"A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo. (Nelson Mandela) "

quinta-feira, 1 de junho de 2017

BULLYING




Bullying é um termo da língua inglesa (bully = “valentão”) que se refere a todas as formas de atitudes agressivas, verbais ou físicas, intencionais e repetitivas, que ocorrem sem motivação evidente e são exercidas por um ou mais indivíduos, causando dor e angústia, com o objetivo de intimidar ou agredir outra pessoa sem ter a possibilidade ou capacidade de se defender, sendo realizadas dentro de uma relação desigual de forças ou poder.
bullying se divide em duas categorias: a) bullying direto, que é a forma mais comum entre os agressores masculinos e b) bullying indireto, sendo essa a forma mais comum entre mulheres e crianças, tendo como característica o isolamento social da vítima. Em geral, a vítima teme o(a) agressor(a) em razão das ameaças ou mesmo a concretização da violência, física ou sexual, ou a perda dos meios de subsistência.
bullying é um problema mundial, podendo ocorrer em praticamente qualquer contexto no qual as pessoas interajam, tais como escola, faculdade/universidade, família, mas pode ocorrer também no local de trabalho e entre vizinhos. Há uma tendência de as escolas não admitirem a ocorrência do bullying entre seus alunos; ou desconhecem o problema ou se negam a enfrentá-lo. Esse tipo de agressão geralmente ocorre em áreas onde a presença ou supervisão de pessoas adultas é mínima ou inexistente. Estão inclusos no bullying os apelidos pejorativos criados para humilhar os colegas.
As pessoas que testemunham o bullying, na grande maioria, alunos, convivem com a violência e se silenciam em razão de temerem se tornar as “próximas vítimas” do agressor. No espaço escolar, quando não ocorre uma efetiva intervenção contra o bullying, o ambiente fica contaminado e os alunos, sem exceção, são afetados negativamente, experimentando sentimentos de medo e ansiedade.
As crianças ou adolescentes que sofrem bullying podem se tornar adultos com sentimentos negativos e baixa autoestima. Tendem a adquirir sérios problemas de relacionamento, podendo, inclusive, contrair comportamento agressivo. Em casos extremos, a vítima poderá tentar ou cometer suicídio.
O(s) autor(es) das agressões geralmente são pessoas que têm pouca empatia, pertencentes à famílias desestruturadas, em que o relacionamento afetivo entre seus membros tende a ser escasso ou precário. Por outro lado, o alvo dos agressores geralmente são pessoas pouco sociáveis, com baixa capacidade de reação ou de fazer cessar os atos prejudiciais contra si e possuem forte sentimento de insegurança, o que os impede de solicitar ajuda.
No Brasil, uma pesquisa realizada em 2010 com alunos de escolas públicas e particulares revelou que as humilhações típicas do bullying são comuns em alunos da 5ª e 6ª séries. As três cidades brasileiras com maior incidência dessa prática são: Brasília, Belo Horizonte e Curitiba.
Os atos de bullying ferem princípios constitucionais – respeito à dignidade da pessoa humana – e ferem o Código Civil, que determina que todo ato ilícito que cause dano a outrem gera o dever de indenizar. O responsável pelo ato debullying pode também ser enquadrado no Código de Defesa do Consumidor, tendo em vista que as escolas prestam serviço aos consumidores e são responsáveis por atos de bullying que ocorram dentro do estabelecimento de ensino/trabalho.

Orson Camargo
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Sociologia e Política pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo – FESPSP
Mestre em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

Livros da literatura infanto-juvenil que poderão ser usados para reflexão sobre o tema.  Filmes também que sensibilizam para o assunto.

