O SEMÁFORO- PEÇA PARA FANTOCHES
Narrador
“Zé Gadelhas, com os olhos como abelhas, tinha vindo do campo para a cidade. Estava em casa do João Pimpão, com os olhos de carvão, que era seu compadre. Sempre que Zé Gadelhas, com os olhos como abelhas, saía apassearencontrava coisas de espantar…Então vinha a correr para junto do João Pimpão, com os olhos de carvão, e punha-se a contar e a perguntar…”
Zé Gadelhas
“ Ah! João Pimpão, como bate o meu coração, eu devo ter febre João Pimpão, eu devo ter um febrão! Ah! João Pimpão, se calhar sou eu que estou doido… Sabes lá… João Pimpão, eu tive uma visão… vi assim uma coisa de espantar!…
João Pimpão
“Ó Zé Gadelhas, com os olhos como abelhas, vamos lá a acalmar e falar devagar. Conta lá o que sucedeu, o que aconteceu… mas sem ser a gritar!
Zé Gadelhas
“João Pimpão, meuamigoe compadre, tu se calhar não vês o mesmo que eu porque tens os olhos cor de carvão. Eu vi uma árvore, magricela, sem ramos nem raminhos, nem ninhos e que não era nada, nada bela!”João Pimpão
“ Ó Zé gadelhas, com olhos de abelhasa, tu viste uma árvore magricela, sem ramos nem raminhos, sem ninhos e que não era nada bela. Onde está a admiração?”
Zé Gadelhas
“ João Pimpão, João Pimpão, com olhos cor de carvão, lá na minha terra não há árvores assim, não. É preciso vir a Primavera e depois, o Verão para o botão virar flor e a flor mostrar o coração que é assim primeiro um fruto esverdeado e depois encarnado!
João Pimpão
“ Olha a novidade, Zé Gadelhas! Isso toda a gente sabe…”
Zé Gadelhas
“ Então João Pimpão, com os olhos de carvão, diz-me lá como é que a árvore magricela põe o fruto maduro sem ser Verão? Ah João Pimpão, eu devo estar com um febrão… não há árvores assim não…
Olhei para a árvore e tinha um fruto como um balão, muito gorducho e muito verducho. Era mesmo um fruto esverdeado. Nisto, eu Zé Gadelhas, com olhos como abelhas, ainda estava a olhar, vai o fruto mudou de lugar e ficou amarelado. Então João Pimpão com olhos cor de carvão, o meu coração começou a saltar! Eu Zé Gadelhas, com olhos como abelhas, esfreguei os olhinhos para ver se era confusão, ou se estava com uma visão. E quando fui olhar, lá estava a árvore magricela, sem ramos, nem raminhos, nem ninhos, nada bela, e vai disto o fruto como um balão mudou outra vez de lugar, e de amarelado ficou encarnado! Isto sem Verão…”
João Pimpão
“ Ah Zé Gadelhas, com os olhos como abelhas, isso não era uma árvore, não… era um semáforo… Zé Gadelhas”
Zé Gadelhas
“Um quê, João Pimpão? Uma semana para deitar fora? Ah João Pimpão, com os olhos de carvão, afinal também andas a regular mel…”
João Pimpão
“Zé Gadelhas, Zé Gadelhas, com olhos como abelhas, eu disse que era um semáforo e não uma semana para deitar fora. Vê lá se lavas os ouvidos que os deves trazer entupidos e se prestas atenção, porque eu, João Pimpão, só tenho obrigação de dizer uma vez! Ouve então:
Semáforo é um sinal luminoso, com três luzes, com três, a apagar e a acender. Se o verde acender está a avisar que o carro pode passar. Se for o amarelo a brilhar, está a dizer cuidado, vai aparecer o encarnado, e se for o encarnado, está a gritar – o carro não pode avançar, tem de ficar parado!
Zé Gadelhas, Zé Gadelhas, estás a entender? Estás a perceber?
Zé Gadelhas
“Óh João Pimpão e o outro que tem lá dentro um lagartão? Esse não é um fruto, não?”
João Pimpão
“Ah, esse é para o peão.”
Zé Gadelhas
“ João Pimpão, o peão é cego, vai para onde alguém o jogar, enrola-se a guita, atira-se e ele fica a rodar, a girar, a zumbir ou a dormir! O pião, João Pimpão, não tem olhos para ver a luz a acender…”
João Pimpão
“ Zé Gadelhas, Zé Gadelhas, há o pião de brincar que se escreve p i a o, com um til lá no ar, e há o peão, que é a pessoa que anda a pé, e que se escreve com é!”
Zé Gadelhas
“ E o lagartão, que estava lá no balão? Eu vi um lagartão! Juro que vi!”
João Pimpão
“ Zé Gadelhas, com olhos como abelhas, precisas de ir ao oculista porque andas mal da vista!
A bola que viste não tinha um lagartão, nem um lagartinho, mas sim um bonequinho, a levantar o pé. Se obonequinho verde aparecer está a avisar – Zé Gadelhas, tu que és um peão, pois andas a pé, podes avançar. Se o bonequinho estiver encarnado está a gritar – Zé Gadelhas, não podes atravessar! Se for um bonequinho amarelo, a tremer, a piscar, está a dizer – Zé Gadelhas é preciso cuidado, olha bem para todo o lado…”
Zé Gadelhas
“Ah João Pimpão, com olhos de carvão, obrigado pela lição. Já começo a entender… e a saber…”
João Pimpão
“Zé Gadelhas, com olhos como abelhas, cada um de nós tem um saber diferente. Aqui na cidade sou eu que sei a novidade, sou eu que sei como as coisas são! Mas lá no campo, muito tenho de aprender… Serás tu, Zé Gadelhas, que me irás ensinar como semear! Serás tu com o teu saber diferente que me irás explicar como as coisas são… como é que a semente chega ao pão!”
Zé Gadelhas (abraçando o João Pimpão)
“ Ah, João Pimpão, meu amigo, meu compadre, meu irmão!”