem errar. Entra aqui também a questão do ritmo, pois elas começam a perceber que, quanto mais rápido tentam dizer, maior é a chance de não concluir o trava-línguas. Esse tipo de poema pode ser um bom recurso para trabalhar a leitura oral, com o cuidado de não expor alunos com mais dificuldades. É nessa leitura que melhor se observa o efeito do trava-línguas e, dependendo da atividade, passa a ser uma brincadeira que agrada sempre. Os trava-línguas podem ainda ser escritos para criar uma coletânea de elementos do folclore e pesquisados em diferentes fontes: livros, sites na internet ou revistas de passatempos.

Os portugueses denominam as parlendas: cantilenas ou lengalengas. Na literatura oral é um dos entendimentos iniciais para a criança e uma das fórmulas verbais que ficam, indeléveis, na memória adulta.

Para mais sobre o assunto, conferir:
HEYLEN, Jacqueline. Parlenda, riqueza folclórica; base para a educação e iniciação à música. 2ª ed. São Paulo, Editora HUCITEC, 1991.

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