As situações didáticas de Língua Portuguesa
Até dominar a leitura e a escrita, a garotada passa por experiências enriquecedoras, como ler sem saber ler e escrever sem saber escrever
Cada criança chega à escola em uma fase da alfabetização - o nível de
compreensão depende das possibilidades prévias de contato com o mundo da
escrita. Apesar de uma classe ter alunos em estágios diferentes de
conhecimento, todos podem aprender. "O ambiente escolar deve ser pensado
para propiciar inúmeras interações com a língua escrita", afirma Telma
Weisz, especialista em Psicologia Escolar e uma das maiores autoridades
em alfabetização no Brasil. O papel do professor é mediar interações.
Para auxiliá-lo na tarefa de facilitar o ingresso da meninada no
universo da linguagem escrita, o docente tem à disposição algumas
atividades consagradas. "Aprendi que a leitura para a classe é uma delas
e faço isso diariamente. Sento-me em roda com a turma, mostro um livro,
falo sobre o autor e leio por cerca de 15 minutos", afirma Cintia Dante
de Queiroz Minelli, da EMEB Professor Bráulio José Valentim, na zona
rural de Mogi Mirim, a 160 quilômetros de São Paulo. A educadora
incentiva a escrita utilizando letras móveis ou lápis: "É para que as
crianças descubram que tudo o que falam pode ser escrito".
A conclusão da alfabetização inicial ocorre após os dois primeiros anos
de escolaridade. Nas séries seguintes, a garotada aprofunda
conhecimentos sobre diferentes gêneros de texto e ganha maior autonomia
na produção e na leitura. Maria Ussifati, da EM Tempo Integral, de
Umuarama, a 600 quilômetros de Curitiba, vê o progresso de seus alunos
da 4ª série. Eles lêem uns para os outros e indicam títulos a amigos.
"Percebo que mesmo os que não têm o hábito de ler ficam interessados
quando vêem o colega com um livro ou contando uma história curiosa", ela
explica. As cinco situações didáticas de Língua Portuguesa estão
descritas em duas fases, alfabetização inicial e continuidade (veja a
seguir). Como o nível de leitura e escrita varia dentro de uma classe, é
importante identificar em que fase cada aluno está e escolher
atividades adequadas para a turma.
1. Leitura para a classe feita pelo professor
Na alfabetização inicial
O que é:
A turma forma uma roda, e o professor lê em voz alta textos literários,
jornalísticos, regras de jogos etc. Os gêneros devem variar para que o
repertório se amplie. Além de contos de fadas, valem notícias que tratem
de algum assunto de interesse de crianças. Também é imprescindível
garantir a qualidade do material à disposição da meninada.
Quando propor: Diariamente.
O que a criança aprende: Os usos e as funções da escrita, as características que distinguem os gêneros e as diferenças entre o oral e o escrito. Ela se familiariza com a linguagem e os elementos dos livros (que contam histórias), dos jornais (que trazem notícias) e dos textos instrucionais (que incluem regras de jogos ou receitas culinárias).
Na continuidade
Quando propor: Diariamente.
O que a criança aprende: Os usos e as funções da escrita, as características que distinguem os gêneros e as diferenças entre o oral e o escrito. Ela se familiariza com a linguagem e os elementos dos livros (que contam histórias), dos jornais (que trazem notícias) e dos textos instrucionais (que incluem regras de jogos ou receitas culinárias).
Na continuidade
O que é: Leitura
de livros literários mais longos (podem ser selecionados capítulos
inteiros, por exemplo) e textos informativos mais complexos. O objetivo é
que a turma construa uma compreensão coletiva de cada obra.
Quando propor: Diariamente.
O que a criança aprende: Características de textos mais difíceis e de diferentes gêneros.
Quando propor: Diariamente.
O que a criança aprende: Características de textos mais difíceis e de diferentes gêneros.
31
ago
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A importância da leitura feita pelo professor
A leitura feita pelo professor tem que ser constante na alfabetização
COMPORTAMENTO LEITOR É fundamental que toda a turma participe da atividade, expondo suas ideias sobre o que foi lido.
Sempre que o professor lê para a turma, revela as múltiplas
possibilidades que os textos oferecem. Essa é uma das quatro situações
didáticas básicas no processo de alfabetização. "As crianças conhecem
narrativas, lugares, personagens e autores e têm a oportunidade de se
encantar com a leitura. O desejo de aprender a ler para decifrar os
livros preferidos com autonomia e descobrir novas histórias aumenta de
intensidade", diz Ana Flavia Alonço, pedagoga e formadora de professores
do Projeto Entorno, da Fundação Victor Civita.
A leitura, como prática social, pode ser ensinada em situações em que a
turma toda participe, comentando o que foi lido, levantando e
explicitando hipóteses, debatendo ideias. Atitudes como essas compõem o
chamado comportamento leitor, capaz de ser desenvolvido desde muito cedo
com a ajuda dos mais experientes. A figura de pais e professores é
fundamental, pois eles assumem o papel de condutores de seus ouvintes
para um mundo fantástico. Nas palavras da psicolinguista argentina
Emilia Ferreiro, "a leitura é um momento mágico, pois o interpretante
informa à criança, ao efetuar essa ação aparentemente banal, que
chamamos de 'um ato de leitura', que essas marcas têm poderes especiais:
basta olhá-las para produzir linguagem".
É preciso, porém, ter em mente a intenção da leitura. Não basta
simplesmente fazer uma sessão por dia sem propósito comunicativo.
"Quando o professor lê, tem de considerar sua ação como prática social
que entretém, emociona, informa e diverte. Mas também deve estar ciente
dos objetivos didáticos a que ela se destina - por exemplo, diferenciar a
linguagem escrita da falada ou conhecer o estilo de um autor", afirma
Célia Prudêncio, formadora do Programa Ler e Escrever, do governo do
estado de São Paulo. Segundo ela, se os objetivos não estiverem claros, a
leitura, por si só, não dá conta de alavancar o processo de
alfabetização, pois faltam os procedimentos necessários à mediação entre
o professor, os alunos e a linguagem escrita.
Fonte:http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/alfabetizacao-inicial/pequenos-leitores-431328.shtml?page=0
31
ago
09
jun
06
abr
06
abr
27
out
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Texto: "Menina Bonita do Laço de Fita"
MENINA BONITA DO LAÇO DE FITA
(Ana Maria Machado)
Era uma vez uma menina linda, linda.
Os olhos pareciam duas azeitonas pretas brilhantes, os cabelos enroladinhos e bem negros.
A pele era escura e lustrosa, que nem o pelo da pantera negra na chuva.
Ainda por cima, a mãe gostava de fazer trancinhas no cabelo dela e enfeitar com laços de fita coloridas.
Ela ficava parecendo uma princesa das terras da áfrica, ou uma fada do Reino do Luar.
E, havia um coelho bem branquinho, com olhos vermelhos e focinho nervoso
sempre tremelicando. O coelho achava a menina a pessoa mais linda que
ele tinha visto na vida.
E pensava:
- Ah, quando eu casar quero ter uma filha pretinha e linda que nem ela...
Por isso, um dia ele foi até a casa da menina e perguntou:
- Menina bonita do laço de fita, qual é o teu segredo para ser tão pretinha?
A menina não sabia, mas inventou:
- Ah deve ser porque eu caí na tinta preta quando era pequenina...
O coelho saiu dali, procurou uma lata de tinta preta e tomou banho nela.
Ficou bem negro, todo contente. Mas aí veio uma chuva e lavou todo aquele pretume, ele ficou branco outra vez.
Então ele voltou lá na casa da menina e perguntou outra vez:
- Menina bonita do laço de fita, qual é o seu segredo para ser tão pretinha?
A menina não sabia, mas inventou:
- Ah, deve ser porque eu tomei muito café quando era pequenina.
O coelho saiu dali e tomou tanto café que perdeu o sono e passou a noite toda fazendo xixi.
Mas não ficou nada preto.
- Menina bonita do laço de fita, qual o teu segredo para ser tão pretinha?
A menina não sabia, mas inventou:
- Ah, deve ser porque eu comi muita jabuticaba quando era pequenina.
O coelho saiu dali e se empanturrou de jabuticaba até ficar pesadão, sem
conseguir sair do lugar. O máximo que conseguiu foi fazer muito
cocozinho preto e redondo feito jabuticaba. Mas não ficou nada preto.
Então ele voltou lá na casa da menina e perguntou outra vez:
- Menina bonita do laço de fita, qual é teu segredo pra ser tão pretinha?
A menina não sabia e... Já ia inventando outra coisa, uma história de
feijoada, quando a mãe dela que era uma mulata linda e risonha, resolveu
se meter e disse:
- Artes de uma avó preta que ela tinha...
Aí o coelho, que era bobinho, mas nem tanto, viu que a mãe da menina
devia estar mesmo dizendo a verdade, porque a gente se parece sempre é
com os pais, os tios, os avós e até
com os parentes tortos.E se ele queria ter uma filha pretinha e linda que nem a menina,
tinha era que procurar uma coelha preta para casar.
Não precisou procurar muito. Logo encontrou uma coelhinha escura como a noite, que achava aquele coelho branco uma graça.
Foram namorando, casando e tiveram uma ninhada de filhotes, que coelho quando desanda
a ter filhote não para mais! Tinha coelhos de todas as cores: branco,
branco malhado de preto, preto malhado de branco e até uma coelha bem
pretinha.
Já se sabe, afilhada da tal menina bonita que morava na casa ao lado.
E quando a coelhinha saía de laço colorido no pescoço sempre encontrava alguém que perguntava:
- Coelha bonita do laço de fita, qual é o teu segredo para ser tão pretinha?
E ela respondia:
- Conselhos da mãe da minha madrinha...
- Conselhos da mãe da minha madrinha...
27
out