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sábado, 13 de dezembro de 2014


 A maçã envenenada da Branca de Neve é tentadoramente vermelha. Como cheira o pão quentinho da Galinha Ruiva! Que medo deve sentir o ratinho entre as garras do leão. O vestido de Cinderela brilha como as estrelas... Histórias não são feitas apenas de palavras: têm peso, cor, sabor, têm detalhes que não cabem nos limites do texto, mas são tão importantes quanto as narrativas que vêm se repetindo há séculos..
Histórias são pontes; são laços entre o narrador e o ouvinte, entre o real e o imaginário, entre o passado, o presente e o futuro; são elos que se constroem e reconstroem entre seres humanos, em um processo sem fim.................
Partir desse princípio não é apenas uma forma poética de realçar a importância das narrativas fantásticas, das fábulas e de todas as histórias que povoam o universo infantil. No projeto “Quem conta, reconta... faz de conta”, que começa agora, queremos recuperar um olhar que se perdeu ao longo do tempo...

Normalmente, quando os adultos leem as fábulas ou mesmo quando tentam interpretá-las, sobressaem os aspectos “pedagógicos” que estão na origem dessas narrativas.
Quando não existiam escolas, imprensa, quando os livros eram copiados à mão e o mundo era ainda um enorme continente inexplorado, essas histórias representavam um caminho para a educação de valores, posturas de vida, costumes.
Esse é um dos motivos pelo qual as fábulas são maniqueístas e moralistas. Falam do bem e do mal, do certo e do errado, do justo e do injusto, da união e da desunião, do medo e da coragem. Tanto que não eram dirigidas às crianças, mas especialmente aos adultos – daí o tom até assustador que assumem nas versões originais.
Mas faz sentido, nos tempos de hoje, tratar as histórias de fadas como se fazia na Idade Média. Não é esse mundo cheio de certos e errados que magnetiza as crianças (e os adultos). É, sim, a sua riqueza imaginativa, a sua base de sonhos e de possibilidades que levam os humanos para muito além de seu cotidiano. Quem não queria possuir uma bota de sete léguas, ou encontrar príncipes encantados; quem não queria ter uma varinha de condão?
As histórias são catalisadores da imaginação sem fronteiras que caracteriza a infância. Este, sim, é o caminho a ser explorado em um projeto pedagógico afinado com o século XXI.
Em um mundo marcado pelo lazer passivo da televisão, pela imobilidade dos apartamentos, pelas ruas apinhadas de carros, as histórias de fadas são um passaporte livre para o mundo da criança e para todos os processos formativos típicos da idade – a formação da personalidade, a construção de regras e valores, o desenvolvimento cognitivo, motor e socioemocional.
É aqui que entra a Escola.
Nosso papel não é inventar histórias, não é instrumentalizá-las como itens do currículo, nem tornar obrigatório um prazer tão natural. Ao contrário, nosso papel é mergulhar no fundo da fantasia, junto com as crianças, construindo permanentemente paralelos com a vida de cada um.
Voltamos ao começo deste texto. As histórias têm cheiros, cores, sabores, densidades. As histórias não são apenas processos mentais de intelecção, mas uma fábrica de sentidos e experiências.
Vamos forçar um pouco a memória: quem de nós nunca quis saber o que ia dentro da cesta de Chapeuzinho Vermelho? Pois então, vamos para a cozinha preparar esses quitutes. Que tal passear na fazenda da Galinha Ruiva? Cada momento, cada detalhe ganha uma leitura especial e diferenciada. Ou melhor, a cada leitura, a história, como um prisma, ganha novas cores. Quem conta, reconta... faz de conta.
O que as crianças aprenderão? Não há limites. Cada narrativa leva a mundos diferentes, embora tenham um substrato comum. Daí a construção de mapas conceituais para cada um dos 32 contos escolhidos.
Em cada um dos projetos, serão desenvolvidas ações pedagógicas em áreas como:
– atividades de Música e Educação Física, vivências apresentadas nos jogos dramáticos, que levarão os alunos a criar situações imaginárias e encenações representativas;
– a exploração de todas as dimensões artísticas;
– o aprendizado e o exercício da língua oral e escrita, conforme a faixa etária;
– a compreensão de conceitos nas áreas de Ciências e Matemática, entre outras aprendizagens;
– o uso de diversos recursos. Alguns dos contos apresentados favorecerão, também, o acesso a computadores e outros recursos tecnológicos;
– o trabalho com a linguagem e a comunicação. Os alunos possivelmente irão se familiarizar com livros, filmes e situações que requerem o uso da linguagem oral e escrita;
– atividades de exploração sensorial, todo o tempo.
Vivendo as histórias, convivendo com os personagens e suas aventuras, seus sentimentos, as crianças serão convidadas para um aprendizado prazeroso e significativo.
As histórias – como as selecionadas para o projeto – trazem saberes e experiências acumuladas por várias gerações. Oferecem exemplos de modelos e papéis que, desde a infância, facilitam nossa relação com o mundo. Levam-nos a experimentar as emoções, a “treinar” posturas, a nos identificar com personagens e situações, a sonhar coisas melhores do que temos e a perceber que tudo também poderia ser pior.
Contos de fadas, histórias de bichos e fábulas são uma porta de entrada para o mundo da fantasia, e, como podem ver, também uma porta de saída para a vida real.
Por Myriam Tricate

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