Páginas

terça-feira, 30 de maio de 2017

GRAFISMO INFANTIL UM DESAFIO!

ENTENDENDO O DESENHO INFANTIL!!


Autora: Thereza Bordoni
Os primeiros estudos sobre a produção gráfica das crianças datam do final do século passado e estão fundados nas concepções psicológicas e estéticas de então. É a psicologia genética, inspirada pelo evolucionismo e pelo princípio do paralelismo da filogênese com a ontogênese que impõe o estudo científico do desenvolvimento mental da criança (Rioux, 1951).
As concepções de arte que permearam os primeiros estudos estavam calcadas em uma produção estética idealista e naturalista de representação da realidade. Sendo a habilidade técnica, portanto, uma fator prioritário. Foram poucos os pesquisadores que se ocuparam dos aspectos estéticos dos desenhos infantis.
Luquet (1927 - França) fala dos 'erros' e 'imperfeições' do desenho da criança que atribui a 'inabilidade' e 'falta de atenção', além de afirmar que existe uma tendência natural e voluntária da criança para o realismo.
Sully vê o desenho da criança como uma 'arte embrionária' onde não se deve entrever nenhum senso verdadeiramente artístico, porém, ele reconhece que a produção da criança contém um lado original e sugestivo. Sully afirma ainda que as crianças são mais simbolistas do que realistas em seus desenhos (Rioux, 1951).
São os psicólogos portanto, que no final do século XIX descobrem a originalidade dos desenhos infantis e publicam as primeiras 'notas' e 'observações' sobre o assunto. De certa forma eles transpõem para o domínio do grafismo a descoberta fundamental de Jean Jacques Rousseau sobre a maneira própria de ver e de pensar da criança.
As concepções relativas a infância modificaram-se progressivamente. A descoberta de leis próprias da psique infantil, a demonstração da originalidade de seu desenvolvimento, levaram a admitir a especificidade desse universo.
A maneira de encarar o desenho infantil evolui paralelamente.
Modo de expressão próprio da criança, o desenho constitui uma língua que possui vocabulário e sua sintaxe. Percebe-se que a criança faz uma relação próxima do desenho e a percepção pelo adulto. Ao prazer do gesto associa-se o prazer da inscrição, a satisfação de deixar a sua marca. Os primeiros rabiscos são quase sempre efetuados sobre livros e folhas aparentemente estimados pelo adulto, possessão simbólica do universo adulto tão estimado pela criança pequena.
Ao final do seu primeiro ano de vida, a criança já é capaz de manter ritmos regulares e produzir seus primeiros traços gráficos, fase conhecida como dos rabiscos ou garatujas ( termo utilizado por Viktor Lowenfeld para nomear os rabiscos produzidos pela criança).
O desenvolvimento progressivo do desenho implica mudanças significativas que, no início, dizem respeito à passagem dos rabiscos iniciais da garatuja para construções cada vez mais ordenadas, fazendo surgir os primeiros símbolos Essa passagem é possível graças às interações da criança com o ato de desenhar e com desenhos de outras pessoas. Na garatuja, a criança tem como hipótese que o desenho é simplesmente uma ação sobre uma superfície, e ela sente prazer ao constatar os efeitos visuais que essa ação produziu. No decorrer do tempo, as garatujas, que refletiam sobretudo o prolongamento de movimentos rítmicos de ir e vir, transformam-se em formas definidas que apresentam maior ordenação, e podem estar se referindo a objetos naturais, objetos imaginários ou mesmo a outros desenhos. Na evolução da garatuja para o desenho de formas mais estruturadas, a criança desenvolve a intenção de elaborar imagens no fazer artístico. Começando com símbolos muito simples, ela passa a articulá-los no espaço bidimensional do papel, na areia, na parede ou em qualquer outra superfície. Passa também a constatar a regularidade nos desenhos presentes no meio ambiente e nos trabalhos aos quais ela tem acesso, incorporando esse conhecimento em suas próprias produções. No início, a criança trabalha sobre a hipótese de que o desenho serve para imprimir tudo o que ela sabe sobre o mundo. No decorrer da simbolização, a criança incorpora progressivamente regularidades ou códigos de representação das imagens do entorno, passando a considerar a hipótese de que o desenho serve para imprimir o que se vê.
É assim que, por meio do desenho, a criança cria e recria individualmente formas expressivas, integrando percepção, imaginação, reflexão e sensibilidade, que podem então ser apropriadas pelas leituras simbólicas de outras crianças e adultos.
O desenho está também intimamente ligado com o desenvolvimento da escrita. Parte atraente do universo adulto, dotada de prestigio por ser "secreta", a escrita exerce uma verdadeira fascinação sobre a criança, e isso bem antes de ela própria poder traçar verdadeiros signos. Muito cedo ela tenta imitar a escrita dos adultos. Porém, mais tarde, quando ingressa na escola verifica-se uma diminuição da produção gráfica, já que a escrita ( considerada mais importante) passa a ser concorrente do desenho.
O desenho como possibilidade de brincar, o desenho como possibilidade de falar de registrar, marca o desenvolvimento da infância, porém em cada estágio, o desenho assume um caráter próprio. Estes estágios definem maneiras de desenhar que são bastante similares em todas as crianças, apesar das diferenças individuais de temperamento e sensibilidade. Esta maneira de desenhar própria de cada idade varia, inclusive, muito pouco de cultura para cultura.