1. Pinote fracote, Janjão o fortão, de Fernanda Lopes de Almeida.




2. Ponte para Terabítiade Katherine Paterson, Editora Salamandra.  Um livro lindo, sensível, escrito com maestria pela ganhadora da medalha Hans Christian Andersen, o mais importante prêmio internacional no campo da literatura infanto-juvenil.  Narra a história de Jess Aarons e sua amizade com Leslie Burke, uma novata na vila e na escola.  Apresenta as dificuldades e os medos destes meninos, de 10 anos, algumas situações de bullying no colégio e no ônibus escolar.
Também está disponível em vídeo,  um excelente material para trabalhar o tema.  O livro é um exemplo de como a literatura para crianças e jovens pode ser bem escrita e agradável.
  O filme relata bem claramente algumas situações de bullying vividas pelos garotos e a importância de uma boa amizade servindo de pára-raios.  É muito bem feito, explora um pouco o fantástico e será certamente uma boa diversão para os alunos.
Site para baixar o livro:


3. Morango Sardento, de Julianne Moore, Ed. Cosac Naify, 2010.  O livro foi escrito pela famosa atriz e se baseia em sua infância.  Conta a história de uma menininha sardenta e ruiva que sofria bullying na escola por ser diferente.  É um livro bonito, bem ilustrado.  O sofrimento da garota fica bem nítido mas acho que a solução para o caso e a reviravolta nos seus sentimentos não convencem muito.  Mas sem dúvida é mais um bom material para se trabalhar o tema com crianças menores.

