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sábado, 13 de abril de 2013





E a família, como vai?


Quando a dificuldade de aprendizagem entra em cena no contexto familiar os seus membros se deparam com uma nova circunstância fazendo parte de seu dia a dia. Consequentemente, podemos esperar que haja uma modificação dos papéis desempenhados por seus elementos. A família passará por mudanças diante dessa nova situação. Antes de tudo, é necessário que pais, professores, educadores e quem mais estiver envolvido neste contexto esteja ciente de que muitas crianças apresentam alguma dificuldade no processo complexo que é a aprendizagem. Shaywitz (2006) ressalta que a dislexia, por exemplo, atinge uma em cada cinco crianças. Portanto, é fundamental a atenção dos pais no momento de identificar os sinais que indicam que uma criança apresenta, de fato, algum tipo de dificuldade de aprendizagem, e não que seja preguiçosa, pouco inteligente ou mal comportada. Trata-se de um quadro que atinge um grande número de crianças, e, portanto, de famílias que vivem situação semelhante.

As famílias lidam de maneiras diferentes com a dificuldade do filho e essas diferenças podem estar relacionadas com o momento atual que estão vivendo como, por exemplo, separação do casal, mudança de cidade, situação econômica da família, mudança de escola, entre outros. Também, como sua própria história de vida, ou seja, experiências vividas até então tais como o tipo de criação, direitos e deveres a serem cumpridos, crenças e valores.

Coelho (2006) considera a família como uma instituição, um grupo social, no nível funcional que contém regras de relação entre os seus elementos e cujas funções são desempenhadas no seu dia a dia e modificadas constantemente. Portanto, a família está sempre em processo de interação e as transformações nela ocorridas refletem mudanças de comportamento e mudanças nos papéis de seus membros.

O objetivo deste texto é mostrar de que forma a dificuldade de aprendizagem causa uma desorganização familiar e o quanto esta desorganização pode influenciar a criança e seus processos de aprendizagem.

Quando o primeiro contato com a família é feito, através de uma entrevista de anamnese, é observado que, além das queixas trazidas pelos pacientes relacionadas às dificuldades de aprendizagem (falta de concentração, dificuldades na leitura, Matemática, Português, troca e/ou omissão de letras, etc.), podem aparecer também outros sintomas como os emocionais que, em alguns casos, influenciam diretamente na questão do aprendizado. Não é raro observarmos o choro de algumas mães, que procuram o melhor para seus filhos, mas que já não conseguem disfarçar o quanto estão afetadas pela dificuldade do mesmo.Elas assumem uma culpa sentindo-se responsáveis por esta situação. O contrário também acontece.

Alguns pais, logo no início da entrevista, cobram resultados de um tratamento que esperam ter, mas que nem sempre condiz com o tratamento que é oferecido enfatizando que o filho tem que receber o melhor. Antes mesmo do começo da conversa já questionam as intervenções e os resultados. Ultimamente, muitos avôs e avós estão acompanhando e buscando ajuda para seus netos, assumindo essas crianças como seus filhos. Estas atitudes afetam o comportamento das crianças, modificando seus sentimentos. Os papéis podem até sofrer algum tipo de alteração, mas não podem se misturar.

De que adianta a mãe, ou o pai, ou até mesmo o professor fazer a tarefa escolar para a criança? Quem irá se beneficiar com isso?

O ideal seria que os pais oferecessem segurança e atenção aos seus filhos, para que a criança aceitasse melhor as frustrações que ocorrerão em muitas outras circunstâncias na vida. Porém, a realidade é que, em muitos casos, diante dessa nova circunstância, ocorre uma desorganização emocional, em que a ansiedade e a angústia também tomam conta dos pais e geram sentimentos neles que prejudicam ainda mais o momento de dificuldade vivido pelo filho. Se uma mãe chora, a outra se coloca de um modo autoritário, ou se o avô passa a exercer o papel de pai, compreendemos que são reações genuínas diante de um momento difícil também para os familiares. Porém, o que não pode ser deixado de lado é o efeito das lágrimas e destas atitudes sobre a família como um todo.

Além disso, é percebido, com freqüência,, que muitas famílias, por passarem por vários tipos de tratamento e tendo se frustrado em alguns deles, geram uma grande expectativa nos filhos a cada nova tentativa. Em contrapartida, os filhos se sentem pressionados a atenderem a expectativa de seus pais, o que gera ansiedade e causa mudanças no dia a dia familiar. Em casos de dificuldade de aprendizagem, é sempre importante procurar ajuda profissional, para que se possa, além de trabalhar com a criança no sentido de favorecer seu processo de aprendizagem, compreender também os aspectos familiares e orientar os pais para que estimulem o desenvolvimento do filho de forma adequada.

A criança experimenta sentimentos de medo, nervosismo e cobrança, mas quando isso acontecer é o apoio e o equilíbrio da família que mais favorece a reorganização. A família é o lugar onde o indivíduo aprende a perceber o mundo, a se situar nele e a ter referências de proteção, de afeto, de pertencimento e de valores.

Portanto, o vínculo familiar ajuda a criança a passar por momentos de dificuldades com mais segurança.


Referências Bibliográficas:

AUN, Juliana Gontijo; ESTEVES DE VASCONCELLOS, Maria José; COELHO, Sônia Vieira. Atendimento Sistêmico de Famílias e Redes Sociais: Fundamentos teóricos e epistemológicos. 2 ed. Belo Horizonte: Ophicina de Arte e Prosa, 2006.

SHAYWITZ, Sally. Entendendo a dislexia: um novo e completo programa para todos os níveis de problemas de leitura. Porto Alegre: Artmed, 2006.

SNOWLING, Margaret; STACKHOUSE, Joy e cols. Dislexia, fala e linguagem: um manual do professional. Porto Alegre: Artmed, 2004.

ROTTA, Newra Tellechea; OHLWEILER, Lygia; RIESGO, Rudimar dos Santos. Transtornos da aprendizagem: abordagem neurobiológica e multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2006.
Postado por Pri às quarta-feira, abril 15, 2009 0 comentários
Marcadores: Família e escola
terça-feira, março 17

Família e escola na questão da indisciplina


Eloci Gloria de Mello, Pedagoga e psicopedagoga


A questão da indisciplina não é um problema recente, mas parece ter se tornado um dos maiores desafios atuais da prática docente. É frequentemente centralizada no aluno, sem se atentar para a díade família/escola, onde as causas da indisciplina estão entrelaçadas. É necessária uma análise deste contexto e dos papéis e responsabilidades de seus atores: pais, professores e alunos.
É visível que a indisciplina, em todas as classes sociais, tornou-se uma prática crescente não só dentro das escolas, mas também dentro de casa, nas ruas, nos ambientes coletivos como shoppings, nos meios de transporte etc.; a situação está se tornando insustentável e frequentemente os meios de comunicação noticiam uma nova demonstração da falta de limites na violência cometida por um jovem ou adolescente.
É possível responsabilizar a família desses jovens e adolescentes por suas atitudes? Pensa-se que não é possível determinar um “culpado”, embora as novas formas em que estão organizadas as famílias possam representar uma pista de que algo não vai bem. Outra consequência desta configuração familiar moderna são pais ansiosos por compensar sua falta, dando aos filhos uma liberdade sem fronteiras, deixando as crianças sem parâmetros entre o que é correto e o que não é: gratificam excessivamente os filhos, que, por sua vez, acabam desenvolvendo uma baixa tolerância à frustração e chegam à escola, muitas vezes o único lugar onde podem expressar-se, com dificuldades em aceitar regras.
A indisciplina escolar não envolve somente características encontradas fora da escola, como problemas sociais, sobrevivência precária e baixa qualidade de vida, além de conflitos nas relações familiares, mas também aspectos envolvidos na escola, como a relação professor-aluno e a possibilidade de o cotidiano escolar ser permeado por um currículo oculto, entre outros.
A escola, na grande maioria, continua ocupando uma postura de repassadora de conteúdos, numa relação ditatorial que desconhece as necessidades dos alunos, ignorando que eles fazem parte da era da informação, com toda a tecnologia moderna ao seu alcance, mesmo nas comunidades mais pobres, o que justifica a necessidade da escola de reciclar-se, incluindo o uso de novos recursos, por exemplo, para que as aulas deixem de ser enfadonhas e passem a ser interessantes e provocativas.
Reforçando este problema, a escola, numa relação autoritária, estabelece regras sem observar as peculiaridades de seus alunos e professores, os quais não percebem que não são o tempo todo ensinantes, mas que também aprendem e devem abrir mão de uma postura autoritária que não considere os conhecimentos dos alunos, negando-se a ampliar seus próprios conhecimentos com eles.
A ideia que se defende é de que há necessidade de um trabalho pautado na reciprocidade e, consequentemente, na cooperação e na colaboração entre todos os atores envolvidos nesta trama da indisciplina: alunos, famílias e escolas. Não há, neste caso, lugares fixos a serem ocupados como aprendiz e mestre, mas um meio propício para o desenvolvimento de uma relação recíproca que objetive o bem de todos.

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