 

Luquet Distingue Quatro Estágios:


1- Realismo fortuito: começa por volta dos 2 anos e põe fim ao período chamado rabisco. A criança que começou por traçar signos sem desejo de representação descobre por acaso uma analogia com um objeto e passa a nomear seu desenho. 

2- Realismo fracassado: Geralmente entre 3 e 4 anos tendo descoberto a identidade forma-objeto, a criança procura reproduzir esta forma.



3- Realismo intelectual: estendendo-se dos 4 aos 10-12 anos, caracteriza-se pelo fato que a criança desenha do objeto não aquilo que vê, mas aquilo que sabe. Nesta fase ela mistura diversos pontos de vista ( perspectivas ).

4- Realismo visual: É geralmente por volta dos 12 anos, marcado pela descoberta da perspectiva e a submissa às suas leis, daí um empobrecimento, um enxugamento progressivo do grafismo que tende a se juntar as produções adultas.


Marthe Berson distingue três estágios do rabisco:

1 - Estágio vegetativo motor: por volta dos 18 meses, o traçado e mais ou menos arredondado, conexo ou alongado e o lápis não sai da folha formando turbilhões.

2 - Estágio representativo: entre dois e 3 anos, caracteriza-se pelo aparecimento de formas isoladas, a criança passa do traço continuo para o traço descontinuo, pode haver comentário verbal do desenho.

3 - Estágio comunicativo: começa entre 3 e 4 anos, se traduz por uma vontade de escrever e de comunicar-se com outros. Traçado em forma de dentes de serra, que procura reproduzir a escrita dos adultos.

Em Uma Análise Piagetiana, temos:

1 - Garatuja: Faz parte da fase sensório motora ( 0 a 2 anos) e parte da fase pré-operacional (2 a 7 anos). A criança demonstra extremo prazer nesta fase. A figura humana é inexistente ou pode aparecer da maneira imaginária. A cor tem um papel secundário, aparecendo o interesse pelo contraste, mas não há intenção consciente. Pode ser dividida em:

• Desordenada: movimentos amplos e desordenados. Com relação a expressão, vemos a imitação "eu imito, porém não represento". Ainda é um exercício.

• Ordenada: movimentos longitudinais e circulares; coordenação viso-motora. A figura humana pode aparecer de maneira imaginária, pois aqui existe a exploração do traçado; interesse pelas formas (Diagrama).


Aqui a expressão é o jogo simbólico: "eu represento sozinho". O símbolo já existe. Identificada: mudança de movimentos; formas irreconhecíveis com significado; atribui nomes, conta histórias. A figura humana pode aparecer de maneira imaginária, aparecem sóis, radiais e mandalas. A expressão também é o jogo simbólico.