4. Bullying – Vamos sair dessa?, de Miriam Portela, Ed. Noovha America, 2009.  Bom livro, trata o assunto de maneira clara, entremeando com cenas de ficção.  Pode ser um bom subsídio para os professores e educadores, de leitura fácil.  Pode também ser usado como material para adolescentes, possibilitando um bom esclarecimento sobre bullying, tanto como ocorre no cotidiano como em seu aspecto mais teórico.
5. Bullying, Vamos mudar de atitude!, de Jefferson Galdino, Ed. Noovha America, 2009. Bom livro para adolescentes mais jovens.  Narra o caso de Joca, um menino para quem a escola era uma verdadeira tortura.  Mostra também as ações empreendidas para combater o bullying dentro da escola, com o envolvimento de toda comunidade.
6. Valentões, fofoqueiros e falsos amigos – Torne-se à prova de bullying, de J. Alexander, Ed. Rocco Jovens Leitores, 2009. Livro bastante interessante, em que a autora pretende ensinar formas de se fortalecer e “criar um escudo à prova de bullying”.  Bem ilustrado e contém vários testes que despertam a curiosidade dos leitores.
7. Pedro e o menino valentão, de Ruth Rocha, Melhoramentos, 2009. Ruth Rocha, grande autora da literatura infantil no Brasil, nos traz uma boa historinha para crianças sobre a perseguição de um menino por um mais velho.  A solução encontrada pela família foi colocar o filho na aula de judô.  O ideal é aprender a revidar?  O judô aumentou a confiança da criança e ele se sentiu mais forte?  Bons temas para serem refletidos com os alunos e filhos!
8. Ela disse, Ele disse, de Thalita Rebouças, Rocco Jovens Leitores. 2010. O livro é bem escrito, de leitura muito agradável para adolescentes.  Tanto que vou colocar a resenha que minha filha adolescente fez para a escola:
“Ela disse, Ele disse (Thalita Rebouças) é um livro que fala sobre situações cotidianas da maioria dos adolescentes e pré adolescentes.  Narrado por Rosa e Léo, o livro mostra o modo de pensar de meninos e meninas, a reação dos dois sexos a uma mesma situação.
Os dois são novos no colégio. Rosa vem de Vitória – ES, enquanto Léo vem de outra escola do Rio de Janeiro, e os dois buscam fazer novas amizades. Para Léo, se enturmar foi muito mais fácil, porque entrou no time de futebol. Já para Rosa, foi um pouco mais complicado, mas nada que a tenha  atrapalhado por muito tempo.
Mesmo que sem admitir, Rosa havia se apaixonado por Léo, que também sentia algo por ela. Mas, Júlia (amiga de Rosa) também se sentia atraída por ele e não deixava que essa “atração” passasse despercebida, o que irritava Rosa.
Quando Léo decide defender um amigo diante de um dos meninos mais populares da escola, seus antigos “amigos” se revoltam contra ele e o perseguem. Léo sofre bullying até que decide encarar os agressores e briga com o menino popular. Depois de enfrentá-lo, o vídeo da briga vai para o YouTube e Léo passa a ser idolatrado por muitos da sua escola.
Aos poucos, Léo e Rosa vão assumindo o que sentem um pelo outro e passam a viver um romance adolescente.”
9. Lilás, uma menina diferente – de Mary Whitcomb, Cosac Naify, 2003. Lilás é uma menina nova na escola, com hábitos muito diferentes e que é olhada com certa resistência pelos colegas devido às suas esquisitices.  No entanto, demonstra uma grande resistência e se faz aceita pelo grupo.  Livro muito bom para se trabalhar a diversidade, a aceitação e convivência com a diferença.  Muito bom para crianças da Educação Infantil e primeiros anos do Ensino Fundamental.
10. Laís, a fofinha, de Walcyr Carrasco, Editora Ática. Acaba de ser lançado, ainda não li, mas já fica como sugestão.
Editora Ática lança ‘Laís, a fofinha’
A Editora Ática acaba de lançar o mais novo livro da Coleção Todos Juntos, de Walcyr Carrasco. ‘Laís, a fofinha’ trata, de maneira sutil e adequada às crianças, temas atuais e preocupantes como autoestima, bullying e obesidade infantil, por meio da história de uma menina gordinha que sofre com gozações e apelidos dos colegas da escola.
De tanto ouvir as outras crianças a chamarem de gorda, Laís acaba acreditando que é feia e se fecha em sua tristeza. Mas quando surge a oportunidade de realizar o sonho de ser atriz, a menina precisa de coragem para se aceitar como é.
A atriz Julia Lemmertz participou do lançamento e recomenda o livro. “‘Laís, a fofinha’ fala, de uma forma bem bonita e delicada, das diferenças entre as pessoas. Nem todo mundo é igual e a beleza não é uma só: existem várias formas de ser bonito. Este livro ajuda as pessoas a aceitarem as diferenças. Por isso recomendo, inclusive para que os pais leiam junto com seus filhos”, disse a atriz.
Ficha técnica
Título: Laís, a fofinha
Coleção: Todos Juntos
Autor: Walcyr Carrasco
Faixa etária: a partir de 5 anos (leitura acompanhada)
Páginas: 40
Formato: 23 x 28 cm
Preço: R$ 26,90
10. A Caolha, conto de Júlia Lopes de Almeida (1862-1934), in Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século, Editora Objetivo, RJ, 2000.
Bom conto para ser trabalhado com alunos do Ensino Médio, mostrando que o bullying  já existia no início do século passado.  Descreve  o sofrimento de uma criança e depois rapaz que, por ser filho de uma mulher sem um olho, recebeu o apelido de filho da caolha.
A seguir um trecho do conto:
“Quando em criança entrou para a escola pública da freguesia, começaram logo os colegas, que o viam ir e vir com a mãe, a chamá-lo – o filho da caolha.
Aquilo exasperava-o; respondia sempre.
Os outros riam-se e chacoteavam-no; ele queixava-se aos mestres, os mestres ralhavam com os discípulos, chegavam mesmo a castigá-los – mas a alcunha pegou, já não era só na escola que o chamavam assim.”
11. Albert, de Alberto Goldin, Coleção Andorinha. São Paulo: Berlendis & Vertecchia Editores, 1998. O livro conta a vida de Albert Einstein, um menino diferente de todos os outros de sua idade. Mostra seu interesse pela contemplação da natureza e a falta de entrosamento com colegas de sala.  Embora não trate de bullying, pode ser trabalhado para a aceitação é tolerância das diferenças.
12. Diário da Carol, Ines Stanisieri, Ed. Planeta
Os anos de escola podem ser um período complicado para quem não se encaixa nos padrões. Brincadeiras e piadas sempre ocorreram, mas há algum tempo este tipo de coisa atraiu a atenção ao passar dos limites.
O bullying tem preocupado pais e educadores, especialmente por causar danos psicológicos que acompanharão a pessoa por toda a vida. Por conta disso, muitos autores tem se dedicado a escrever para o público em tom de alerta.
“Diário da Carol” é um livro infantojuvenil que trata de todos os problemas e dúvidas que surgem quando uma garota entra na adolescência.
Escrito como uma menina de 12 anos se confidenciando para seu caderno, mostra suas preocupações com o primeiro beijo, aparência, peso e muitos outros temas.
Autor: Inês Stanisiere
Editora: Planeta
Páginas: 80
Quanto: R$ 24,90
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha
12. Coleção de livros infantis sobre bullying
COLEÇÃO BULLYING NÃO É BRINCADEIRA JUST EDITORA AUTORA: Silmara Rascalha Casadei ILUSTRADOR: Ricardo Girotto PREÇO SUGERIDO: R$ 24,90 cada livro
É possível adquirir a coleção  através do site da Just Editora: www.justeditora.com.br
A) OS LACINHOS DE BILÚ As amiguinhas da escola de Bilú estavam usando lacinhos novos da marca Pet. Mas sua mãe não tinha dinheiro para comprá-los. As amigas, então, passaram a deixá-la de lado até que sua mãe resolve presenteá-la com o mais belo lacinho feito por ela mesma. Bilú descobre assim, que o que tem mesmo valor são os laços de ternura.
B) OS ÓCULOS DO DUDU Quando os óculos do cachorrinho Dudu ficaram prontos ele ficou muito entusiasmado. Finalmente poderia enxergar melhor todas as coisas. Ele foi para a escola feliz e ansioso para mostrar a novidade aos amigos. Mas quando chegou, foi uma gozação só. Todos riram e começaram a chamá-lo que ‘quatro olhos’. A partir daí, Dudu começa a sofrer muito com a situação.
C)MEU AMIGO, O COTÓ
Cotó foi abandonado na rua quando nasceu. Sem conhecer nada do mundo, logo foi atropelado gravemente. Por sorte uma veterinária o socorreu, mas Cotó perdeu uma patinha. Com suas três patinhas sonha em participar de uma maratona. Mas serão muitos os desafios que Cotó terá que passar para realizar seu sonho.
D)QUANDO TOMÉ ENGORDOU
O cachorrinho Tomé é sorridente e amigo de todos. Mas, ultimamente, está um tanto espaçoso e nem sempre cabe em todos os lugares. Além disso, sente-se meio esquisito, pois parece que os amigos só vão gostar dele se estiver fazendo um favor a alguém. Será que Tomé conseguirá ser amado por todos, mesmo estando acima do peso?
E)GIÓIA, UMA CACHORRA DIFERENTE
Quando Gióia chegou ao canil os cachorros a acharam diferente, pois ela era animada e alegre demais. Começou a ser chamada por todos de vira-lata o que a deixou muito triste. Mas seus amigos terão uma surpresa quando souberem da realidade.
F)A TECA FICOU SOZINHA
Na escola nova Teca achou que faria boas amizades. A professora pediu que Dida mostrasse tudo a Teca. As duas ficaram amigas, mas os outros colegas começaram a dizer que Teca estava roubando Dida deles. Dida quis defender Teca, mas a turma não deu chance, puxou a Dida e a Teca ficou sozinha. Até que todos entendessem que a Teca poderia ser uma boa amiga, ela passaria por muitas dificuldades.
13. Bullying e suas implicações no ambiente escolar, de Sônia Maria de Souza Pereira, Paulus, 2a. ed. 2010. “A intenção foi trazer um suporte teórico para contribuir no entendimento do bullying como um problema gravíssimo que acontece no âmbito escolar….”
O livro, resultado do trabalho monográfico da autora, é bastante interessante para uma revisão teórica sobre agressão no ambiente escolar e, mais especificamente sobre o bullying. Certamente será de grande auxílio para os estudantes que estão elaborando seus TCCs e monografias.
14. Três contra um, de Rosângela Vieira Rocha
“Gabriel é um menino nascido na roça, que vai morar na cidade para estudar. Ele e o irmão passam a semana sozinhos com a mãe, enquanto o pai só vem vê-los aos domingos, pois não pode largar o sítio onde obtém o sustento da família. Tudo daria certo se ele não fosse perseguido na escola por três colegas, que fazem de tudo para dificultar a sua vida e torná-la quase impossível.” O livro apresenta uma situação clara de bullying e Gabriel reage de maneira típica: tenta esconder o que está passando, evita a escola. Ao final, com o conhecimento dos pais, a escola toma uma atitude. Vale a pena conferir!
15. O sussurro da mulher baleia, de Alonso Cueto. Para adultos que queiram conhecer mais sobre bullying embora o termo não seja nunca citado. Romance maravilhoso e que vale a pena ler!

Avaliar para ensinar melhor

Da análise diária dos alunos surgem maneiras de fazer com que todos aprendam




Quem procura um médico está em busca de pelo menos duas coisas, um diagnóstico e um remédio para seus males. Imagine sair do consultório segurando nas mãos, em vez da receita, um boletim. Estado geral de saúde nota 6, e ponto final. Doente nenhum se contentaria com isso. E os alunos que recebem apenas uma nota no final de um bimestre, será que não se sentem igualmente insatisfeitos? Se a escola existe para ensinar, de que vale uma avaliação que só confirma "a doença", sem identificá-la ou mostrar sua cura? 

Assim como o médico, que ouve o relato de sintomas, examina o doente e analisa radiografias, você também tem à disposição diversos recursos que podem ajudar a diagnosticar problemas de sua turma. É preciso, no entanto, prescrever o remédio. "A avaliação escolar, hoje, só faz sentido se tiver o intuito de buscar caminhos para a melhor aprendizagem", afirma a consultora Jussara Hoffmann. 

Ênfase no aprender


Não é de hoje que existe esse modelo de avaliação formativa. A diferença é que ele é visto como o melhor caminho para garantir a evolução de todos os alunos, uma espécie de passo à frente em relação à avaliação conhecida como somativa. 

Para muitos professores, antes valia o ensinar. Hoje a ênfase está no aprender. Isso significa uma mudança em quase todos os níveis educacionais: currículo, gestão escolar, organização da sala de aula, tipos de atividade e, claro, o próprio jeito de avaliar a turma. 

O professor deixa de ser aquele que passa as informações para virar quem, numa parceria com crianças e adolescentes, prepara todos para que elaborem seu conhecimento. Em vez de despejar conteúdos em frente à classe, ele agora pauta seu trabalho no jeito de fazer a garotada desenvolver formas de aplicar esse conhecimento no dia-a-dia. 

Na prática, um exemplo de mudança é o seguinte: a média bimestral é enriquecida com os pareceres. Em lugar de apenas provas, o professor utiliza a observação diária e multidimensional e instrumentos variados, escolhidos de acordo com cada objetivo. 

A avaliação formativa não tem como pressuposto a punição ou premiação. Ela prevê que os estudantes possuem ritmos e processos de aprendizagem diferentes. Por isso, o professor diversifica as formas de agrupamento da turma. 

Conhecer o aluno


A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), aprovada em 1996, determina que a avaliação seja contínua e cumulativa e que os aspectos qualitativos prevaleçam sobre os quantitativos. Da mesma forma, os resultados obtidos pelos estudantes ao longo do ano escolar devem ser mais valorizados que a nota da prova final. 

"Essa nova forma de avaliar põe em questão não apenas um projeto educacional, mas uma mudança social", afirma Sandra Maria Zákia Lian Sousa, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. "A mudança não é apenas técnica, mas também política." Tudo porque a avaliação formativa serve a um projeto de sociedade pautado pela cooperação e pela inclusão, em lugar da competição e da exclusão. Uma sociedade em que todos tenham o direito de aprender. 

Para que a avaliação sirva à aprendizagem é essencial conhecer cada aluno e suas necessidades. Assim o professor poderá pensar em caminhos para que todos alcancem os objetivos. O importante, diz Janssen Felipe da Silva, pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco, não é identificar problemas de aprendizagem, mas necessidades. 

Teoria

Quando a LDB estabelece que a avaliação deve ser contínua e priorizar a qualidade e o processo de aprendizagem (o desempenho do aluno ao longo de todo o ano e não apenas numa prova ou num trabalho), usa outras palavras para expressar o que o jargão pedagógico convencionou chamar de avaliação formativa. O primeiro a usar essa expressão foi o americano Michael Scriven, em seu livro Medotologia da Avaliação, publicado em 1967. Segundo ele, só com observação sistemática o educador consegue aprimorar as atividades de classe e garantir que todos aprendam. 

Muitos vêem a avaliação formativa como uma "oposição" à avaliação tradicional, também conhecida como somativa ou classificatória. Esta se caracteriza por ser realizada geralmente ao final de um programa, com o único objetivo de definir uma nota ou estabelecer um conceito - ou seja, dizer se os estudantes aprenderam ou não e ordená-los. Na verdade as duas não são opostas mas servem para diferentes fins. A avaliação somativa é o melhor jeito de listar os alunos pela quantidade de conhecimentos que eles dominam - como no caso do vestibular ou de outros concursos. A formativa é muito mais adequada ao dia-a-dia da sala de aula.
O aluno como parceiro

Se seu objetivo é fazer com que todos aprendam, uma das primeiras providências é sempre informar o que vai ser visto em aula e o porquê de estudar aquilo. Isso é parte do famoso contrato pedagógico ou didático, aquele acordo que deve ser estabelecido logo no início das aulas entre estudantes e professor com normas de conduta na sala de aula. 

A criança deve saber sempre onde está e o que fazer para avançar. Assim, fica mais fácil se envolver na aprendizagem. E dá para fazer isso até na pré-escola, desde que a maneira de dizer seja adequada à idade e ao nível de desenvolvimento da turma. 

Quando o educador discute com os estudantes os objetivos de uma atividade ou unidade de ensino, dá meios para que eles acompanhem o próprio desenvolvimento. 

E isso pode ser feito por meio da auto-avaliação (leia o texto ao lado). "Se o professor quer que os alunos se avaliem, deve explicitar por que e para que fazer isso. Ele precisa perceber como essa prática ajuda a direcionar todo o processo de aprendizagem", diz Janssen Felipe da Silva. 

As conclusões da auto-avaliação podem servir tanto para suscitar ações individuais como para redefinir os rumos de um projeto para a classe como um todo. Esse processo pode ir além da análise do domínio de conteúdos e conceitos e mostrar como está a relação entre os colegas e com o professor. 

A melhor maneira de pô-la em prática, na opinião de Janssen, é dizer à turma em que aspecto cada um deve se auto-avaliar. Uma lista de pontos trabalhados em sala pode ser apresentada aos alunos para que eles digam como se desenvolveram em relação a cada item. 

Durante o processo de auto-avaliação, é importante que todos possam expor sua análise, discutir com o professor e os colegas, relatar suas dificuldades e aquilo que não aprenderam. "Nada garante que o olhar de uma criança vá ser igual ao do colega ou do professor", explica Sandra Maria Zákia Lian Sousa. 

Além de ser mais um instrumento para melhorar o trabalho docente, a auto-avaliação é uma maneira de promover a autonomia de crianças e dos adolescentes. Para que isso realmente aconteça, o processo necessita ser democrático. "O aluno deve dizer sem medo de ser punido o que sabe e o que não sabe. Se ele percebe que não há punição nem exclusão, mas um processo de melhoria, vai pedir para se avaliar", garante Janssen.

Um alerta 

O professor que se atém ao comportamento do estudante e o rotula acaba tendo uma atitude prejudicial. O agressivo e conversador sempre tende a ser visto dessa maneira. Assim como o atencioso e comportado. Por isso, não classifique seus alunos como se eles fossem sempre do mesmo jeito, com hábitos imutáveis - e, o mais importante, incapazes de se transformar. O ideal é tentar entender por que se comportam de determinada forma diante de uma situação. Rotular não leva a nada.


 
"É difícil mudar, mas compensa"

Se você acha que é difícil mudar a maneira de avaliar, veja como a consultora Jussara Hoffmann responde às principais dúvidas dos professores. 

É possível alterar o paradigma da avaliação diante das exigências burocráticas do sistema? Não é melhor começar por alterá-las? 
As exigências maiores do sistema são justamente uma avaliação contínua, o privilégio aos aspectos qualitativos e aos regimes não seriados. É isso o que diz a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. No entanto, não são os estatutos que levam o professor a tomar consciência do significado de qualquer mudança. 

O professor não acaba responsabilizado pelo fracasso de alunos desinteressados e desatentos? 
O professor não deve ser responsável pelos alunos, mas comprometido com a aprendizagem. Isso ele só faz se estiver atento nas respostas, nas dificuldades e nos interesses de cada um, não se baseando na média do grupo. 

Como é possível alterar a prática considerando a existência de classes numerosas e o reduzido tempo do educador com as turmas
Por meio de experiências educativas em que os alunos interajam. Isso inclui sistemas de monitorias, trabalhos em duplas ou em grupos diversificados. Durante as atividades coletivas, ele circula, insiste na participação de um e de outro. Se a experiência interativa for significativa, o reflexo será percebido nas atividades individuais. O que ele não pode é querer dar uma aula particular a cada um dos 40 alunos. 

Um professor desenvolveu um conteúdo e 70% dos alunos aprenderam. Se continuar trabalhando com os 30% restantes ele vai atrasar a maioria? 
Não! Se o professor organizar uma atividade suficientemente rica e desafiadora, os 70% estarão sempre evoluindo e ampliando conhecimentos, enquanto os demais poderão construir o entendimento. 

Em que medida é possível formar alunos competentes sem uma prática avaliativa exigente e classificatória, isto é, competitiva? 
O modelo que vem pautando a escola é o do vestibular, que exacerba a competitividade entre os alunos. Esse modelo só favorece dois ou três numa sala de aula, porque todos os outros são "menos" que esses. A formação de um profissional competente está atrelada à autonomia moral, ao desenvolvimento intelectual, a uma auto-estima elevada. E a competição na escola não favorece isso. 

Dá certo substituir as notas por relatórios ou pareceres? 
Respondo com outra pergunta. Dá certo relatar a aprendizagem de um aluno por meio de números? Eles são subjetivos e genéricos e não refletem com precisão muitas situações de aprendizagem que ficam claras em pareceres (leia o texto ao lado). Considero a avaliação o acompanhamento do processo de construção de conhecimento. E as médias não permitem isso.




Instrumentos diversificados

Na avaliação formativa nenhum instrumento pode ser descrito como prioritário ou adotado como modelo. A diversidade é que vai possibilitar ao professor obter mais e melhores informações sobre o trabalho em classe (leia o texto ao lado). "A avaliação precisa ser processual, contínua e sistematizada", diz Janssen Felipe da Silva. Nada pode ser aleatório, nem mesmo a observação constante. Ela só será formativa para o aluno se ele for comunicado dos resultados. 

Janssen explica ainda que os instrumentos utilizados devem ter coerência com a prática diária. "Não é possível ser construtivista na hora de ensinar e tradicional na hora de avaliar", explica. Outro ponto a ser lembrado por todo professor: cada conteúdo ou matéria exige uma forma diferente de ensinar e também de avaliar. "Não posso fazer uma prova e perguntar: você é solidário?", exemplifica. "É preciso criar uma situação em que seja possível verificar isso." 

Os instrumentos devem contemplar também as diferentes características dos estudantes. "Quem avalia sempre por meio de seminários prejudica aquele que tem dificuldades para se expressar oralmente", exemplifica. A viabilidade é outro ponto essencial. Ao planejar um questionário, deve-se evitar textos ambíguos e observar o tempo que será necessário para respondê-lo adequadamente.

Qualquer que seja o instrumento que adote, o professor deve ter claro se ele é relevante para compreender o processo de aprendizagem da turma e mostrar caminhos para uma intervenção visando sua melhoria. 

Rodrigo: diferentes maneiras de avaliar


Várias estratégias de ensino, várias formas de avaliar. Nisso se baseiam as aulas de História para a 8ª série do professor Rodrigo Perla Martins, do Colégio Monteiro Lobato, em Porto Alegre. Aplicando uma série de tarefas avaliativas, ele consegue analisar formas de expressão do aluno, como ler e interpretar, redigir, desenhar, buscar informações. Os instrumentos são aplicados de acordo com o tema trabalhado e todas as impressões viram relatório. 

O objetivo é sempre o mesmo: fazer Rodrigo descobrir como levar a turma a avançar mais. 
1. Um dos temas trabalhados no ano passado foi navegações. Numa das avaliações, Rodrigo pediu uma produção visual, um desenho ou uma história em quadrinhos em que os alunos tinham de descrever o encontro entre nativos e portugueses na chegada destes ao Brasil, em 1500. "A maneira como os dois povos se relacionaram, o cenário, as roupas, os hábitos e a língua deveriam estar presentes na cena", diz Rodrigo. 

2. Em seguida Rodrigo trabalhou os reflexos no Brasil de hoje da chegada dos colonizadores. É constante em seu planejamento a ponte entre fatos históricos e a atualidade. Depois de ler reportagens de jornais, a turma escreveu textos sobre os reflexos da colonização portuguesa na vida dos nativos hoje e sobre a relação entre as capitanias hereditárias e o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra. Em exercícios como esse, ele pode analisar se os estudantes conseguem estabelecer relações, se os argumentos têm coerência, se os dados citados são precisos e se saem do senso comum. 

3. Uma das estratégias de ensino de Rodrigo são os seminários, leituras de textos acompanhadas por ele. Um desses textos foi a carta de Pero Vaz de Caminha. "Surgem perguntas e idéias ótimas durante a discussão", revela Rodrigo. A estratégia é perfeita para que ele analise as dúvidas e o raciocínio que o aluno está fazendo. Para finalizar, pediu uma nova produção de texto, desta vez uma carta aos portugueses. O objetivo, contar as impressões de quem pusesse os pés pela primeira vez no Brasil hoje. 

Conceitos não assimilados ou objetivos não atingidos são sempre revistos. E isso pode ocorrer em atividades interdisciplinares. Com a professora de Arte, Rodrigo retomou os aspectos culturais do encontro entre portugueses e índios. Os alunos capturaram imagens na internet e reconstruíram a cena. 

4. As dificuldades mais sérias são trabalhadas em atividades complementares, realizadas num horário extra. "Pode ser uma pesquisa dirigida na biblioteca, seguida de uma nova produção de texto", cita. Nessa pesquisa, o professor analisa se o estudante consegue construir um conceito com as próprias palavras, em vez de apenas copiar, ou expressar um ponto de vista próprio. Apesar de não existir uma só verdade histórica, é possível avaliar se as idéias são mais ou menos coerentes com as fontes consultadas. 

A cada etapa do processo avaliativo o professor elege alguns aspectos e objetivos a analisar. "Sistematizando essas etapas, ao final do tema navegações eu tinha uma visão geral de cada um ao longo de todo o processo", finaliza Rodrigo.

Trocando em miúdos
No trabalho de Rodrigo, a avaliação visa à melhoria da aprendizagem porque... 

o professor não tem a preocupação de classificar melhores e piores, mas de fazer com que todos aprendam. Para isso, diversifica o planejamento; 

os alunos são respeitados em sua individualidade e podem observar seus progressos em relação a si próprios, dentro do ritmo de aprendizagem de cada um.


BIBLIOGRAFIA
Avaliação: Da Excelência à Regulação das Aprendizagens entre Duas Lógicas, Philippe Perrenoud, 183 págs., Ed. Artmed, tel. (0_ _51) 330-3444, 32 reais 

Avaliação Educacional, Heraldo Marelim Vianna, 193 págs., Ed. Ibrasa, tel. (11) 3107-4100, 30 reais 

Avaliação Desmistificada, Charles Hadji, 136 págs., Ed. Artmed, 29 reais 

Avaliação Mediadora, Jussara Hoffmann, 197 págs., Ed. Mediação, tel. (51) 3311-7177, 26 reais 

Avaliação: Mito & Desafio, Jussara Hoffmann, 118 págs., Ed. Mediação, 24 reais 

Avaliar para Promover, Jussara Hoffmann, 217 págs., Ed. Mediação, 28 reais 

Erro e Fracasso na Escola, Julio Groppa Aquino, 153 págs., Ed. Summus, tel. (11) 872-3322, 24 reais








Dar visto nos cadernos é uma boa forma de acompanhar o desenvolvimento dos alunos?

Por muito tempo, os vistos foram usados para vigiar e punir quem não fazia tarefa. Esse cenário mudou e hoje a prática pode ser considerada um procedimento de avaliação. Para tanto, é preciso ir além da assinatura no caderno. Os alunos pequenos, em geral, adoram que o professor veja as lições feitas e deixe nelas sua marca. É preciso, no entanto, olhar os cadernos com atenção. Como o tempo escolar é precioso, dedique dez minutos por aula para as devolutivas e escolha alguns alunos por dia - de modo que, ao fim de um período, todos sejam contemplados. Pare nas carteiras e converse com cada criança. Procure saber das dificuldades dela e por que deixou de fazer alguma atividade. O trabalho revelará muito sobre os avanços dos estudantes.

HELOISA RAMOS-NOVA ESCOLA


"E LEMBRE-SE: AVALIAÇÃO DE ENSINO E APRENDIZAGEM !"