2 - Pré- Esquematismo: Dentro da fase pré-operatória, aparece a descoberta da relação entre desenho, pensamento e realidade. Quanto ao espaço, os desenhos são dispersos inicialmente, não relaciona entre si. Então aparecem as primeiras relações espaciais, surgindo devido à vínculos emocionais. A figura humana, torna-se uma procura de um conceito que depende do seu conhecimento ativo, inicia a mudança de símbolos. Quanto a utilização das cores, pode usar, mas não há relação ainda com a realidade, dependerá do interesse emocional. Dentro da expressão, o jogo simbólico aparece como: "nós representamos juntos". 



3 - Esquematismo: Faz parte da fase das operações concretas (7 a 10 anos).Esquemas representativos, afirmação de si mediante repetição flexível do esquema; experiências novas são expressas pelo desvio do esquema. Quanto ao espaço, é o primeiro conceito definido de espaço: linha de base. Já tem um conceito definido quanto a figura humana, porém aparecem desvios do esquema como: exagero, negligência, omissão ou mudança de símbolo. Aqui existe a descoberta das relações quanto a cor; cor-objeto, podendo haver um desvio do esquema de cor expressa por experiência emocional. Aparece na expressão o jogo simbólico coletivo ou jogo dramático e a regra.

4 - Realismo: Também faz parte da fase das operações concretas, mas já no final desta fase. Existe uma consciência maior do sexo e autocrítica pronunciada. No espaço é descoberto o plano e a superposição. Abandona a linha de base. Na figura humana aparece o abandono das linhas. As formas geométricas aparecem. Maior rigidez e formalismo. Acentuação das roupas diferenciando os sexos. Aqui acontece o abandono do esquema de cor, a acentuação será de enfoque emocional. Tanto no Esquematismo como no Realismo, o jogo simbólico é coletivo, jogo dramático e regras existiram.
5 - Pseudo Naturalismo: Estamos na fase das operações abstratas (10 anos em diante)É o fim da arte como atividade expontânea. Inicia a investigação de sua própria personalidade. Aparece aqui dois tipos de tendência: visual (realismo, objetividade); háptico ( expressão subjetividade) No espaço já apresenta a profundidade ou a preocupação com experiências emocionais (espaço subjetivo). Na figura humana as características sexuais são exageradas, presença das articulações e proporções. A consciência visual (realismo) ou acentuação da expressão, também fazem parte deste período. Uma maior conscientização no uso da cor, podendo ser objetiva ou subjetiva. A expressão aparece como: "eu represento e você vê" Aqui estão presentes o exercício, símbolo e a regra.


E ainda alguns psicólogos e pedagogos, em uma linguagem mais coloquial, utilizam as seguintes referencias:

• De 1 a 3 anos

É a idade das famosas garatujas: simples riscos ainda desprovidos de controle motor, a criança ignora os limites do papel e mexa todo o corpo para desenhar, avançando os traçados pelas paredes e chão. As primeiras garatujas são linhas longitudinais que, com o tempo, vão se tornando circulares e, por fim, se fecham em formas independentes, que ficam soltas na página. No final dessa fase, é possível que surjam os primeiros indícios de figuras humanas, como cabeças com olhos.

• De 3 a 4 anos

Já conquistou a forma e seus desenhos têm a intenção de reproduzir algo. Ela também respeita melhor os limites do papel. Mas o grande salto é ser capaz de desenhar um ser humano reconhecível, com pernas, braços, pescoço e tronco.

• De 4 a 5 anos

É uma fase de temas clássicos do desenho infantil, como paisagens, casinhas, flores, super-heróis, veículos e animais, varia no uso das cores, buscando um certo realismo. Suas figuras humanas já dispõem de novos detalhes, como cabelos, pés e mãos, e a distribuição dos desenhos no papel obedecem a uma certa lógica, do tipo céu no alto da folha. Aparece ainda a tendência à antropomorfização, ou seja, a emprestar características humanas a elementos da natureza, como o famoso sol com olhos e boca. Esta tendência deve se estender até 7 ou 8 anos.

• De 5 a 6 anos
Os desenhos sempre se baseiam em roteiros com começo, meio e fim. As figuras humanas aparecem vestidas e a criança dá grande atenção a detalhes como as cores. Os temas variam e o fato de não terem nada a ver com a vida dela são um indício de desprendimento e capacidade de contar histórias sobre o mundo.

• De 7 a 8 anos

O realismo é a marca desta fase, em que surge também a noção de perspectiva. Ou seja, os desenhos da criança já dão uma impressão de profundidade e distância. Extremamente exigentes, muitas deixam de desenhar, se acham que seus trabalhos não ficam bonitos.

Para tentarmos entender melhor o universo infantil muitas vezes buscamos interpretar os seus desenhos, devemos porem lembrar que a interpretação de um desenho isolada do contexto em que foi elaborado não faz sentido.
É aconselhável, ao professor, que ofereça às crianças o contato com diferentes tipos de desenhos e obras de artes, que elas façam a leitura de suas produções e escutem a de outros e também que sugira a criança desenhar a partir de observações diversas (cenas, objetos, pessoas) para que possamos ajudá-la a nutrisse de informações e enriquecer o seu grafismo. Assim elas poderão reformular suas idéias e construir novos conhecimentos.

Referências Bibliográficas
LUQUET, G.H. Arte Infantil. Lisboa: Companhia Editora do Minho, 1969.
MALVERN, S.B. "Inventing 'child art': Franz Cizek and modernism" In: British Journal of Aesthetics, 1995, 35(3), p.262-272.
MEREDIEU, F. O desenho Infantil. São Paulo: Cultrix, 1974.
NAVILLE, Pierre. "Elements d'une bibliographie critique". In: Enfance, 1950, n.3-4, p. 310. Parsons, Michael J. Compreender a Arte. Lisboa: Ed. Presença, 1992.
PIAGET, J. A formação dos símbolos na Infância. PUF, 1948
RABELLO, Sylvio. Psicologia do Desenho Infantil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1935.
READ, HEBERT. Educação Através da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1971.
RIOUX, George. Dessin et Structure Mentale. Paris: Presses Universitaires de France, 1951.
ROUMA, George. El Lenguage Gráfico del Niño. Buenos Aires: El Ateneo, 1947.
REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL. Ministério da Educação e do Desporto, secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. 3v.



FONTE:http://jardimdaalegria.blogspot.com/

A criança e o seu desenho.



A criança não nasce sabendo desenhar, mas constrói seu conhecimento acerca do desenho através da sua atividade com este objeto de conhecimento. Nesse sentido, a criança não desenha o que vê nos objetos, mas o que suas estruturas mentais lhe possibilitam que veja, e mais, em lugar de encontrar o mundo diretamente, a criança o interpreta. Dessa forma, o conhecimento não resulta da relação direta com os objetos, mas de sua interpretação e representação. Assim, a criança é o sujeito do seu processo, ela aprende a desenhar na sua interação com o desenho. O desenho é um modo de expressão infantil. Desenhar constitui, para a criança, uma atividade integradora, que coloca em jogo as inter-relações do ver, do pensar, do fazer e dá unidade aos domínios perceptivo, cognitivo, afetivo e motor. Sendo assim, a atuação pedagógica aqui no colégio é fundamental no apoio a esse processo evolutivo, zelando pela condição de liberdade de expressão e sustentação de tal manifestação. A cada manifestação, a criança está inter-relacionando seu conhecimento imaginativo e, assim, aprimorando esse sistema de representação gráfica. O grafismo é o meio pelo qual a criança manifesta sua expressão e visão de mundo, constituindo-se assim como uma linguagem artística, na qual sua elaboração é constituída por fases, conforme o nível de desenvolvimento infantil que é variável a cada criança e envolve também o exercício de uma atividade imaginária, que se relaciona a um processo dinâmico, em que a criança procura representar o que conhece e entende.
O desenvolvimento progressivo do desenho implica mudanças significativas que, no início, dizem respeito à passagem dos rabiscos iniciais da garatuja para construções cada vez mais ordenadas, fazendo surgir os primeiros símbolos. Essa passagem é possível graças às interações da criança com o ato de desenhar e com desenhos de outras pessoas. Na garatuja, o desenho é simplesmente uma ação sobre uma superfície, a criança sente prazer ao constatar os efeitos visuais que essa ação produziu. Com decorrer do tempo, as garatujas, que refletiam sobretudo a resposta aos movimentos de ir e vir, transformam-se em formas definidas que apresentam maior ordenação e podem estar se referindo a coisas reais, imaginárias, ou até mesmo a outros desenhos.
Acompanhando a evolução do desenho de uma criança, em linhas gerais, podemos afirmar que inicialmente caracteriza-se pelo gesto motor, e nessa fase a criança ainda não atribui significado ao seu grafismo, seria o desenho involuntário.
No momento do desenho, a criança imprime marcas no papel de uma forma espontânea e em diversas direções, isso ocorre devido a ela ainda não ter adquirido o domínio motor e a proporção sobre o papel.
Num segundo momento o desenho constata certa analogia entre alguns dos seus traçados e um objeto real e considera seu desenho como representação do objeto, dando-lhe uma interpretação. Nessa etapa o desenho passa a ser voluntário, e a criança vai adquirindo a convicção de que pode representar através do desenho tudo o que deseja; busca várias formas na folha, sem coordenação muito precisa.
Vão surgindo então os círculos, em movimentos contínuos e instintivos, e assim a criança vai conseguindo representar vários tipos de desenhos; à medida que vai percebendo, começam os bonecos, sol, estrelas, etc. Começa a enunciar o que desenha, antes de desenhar vai encaminhando sua intenção, após o registro, ela vai interpretando e dando significado.
Chegando à terceira fase que varia entre cinco e seis anos, inicia o realismo intelectual, a criança está interessada em representar o objeto da forma mais real possível. Apesar das diferenças individuais de temperamento e sensibilidade, percebe-se que nessa fase aparecem temas clássicos do desenho infantil, como paisagens, casinhas, flores, super-heróis, veículos e animais. Suas figuras humanas já dispõem de novos detalhes, como cabelos, pés e mãos, e a distribuição dos desenhos na folha obedece a certa lógica, como o céu no alto da folha, a linha de base, o horizonte, delimitam e organizam o espaço.
A criança inicia a apropriar-se de processos variados como a descontinuidade, a transparência, o rebatimento e a mudança de ponto de vista. A descontinuidade consiste no desenho da linha de chão não apoiando os objetos sobre ela. A transparência refere-se a representação das partes ocultas de um objeto, como no caso do interior e do exterior de uma casa, ou, do corpo da figura sob as roupas. Através do rebatimento, a criança procura mostrar os dois lados de um objeto, como se ela estivesse no meio dele.
A cor vincula-se a expressividade, o colorido é mais alegre. O papel da cor é fundamental e realista, isto é, ela é essencial aos objetos reais. Para a criança o desenho mais semelhante ao objeto é aquele que traduz o que sua mente sabe ao respeito, incluindo todos os detalhes, e a sua interpretação. Nessa fase o realismo é muito mais visual, dá-se o início a perspectiva, os detalhes agora têm por finalidade particularizar as formas. O desenho é um exercício que abre portas para criatividade, para espontaneidade e para diversão. É uma maneira de lançar idéias, elaborar, crescer. Através do desenho, a criança tem a oportunidade de organizar-se externa e internamente, trabalhar a questão do espaço, ver-se e rever-se, fazendo um movimento de dentro para fora e de fora para dentro. Portanto, através do desenho, a criança supõe seu mundo interior, seus conflitos, seus receios, suas descobertas, suas alegrias, sua imaginação e o quanto está desenvolvendo-se. Sendo assim, nosso fazer pedagógico preocupa-se em oportunizar situações que privilegiem essa evolução da criança como ser integral.
Faz-se necessário uma reflexão relativa ao domínio do ato motor. O desenho é o registro do gesto, constituindo passagem de gesto à imagem. Essa característica e a referente possibilidade de representar graficamente configuram o desenho como precursor da escrita.
A construção do processo de leitura e escrita não está separada desse processo, pois a criança precisa passar por todas essas fases do desenho para iniciar sua escrita.
Alfabetização a princípio significa o domínio da leitura e da escrita, mas esse domínio é na verdade a conclusão de um longo processo. Para que uma criança seja alfabetizada, é preciso que ela passe antes por uma série de etapas em seu desenvolvimento, tornando-se então preparada para a aquisição da leitura e da escrita.
Primeiro ela vai perceber que existe um código escrito e um código desenhado, e então vai começar a buscar informações para entender essa complicada simbolização, e nesse momento deve ficar claro que não depende da vontade ou idade e sim dos conhecimentos que essa criança já elaborou sobre esse assunto.
Percebe-se que quando a criança desenha, escreve o mundo a sua maneira, representa, por exemplo, um cavalo azul através de um desenho e dali a instantes transforma num avião e depois aquele mesmo desenho poderá ainda ser um elefante. Porém a palavra cavalo representará sempre e apenas cavalo.
Fica claro que o signo visual ( desenho ) corresponde mais a maneira como a criança se expressa nesta fase, seu pensamento é essencialmente povoado por imagens. Vemos isto claramente expresso em desenhos que nos dão uma visão simultânea dos acontecimentos, sempre com um toque poético. Já o signo verbal implica a capacidade de analisar e ordenar necessariamente segundo uma seqüência lógico-linear. Exclui a simultaneidade, instaurando a linearidade, esta restrição se dá porque o signo verbal é altamente codificado.
Cada momento de evolução do desenho é crucial para o desenvolvimento da leitura e escrita, e que a criança nessa faixa etária precisa muito mais do que saber dizer o alfabeto, ler algumas palavras e ainda saber fazer contas mentalmente. A lógica do processo está presente desde o momento em que a criança começa a fazer círculos, pois apropria-se das formas geométricas, e estas vão dar base para todo o seu desenho e sua escrita, pois é a partir de um espaço geométrico e suas relações topológicas que se dá a construção da escrita e do desenho.
A matemática então é fundamental nessa construção, por isso procuramos dar sentido próprio a ela desenvolvendo a capacidade de interpretar, analisar, sintetizar, significar, transpor seu pensamento e representá-lo, percebendo que de um simples círculo, que inicialmente era somente risco involuntário, depois voluntário, passou a ser um “ cabeção” , um boneco, um sol, um olho, e finalmente uma letra, ou, um número e que principalmente tem uma significação muito diferente do desenho.
Outro momento fundamental da evolução se constitui na antecipação do ato gráfico, manifestado pela verbalização. A linguagem verbal é a base da linguagem gráfica constituída pelo desenho, e é através desse processo que procuramos estimular na criança a intenção prévia e o planejamento do pensamento. A fala é construtora do desenho: muitos detalhes gráficos são verbais, encadeados e unidos apenas oralmente. No caso da garatuja, onde o adulto vê somente um emaranhado de rabiscos, é quase como se houvesse dois desenhos: o que está no papel e o que a criança verbaliza. Em algumas ocasiões, ao invés de apenas nomear elementos isolados, as crianças contam pequenas histórias a partir dos desenhos, unindo as figuras representadas no papel. A linguagem oral, mediante o desenho, cria situações que ultrapassam os elementos gráficos. Esta narração, essencialmente verbal, impõe um caráter de texto gráfico ao conjunto de figuras produzidas; é a palavra que vai unir esses elementos, integrando-os.
Considerando o desenho como um elo entre a percepção e a imaginação, queremos provocar na criança o desenvolvimento da auto-expressão como percepção e apropriação da capacidade criativa e representativa.
O desenho é um processo de expressão rica de intenções, um processo pessoal que não permite igualar uma criança a outra. Precisamos evitar interpretações precipitadas e redutoras, geralmente com o intuito de adequar o desenho da criança.
A interpretação do desenho depende do olhar do intérprete, o primeiro intérprete é a própria criança, pois seu desenho é o lugar do provável, do indeterminado, das significações.
Ao olhar os desenhos devemos considerar não apenas o desenho como uma modalidade de expressão ou representação da realidade, mas também como o resultado de atividade intencional envolvendo aspectos cognitivos e emotivos. A partir do desenho a criança organiza informações, processa experiências vividas e pensadas, revela seu aprendizado e pode desenvolver um estilo de representação singular do mundo.



Referências Bibliográficas:
GREREIG, Philippe. A criança e o seu desenho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário