A lenda do Girassol
A lenda do Girassol
Dizem que existia no céu uma estrelinha tão apaixonada pelo sol que era a primeira a aparecer de tardinha, no céu, antes que o sol se escondesse. E toda vez que o sol se punha ela chorava lágrimas de chuva.
A lua falava com a estrelinha que assim não podia ser, que estrela nasceu para brilhar de noite, para acompanhar a lua pelo céu, e que não tinha sentido este amor tão desmedido! Mas a estrelinha amava cada raio do sol como se fosse a única luz da sua vida, esquecia até a sua própria luzinha.
Um dia ela foi falar com o rei dos ventos para pedir a sua ajuda, pois queria ficar olhando o sol, sentindo o seu calor, eternamente, por todos os séculos. O rei do vento, cheio de brisas, disse à estrelinha que o seu sonho era impossível, a não ser que ela abandonasse o céu e fosse morar na Terra, deixando de ser estrela.
A estrelinha não pensou duas vezes: virou estrela cadente e caiu na terra, em forma de uma semente. O rei dos ventos plantou esta sementinha com todo o carinho, numa terra bem macia. E regou com as mais lindas chuvas da sua vida.
A sementinha virou planta. Cresceu sempre procurando ficar perto do sol. As suas pétalas foram se abrindo, girando devagarinho, seguindo o giro do sol no céu. E, assim, ficaram pintadas de dourado, da cor do sol.
É por isso que os girassóis até hoje explodem o seu amor em lindas pétalas amarelas, inventando verdadeiras estrelas de flores aqui na Terra.
A Paz e a Lei
APaz e a Lei
A paz!! Não a vejo. Não há, como não pode existir, senão uma, é a que assenta na
lei, na punição dos crimes, na responsabilidade dos culpados, na guarda rigorosa das
instituições livres. Outra espécie de paz, não é senão a paz da servidão, a paz indigna e
aviltante dos países oprimidos, a paz abjeta que a nossa índole, o nosso regímen
essencialmente repelem, a paz que humilha todos os homens honestos, a paz que
nenhuma criatura humana pode tolerar sem abaixar a cabeça envergonhada.
Esta não é a paz que eu quero. Quando peço a observância da lei, é justamente porque a
lei é o abrigo da tolerância e da bondade. Não há outra bondade real, Srs. Senadores,
senão aquela que consiste na distribuição da justiça, isto é, no bem distribuído aos bons
e no castigo dispensado aos maus.
E a tolerância, que vem a ser senão a observância da igualdade legal? Porventura
temos sido nós iguais perante a lei, neste regímen, nestes quatro anos de Governo,
especialmente? Há algum chefe de partido, há algum cabeça de grupo, algum amigo
íntimo da situação, algum parente ou chegado às autoridades, que não reúna em sua
pessoa um feixe de regalias, que não goze de prerrogativas especiais, que não tenha em
torno de sua individualidade uma guarda e defesa régia ou principesca?
Essa excursão, Srs. Senadores, me levaria longe e poderia por si só absorver os meus
poucos minutos de tribuna nesta sessão.
Nas poucas vezes em que me atrevo a perturbar a serenidade absoluta deste recinto
e a contrariar os sentimentos dos meus honrados colegas, tenho consciência, Sr.
Presidente, de ter-me colocado sempre em um plano, que não se opõe nem à tolerância
nem à paz; que é, ao contrário, o terreno onde a paz e a tolerância se devem estabelecer,
o único terreno em que nós todos nos poderíamos aproximar e dar-nos as mãos, o
terreno da reconciliação com a lei, com a República, com as suas instituições
constantemente postergadas, debaixo da política sem escrúpulos da atualidade.
Rui Barbosa. ''Discurso no Senado Federal, em 13 de outubro de 1914''. In: Antologia.
Rio de Janeiro, Ediouro, s.d., p. 58-59 (com adaptações)
A Greve das Namoradas
A Greve das Namoradas
Era uma vez um menino. Pequeno no tamanho, mas enorme namorador. Tinha a idade que se podia contar nos dedos das duas mãos, mas suas namoradas não cabiam nos dedos das suas mãos. Quase ninguém sabia o seu nome. Ele era o Namorado. Desde a primeira série o chamavam assim. Agora, na quarta série, continuava a mesma história. Todos o chamavam Namorado.
Namorado era simpático. Tinha dois olhos pequenininhos, mas vivos, muito vivos e sempre sorridentes. Ele tinha uma boca enorme, com dentes grandes, bem brancos. Usava cabelo comprido, meio liso, meio encaracolado nas pontas. Um cabelo preto, tão preto que até parecia que, com os raios do sol, se tornava azul... Namorado tinha a altura normal para um menino de dez anos. Além disso, era um ótimo aluno, um bom companheiro, enfim, tudo aquilo que os professores gostam de dizer que deve ser um aluno. Só tinha aquela mania: namorava todas as meninas de sua sala de aula. Era assim: ele chegava de manhã na aula e dizia:
- Oi, gurias, tudo bem?! E já ia dando beijinho numa e abracinho na outra, puxando trancinha da Sônia, dizendo que-bonita-que-estás-hoje para a Duca, e assim por diante.
No fundo, no fundo, cada uma ficava chateada, porque Namorado dava atenção para todas elas, mas ao mesmo tempo não dava atenção para nenhuma. E cada qual queria ser a sua namorada, mas isso nunca acontecia. Elas até podiam brigar dizendo “eu sou a namorada principal”, mas isso cada uma poderia querer porque Namorado... nem te ligo, nunca deu atenção maior para uma ou para outra. A cada dia, trazia um presente diferente para alguma de suas namoradas. Porque, diga-se a bem da verdade, namorado era muito carinhoso com todas as namoradas que tinha.
As coisas iam assim, como iam todos os dias, até que certa vez...
- Gurias, vocês viram o que eu vi?
- O que foi que tu viste, Matilde? – as meninas rodeavam a colega, excitadas e curiosas.
- Ontem, na matinê... o Namorado estava com uma outra menina que não é da nossa classe!
- Mas que sem-vergonha!
- Quem é a sirigaita? – foi querendo saber, objetivamente, a Carla.
- Ah, não sei, só sei que não era uma guria da nossa turma. Nem da nossa escola ela era...
- Essa não, e agora, o que vamos fazer?! – choramingava a Susana.
- Eu acho que a gente tem de dar uma lição no Namorado. Agora chega, gurias. Namorar com todas nós a gente aceita, mas trair todas nós com uma estranha...
- Temos de nos vingar.
Naquele dia, o recreio foi muito pequeno para tudo o que as meninas tinham de combinar. Combinar e executar. Executar a partir do dia seguinte. Que, dito e feito, correu como elas haviam combinado. Namorado chegou de manhã na escola e como sempre...
- Oi, gurias, tudo bem?!
Só que dessa vez nenhuma menina respondeu. Namorado repetiu a pergunta. Mais do que não responder, as meninas se afastaram, viraram-lhe as costas, saíram de perto, se fizeram de surdas. Namorado estranhou.
- Oi, gurias, algum problema?
Ninguém respondeu para Namorado e, como a professora já vinha chegando, as coisas ficaram para a hora do recreio. Durante a aula, Namorado sentiu que havia, realmente, algum problema:
- Marisa, me empresta a borracha?
A Marisa não emprestou.
- Tânia, como é a resposta desse problema de matemática?
A Tânia estava surda.
Namorado, pela primeira vez, se sentiu sozinho. Pior: solitário. Terrível! Sem namorada!
Na hora do recreio foi outro problema para ele. Normalmente Namorado convidava alguma menina para ir até o bar do colégio lanchar. Naquele dia, nenhuma aceitou.
Namorado voltou para a segunda parte da aula muito preocupado. Nunca vivera uma situação assim. Esperou que no dia seguinte as coisas mudassem. Não mudaram. E nem no seguinte, e menos ainda no outro... Quando chegou a sexta-feira, Namorado ainda tentou fingir que não havia nada:
- Carminha, a gente vai no cinema no domingo de tarde?
- Não, no domingo vou sair com meu primo...
Namorado sentiu uma coisa muito esquisita no peito, no coração, na boca, algo assim que ele não entendeu muito bem, mas que deu uma fisgada nele, igual ao anzol quando pega na boca do peixe.
Namorado tentou com Julia. E com Sandra. E com Janice... Com todas era a mesma coisa, quer dizer, cada uma tinha uma desculpa diferente. Nenhuma aceitou sair naquele fim de semana com Namorado que, pela primeira vez, ficou um fim de semana sem namorada... Pensou, pensou... “Troco de turma? Troco de escola? Arranjo uma namorada nova? O que eu faço?”
Na segunda-feira, imaginou Namorado, as coisas voltariam a ser como antes. Quer dizer, como sempre haviam sido. Mas chegou a segunda-feira e Namorado viu que, pelo contrário, as coisas continuavam como nos últimos dias, quer dizer, as meninas todas emburradas com ele. Daí, Namorado começou a descobrir o que era solidão. O que era ficar sozinho. E começou a se dar conta de que, na verdade, antes, ele era namorado de todas as meninas, mas verdadeiramente não tinha uma única namorada. Talvez por isso as colegas estivessem sentidas com ele... E refletindo sobre isso, ficou andando pelo pátio, meio sozinho, meio triste, quando bateu em alguém...
- Desculpe...
Sorriu, constrangido. Era Beatriz, da outra quarta série. Namorado lembrou que Beatriz era uma das poucas meninas que não era sua namorada. Talvez porque todos a achassem feia, até ele. Mas agora, com óculos... Com óculos? Cadê os óculos?
- Acho que quebraram... – falou Beatriz, torcendo as mãos, nervosa.
Namorado também ficou nervoso. Que azar! Quebrar os óculos da Beatriz bem agora! Não dava sorte mesmo! Namorado apressou-se a pegar os óculos que estavam no chão. Tirou o lenço, limpou as lentes com cuidado e devolveu os óculos para Beatriz, que os colocou no rosto e sorriu, tímida:
- Obrigada! Você nem me viu, não é?
- Não, eu estava pensando...
- É chato a gente ficar sozinho, não é?
- Como é que você sabe, quer dizer... você acha?
- É, eu quase sempre estou sozinha, tanto que você nem me viu!
Namorado encabulou. Era verdade. Mas naquela hora, até que era uma sorte poder conversar com Beatriz. E então o recreio passou depressa, quase tão depressa quanto passava antes, quando Namorado estava sempre rodeado de suas namoradas. Por isso, no final do recreio, Namorado convidou:
- Você me espera na saída?
- Mas eu nem sei seu nome!
Namorado deu-se conta de que ninguém, antes, havia lhe feito essa pergunta.
- Eu me chamo Dante, e você?
- Beatriz. Te espero na saída, sim... Dante.
(Fonte: HOHLFELDT, Antônio. A greve das namoradas. São Paulo, Editora Ática, 1999 – Fragmento – Adaptação)
Era uma vez um menino. Pequeno no tamanho, mas enorme namorador. Tinha a idade que se podia contar nos dedos das duas mãos, mas suas namoradas não cabiam nos dedos das suas mãos. Quase ninguém sabia o seu nome. Ele era o Namorado. Desde a primeira série o chamavam assim. Agora, na quarta série, continuava a mesma história. Todos o chamavam Namorado.
Namorado era simpático. Tinha dois olhos pequenininhos, mas vivos, muito vivos e sempre sorridentes. Ele tinha uma boca enorme, com dentes grandes, bem brancos. Usava cabelo comprido, meio liso, meio encaracolado nas pontas. Um cabelo preto, tão preto que até parecia que, com os raios do sol, se tornava azul... Namorado tinha a altura normal para um menino de dez anos. Além disso, era um ótimo aluno, um bom companheiro, enfim, tudo aquilo que os professores gostam de dizer que deve ser um aluno. Só tinha aquela mania: namorava todas as meninas de sua sala de aula. Era assim: ele chegava de manhã na aula e dizia:
- Oi, gurias, tudo bem?! E já ia dando beijinho numa e abracinho na outra, puxando trancinha da Sônia, dizendo que-bonita-que-estás-hoje para a Duca, e assim por diante.
No fundo, no fundo, cada uma ficava chateada, porque Namorado dava atenção para todas elas, mas ao mesmo tempo não dava atenção para nenhuma. E cada qual queria ser a sua namorada, mas isso nunca acontecia. Elas até podiam brigar dizendo “eu sou a namorada principal”, mas isso cada uma poderia querer porque Namorado... nem te ligo, nunca deu atenção maior para uma ou para outra. A cada dia, trazia um presente diferente para alguma de suas namoradas. Porque, diga-se a bem da verdade, namorado era muito carinhoso com todas as namoradas que tinha.
As coisas iam assim, como iam todos os dias, até que certa vez...
- Gurias, vocês viram o que eu vi?
- O que foi que tu viste, Matilde? – as meninas rodeavam a colega, excitadas e curiosas.
- Ontem, na matinê... o Namorado estava com uma outra menina que não é da nossa classe!
- Mas que sem-vergonha!
- Quem é a sirigaita? – foi querendo saber, objetivamente, a Carla.
- Ah, não sei, só sei que não era uma guria da nossa turma. Nem da nossa escola ela era...
- Essa não, e agora, o que vamos fazer?! – choramingava a Susana.
- Eu acho que a gente tem de dar uma lição no Namorado. Agora chega, gurias. Namorar com todas nós a gente aceita, mas trair todas nós com uma estranha...
- Temos de nos vingar.
Naquele dia, o recreio foi muito pequeno para tudo o que as meninas tinham de combinar. Combinar e executar. Executar a partir do dia seguinte. Que, dito e feito, correu como elas haviam combinado. Namorado chegou de manhã na escola e como sempre...
- Oi, gurias, tudo bem?!
Só que dessa vez nenhuma menina respondeu. Namorado repetiu a pergunta. Mais do que não responder, as meninas se afastaram, viraram-lhe as costas, saíram de perto, se fizeram de surdas. Namorado estranhou.
- Oi, gurias, algum problema?
Ninguém respondeu para Namorado e, como a professora já vinha chegando, as coisas ficaram para a hora do recreio. Durante a aula, Namorado sentiu que havia, realmente, algum problema:
- Marisa, me empresta a borracha?
A Marisa não emprestou.
- Tânia, como é a resposta desse problema de matemática?
A Tânia estava surda.
Namorado, pela primeira vez, se sentiu sozinho. Pior: solitário. Terrível! Sem namorada!
Na hora do recreio foi outro problema para ele. Normalmente Namorado convidava alguma menina para ir até o bar do colégio lanchar. Naquele dia, nenhuma aceitou.
Namorado voltou para a segunda parte da aula muito preocupado. Nunca vivera uma situação assim. Esperou que no dia seguinte as coisas mudassem. Não mudaram. E nem no seguinte, e menos ainda no outro... Quando chegou a sexta-feira, Namorado ainda tentou fingir que não havia nada:
- Carminha, a gente vai no cinema no domingo de tarde?
- Não, no domingo vou sair com meu primo...
Namorado sentiu uma coisa muito esquisita no peito, no coração, na boca, algo assim que ele não entendeu muito bem, mas que deu uma fisgada nele, igual ao anzol quando pega na boca do peixe.
Namorado tentou com Julia. E com Sandra. E com Janice... Com todas era a mesma coisa, quer dizer, cada uma tinha uma desculpa diferente. Nenhuma aceitou sair naquele fim de semana com Namorado que, pela primeira vez, ficou um fim de semana sem namorada... Pensou, pensou... “Troco de turma? Troco de escola? Arranjo uma namorada nova? O que eu faço?”
Na segunda-feira, imaginou Namorado, as coisas voltariam a ser como antes. Quer dizer, como sempre haviam sido. Mas chegou a segunda-feira e Namorado viu que, pelo contrário, as coisas continuavam como nos últimos dias, quer dizer, as meninas todas emburradas com ele. Daí, Namorado começou a descobrir o que era solidão. O que era ficar sozinho. E começou a se dar conta de que, na verdade, antes, ele era namorado de todas as meninas, mas verdadeiramente não tinha uma única namorada. Talvez por isso as colegas estivessem sentidas com ele... E refletindo sobre isso, ficou andando pelo pátio, meio sozinho, meio triste, quando bateu em alguém...
- Desculpe...
Sorriu, constrangido. Era Beatriz, da outra quarta série. Namorado lembrou que Beatriz era uma das poucas meninas que não era sua namorada. Talvez porque todos a achassem feia, até ele. Mas agora, com óculos... Com óculos? Cadê os óculos?
- Acho que quebraram... – falou Beatriz, torcendo as mãos, nervosa.
Namorado também ficou nervoso. Que azar! Quebrar os óculos da Beatriz bem agora! Não dava sorte mesmo! Namorado apressou-se a pegar os óculos que estavam no chão. Tirou o lenço, limpou as lentes com cuidado e devolveu os óculos para Beatriz, que os colocou no rosto e sorriu, tímida:
- Obrigada! Você nem me viu, não é?
- Não, eu estava pensando...
- É chato a gente ficar sozinho, não é?
- Como é que você sabe, quer dizer... você acha?
- É, eu quase sempre estou sozinha, tanto que você nem me viu!
Namorado encabulou. Era verdade. Mas naquela hora, até que era uma sorte poder conversar com Beatriz. E então o recreio passou depressa, quase tão depressa quanto passava antes, quando Namorado estava sempre rodeado de suas namoradas. Por isso, no final do recreio, Namorado convidou:
- Você me espera na saída?
- Mas eu nem sei seu nome!
Namorado deu-se conta de que ninguém, antes, havia lhe feito essa pergunta.
- Eu me chamo Dante, e você?
- Beatriz. Te espero na saída, sim... Dante.
(Fonte: HOHLFELDT, Antônio. A greve das namoradas. São Paulo, Editora Ática, 1999 – Fragmento – Adaptação)
TRECHO MEU PÉ DE LARANJA LIMA
TRECHO MEU PÉ DE LARANJA LIMA
ZEZÉ CORRE E SE DEPARA COM UM PEZINHO DE LARANJA LIMA. OLHA PARA ELE COM DESDÉM
Zezé — que árvore pequena e sem graça!
CHEGA GLÓRIA, IRMÃ DE ZEZÉ
Glória — Mas que lindo pezinho de Laranja Lima! Ele tem tanta personalidade que a gente de longe já sabe que é Laranja Lima! Se eu fosse do seu tamanho, não iria querer outra coisa.
Zezé — Mas eu queria um pé de árvore bem grandão.
Glória — Pense bem Zezé. Ele é novinho ainda. Ele vai crescer junto com você. Vocês dois vão se entender como se fossem dois irmãos. Você viu o galho? Parece até um cavalinho pra você montar.
ZEZÉ CONTINUA EMBURRADO
Glória — Essa zanga não dura Zezé. Vai acabar descobrindo que eu tinha razão. (dá um beijinho em sua cabeça e sai)
Pé de Laranja Lima — Eu acho que sua irmã tem toda razão.
Zezé — sempre todo mundo tem razão. Eu é que não tenho nunca!
Pé de Laranja lima — Não é verdade. Se você me olhasse bem, você acabava descobrindo.
ZEZÉ LEVANTA E OLHA COM ATENÇÃO PARA O PÉ DE LARANJA LIMA. FICA INTRIGADO
Zezé — Mas você fala mesmo?!
Pé de laranja Lima — Não está me ouvindo?
Zezé — Por onde você fala?
Pé de Laranja Lima — Arvore fala por todo canto. Pelas folhas, galhos, raízes. Quer ver? Encoste seu ouvido aqui no meu tronco que você escuta meu coração
ZEZÉ, MEIO INDECISO, COM MEDO, ENCOSTA O OUVIDO NO TRONCO. ESCUTA O CORAÇÃO DA ARVOREZINHA BATER
Pé de Laranja Lima — Viu?
Zezé — Sim. Me diga uma coisa, todo mundo sabe que você fala?
Pé de Laranja Lima — Não. Só você
Zezé — E você vai esperar?
Pé de Laranja Lima — O que?
Zezé — Até eu mudar. Vai demorar mais de uma semana. Será que você não vai esquecer como fala nesse tempo?
Pé de Laranja Lima — Nunca mais. Isto é, pra você só. Você quer ver como sou macio? Monte no meu galho!
ZEZÉ MONTA NA ÁRVORE
Pé de Laranja Lima — Agora balance e feche os olhos
ZEZÉ BALANÇA, DE OLHOS FECHADOS E DÁ UMA RISADA.
Pé de Laranja Lima — Que tal? Você alguma vez na vida teve cavalinho melhor?
Zezé — Nunca! (descendo da árvore) olha, eu vou fazer uma coisa — sempre que eu puder, antes de mudar, venho conversar com você. Agora preciso ir que a Gloria está chegando.
(abraça a árvore) Adeus amigo, você é a coisa mais linda do mundo!
ZEZÉ CORRE E SE DEPARA COM UM PEZINHO DE LARANJA LIMA. OLHA PARA ELE COM DESDÉM
Zezé — que árvore pequena e sem graça!
CHEGA GLÓRIA, IRMÃ DE ZEZÉ
Glória — Mas que lindo pezinho de Laranja Lima! Ele tem tanta personalidade que a gente de longe já sabe que é Laranja Lima! Se eu fosse do seu tamanho, não iria querer outra coisa.
Zezé — Mas eu queria um pé de árvore bem grandão.
Glória — Pense bem Zezé. Ele é novinho ainda. Ele vai crescer junto com você. Vocês dois vão se entender como se fossem dois irmãos. Você viu o galho? Parece até um cavalinho pra você montar.
ZEZÉ CONTINUA EMBURRADO
Glória — Essa zanga não dura Zezé. Vai acabar descobrindo que eu tinha razão. (dá um beijinho em sua cabeça e sai)
Pé de Laranja Lima — Eu acho que sua irmã tem toda razão.
Zezé — sempre todo mundo tem razão. Eu é que não tenho nunca!
Pé de Laranja lima — Não é verdade. Se você me olhasse bem, você acabava descobrindo.
ZEZÉ LEVANTA E OLHA COM ATENÇÃO PARA O PÉ DE LARANJA LIMA. FICA INTRIGADO
Zezé — Mas você fala mesmo?!
Pé de laranja Lima — Não está me ouvindo?
Zezé — Por onde você fala?
Pé de Laranja Lima — Arvore fala por todo canto. Pelas folhas, galhos, raízes. Quer ver? Encoste seu ouvido aqui no meu tronco que você escuta meu coração
ZEZÉ, MEIO INDECISO, COM MEDO, ENCOSTA O OUVIDO NO TRONCO. ESCUTA O CORAÇÃO DA ARVOREZINHA BATER
Pé de Laranja Lima — Viu?
Zezé — Sim. Me diga uma coisa, todo mundo sabe que você fala?
Pé de Laranja Lima — Não. Só você
Zezé — E você vai esperar?
Pé de Laranja Lima — O que?
Zezé — Até eu mudar. Vai demorar mais de uma semana. Será que você não vai esquecer como fala nesse tempo?
Pé de Laranja Lima — Nunca mais. Isto é, pra você só. Você quer ver como sou macio? Monte no meu galho!
ZEZÉ MONTA NA ÁRVORE
Pé de Laranja Lima — Agora balance e feche os olhos
ZEZÉ BALANÇA, DE OLHOS FECHADOS E DÁ UMA RISADA.
Pé de Laranja Lima — Que tal? Você alguma vez na vida teve cavalinho melhor?
Zezé — Nunca! (descendo da árvore) olha, eu vou fazer uma coisa — sempre que eu puder, antes de mudar, venho conversar com você. Agora preciso ir que a Gloria está chegando.
(abraça a árvore) Adeus amigo, você é a coisa mais linda do mundo!
O gato, o galo e o ratinho
O gato, o galo e o ratinho
Um ratinho vivia num buraco com sua mãe. Depois de sair sozinho pela primeira vez, contou a ela:
- Mãe, você não imagina os bichos estranhos que encontrei!
Um era bonito e delicado, tinha pêlo muito macio e um rabo elegante, um rabo que se movia formando ondas.
O outro era um monstro horrível.
No alto da cabeça e debaixo do queixo ele tinha pedaços de carne crua, que balançavam quando ele andava.
De repente os lados do corpo dele se sacudiram e ele deu um grito apavorante.
Fiquei com tanto medo que fugi correndo, bem na hora que ia conversar um pouco com o simpático.
- Ah!, Meu filho! – respondeu a mãe.
– Esse seu monstro era uma ave inofensiva; o outro era um gato feroz, que num segundo teria te devorado. (Fábulas de Esopo. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1.994. p. 46)
1) O moral da historia poderia ser
(a) Jamais engane alguém. (c) Jamais faça mal alguém.
(b) Jamais confie nas aparências (d) Jamais seja amigo dos animais.
ERA UMA VEZ.
ERA UMA VEZ...
Sabia que ter contos de fadas estimula a imaginação e ainda pode nos afastar da violência?
Bela Adormecida, Branca de Neve, A Bela e a Fera...Esses e outros contos de fadas são nossos conhecidos. Mas você sabia que ler histórias como essas, além de fazer a gente sonhar, pode nos afastar da violência? Pois é. Uma pesquisa divulgada recentemente sugere que quem costuma Le contos infantis dá menos atenção aos jogos eletrônicos – alguns muitos violentos -, solta a imaginação com mais facilidade e, como ouve e lê mais histórias, tem respostas na ponta da língua sobre vários assuntos. “O contato com os livros de literatura infantil, especialmente conto de fadas, permite às crianças falar, ler e se expressar de maneira harmoniosa, além disso, ela é capaz de analisar e desenvolver certos assuntos com mais facilidade”.
Depois dessa pesquisa, quem gosta de um bom conto de fadas vai, com certeza, querer ler muito mais. Já os que dizem que não gostam, podem se animar e abrir um bom livro. Afinal, quem não gosta de viajar de graça em tapetes mágicos, carruagens ou até mesmo num bom cavalo alazão? Tudo isso é permitido se você soltar a imaginação e experimentar a magia dos contos de fadas.
Fonte: ABREU, Cathia. Era uma vez...In: Ciência Hoje das Crianças. Rio de Janeiro, 26 set. 2055 Fragmento.
COMO NASCERAM AS ESTRELAS
CLARICE LESPECTOR
Pois é, todo mundo pensa que sempre houve estrelas pisca-pisca.Mas é erro.antes os índios olhavam de noite para o céu escuro – e bem escuro estava esse céu. Um negror.Vou contar a história singela do nascimento das estrelas.
Era uma vez, no mês de janeiro, muitos índios. E ativos: caçavam, pescavam, guerreavam. Mas nas tabas nada faziam coisa alguma.: deitavam-se nas redes e dormiam roncado.E a comida? Só as mulheres cuidavam do preparo dela para terem todos o que comer.
Uma vez elas notaram que faltava milhos no cesto para moer.Que fizeram as valentes mulheres? O seguinte: sem medo enfurnaram-se nas matas, sob um gostoso sol amarelo .As árvores rebrilhavam verdes e embaixo delas havia sombra e água fresca. Quando saíam debaixo das copas encontravam o calor, bebiam no reino dos riachos buliçosos. Mas nem sempre procurando milho, porque a fome era tanta que as faziam comer folhas de árvores. Mas só encontravam espigazinhas murchas e sem graça.
- Vamos voltar e trazer conosco os curumins. (Assim chamavam os índios as crianças).Curumim dá sorte.
E deu mesmo. Os garotos pareciam adivinhar as coisas: foram retinho em frente a uma clareira da floresta. – eis o milharal viçoso crescendo alto. As índias ficaram maravilhadas disseram: toca a colher tanta espigas. Mas os garotinhos também colheram muitas espigas e fugiram das mães voltando à taba e pedindo à avó que lhes fizesse um bolo de milho. A avó assim o fez e os curumins se encheram de tanto bolo que logo se acabou. Aí então pediram para os colibris que lhes amarrassem um cipó no topo do céu. Quando as índias voltaram ficaram assustadas vendo seus filhos subindo pelo ar. Resolveram essas índias mães nervosas, subir atrás dos meninos e cortar o cipó embaixo deles.
Aconteceu uma coisa que só acontece quando a gente acredita: as mães caíram no chão transformando-se em onças.Quanto aos curumins, como já não podiam voltar para a terra, ficaram no céu até hoje, transformados em gordas estrelas brilhantes. Mas quanto a mim, tenho a lhes dizer que as estrelas são mais do que curumins. Estrelas são os olhos de Deus vigiando para que tudo corra bem.Para sempre. E como se sabe, “sempre” não acaba nunca.
Lenda Brasileira
Mila
Mila
Carlos Heitor
Era pouco maior do que minha mão: por isso eu precisei das duas para segurá-la, 13 anos atrás. E, como eu não tinha muito jeito, encostei-a ao peito para que ela não caísse, simples apoio nessa primeira vez. Gostei desse calor e acredito que ela também. Dias depois, quando abriu os olhinhos, olhou-me profundamente: escolheu-me para dono. Pior: me aceitou.
Foram 13 anos de chamego e encanto. Dormimos muitas noites juntos, a patinha dela em cima do meu ombro. Tinha medo de vento. O que fazer contra o vento? Amá-la — foi a resposta e também acredito que ela entendeu isso. Formamos, ela e eu, uma dupla dinâmica contra as ciladas que se armam. E também contra aqueles que não aceitam os que se amam. Quando meu pai morreu, ela se chegou, solidária, encostou sua cabeça em meus joelhos, não exigiu a minha festa, não queria disputar espaço, ser maior do que a minha tristeza.
Tendo-a a meu lado, eu perdi o medo do mundo e do vento. E ela teve uma ninhada de nove filhotes, escolhi uma de suas filhinhas e nossa dupla ficou mais dupla porque passamos a ser três. (...)
No sábado, olhando-me nos olhos, com seus olhinhos cor de mel, bonita como nunca, mais que amada de todas, deixou que eu a beijasse chorando. Talvez ela tenha compreendido. Bem maior do que minha mão, bem maior do que o meu peito, levei-a até o fim.
Eu me considerava um profissional decente. Até semana passada, houvesse o que houvesse, procurava cumprir o dever dentro de minhas limitações. Não foi possível chegar ao gabinete onde, quietinha, deitada a meus pés, esperava que eu acabasse a crônica para ficar com ela.
Até o último momento, olhou para mim, me escolhendo e me aceitando. Levei-a, em meus braços, apoiada em meu peito. Apertei-a com força, sabendo que ela seria maior do que a saudade.
Menina bonita do laço de fita
Menina bonita do laço de fita
Era uma vez uma menina linda, linda. Os olhos dela pareciam duas azeitonas pretas, daquelas bem brilhantes. Os cabelos eram enroladinhos e bem negros, feito fiapos da noite. A pele era escura e lustrosa, que nem o pelo da pantera negra quando pula na chuva. Ainda por cima, a mãe gostava de fazer trancinhas no cabelo dela e enfeitar com laço de fita colorida. Ela ficava parecendo uma princesa das Terras da África, ou uma fada do Reino do Luar.
Do lado da casa dela morava um coelho branco, de orelha cor-de-rosa, olhos vermelhos e focinho nervoso sempre tremelicando. O coelho achava a menina a pessoa mais linda que ele tinha visto em toda a vida. E pensava: - Ah, quando eu casar quero ter uma filha pretinha e linda que nem ela... Por isso, um dia ele foi até a casa da menina e perguntou: - Menina bonita do laço de fita, qual é o teu segredo para ser tão pretinha? A menina não sabia, mas inventou: - Ah deve ser porque eu caí na tinta preta quando era pequenina... O coelho saiu dali, procurou uma lata de tinta preta e tomou banho nela. Ficou bem negro, todo contente. Mas aí veio uma chuva e lavou todo aquele pretume, ele ficou branco outra vez. Então ele voltou lá na casa da menina e perguntou outra vez: - Menina bonita do laço de fita, qual é o seu segredo para ser tão pretinha? A menina não sabia, mas inventou: - Ah, deve ser porque eu tomei muito café quando era pequenina. O coelho saiu dali e tomou tanto café que perdeu o sono e passou a noite toda fazendo xixi. Mas não ficou nada preto. Então ele voltou lá na casa da menina e perguntou outra vez: - Menina bonita do laço de fita, qual o teu segredo para ser tão pretinha? A menina não sabia, mas inventou: - Ah, deve ser porque eu comi muita jabuticaba quando era pequenina. O coelho saiu dali e se empanturrou de jabuticaba até ficar pesadão, sem conseguir sair do lugar. O máximo que conseguiu, foi fazer muito cocozinho preto e redondo feito jabuticaba. Mas não ficou nada preto. Por isso daí alguns dias ele voltou lá na casa da menina e perguntou outra vez: - Menina bonita do laço de fita, qual é teu segredo pra ser tão pretinha? A menina não sabia e já ia inventando outra coisa, uma história de feijoada, quando a mãe dela, que era uma mulata linda e risonha, resolveu se meter e disse: - Artes de uma avó preta que ela tinha... Aí o coelho - que era bobinho, mas nem tanto - viu que a mãe da menina devia estar mesmo dizendo a verdade, porque a gente se parece sempre é com os pais, os tios, os avós e até com os parentes tortos.
E se ele queria ter uma filha pretinha e linda que nem a menina, tinha era que procurar uma coelha preta para casar. Não precisou procurar muito. Logo encontrou uma coelhinha escura como a noite, que achava aquele coelho branco uma graça. Foram namorando, casando e tiveram uma ninhada de filhotes, que coelho quando desanda a ter filhote não para mais!
Tinha coelhos de todas as cores: branco bem branco, branco meio cinza, branco malhado de preto, preto malhado de branco e até uma coelha bem pretinha. Já se sabe, afilhada da tal menina bonita que morava na casa ao lado. E quando a coelhinha saía, de laço colorido no pescoço, sempre encontrava alguém que perguntava: - Coelha bonita do laço de fita, qual é o teu segredo para ser tão pretinha? E ela respondia: - Conselhos da mãe da minha madrinha...
Ana Maria Machado
Ana Maria Machado (Rio de Janeiro, 24 de dezembro de 1941) é uma jornalista, professora, pintora e escritora brasileira. Formada em Letras pela Universidade do Brasil, Ana Maria Machado lecionou na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Como jornalista, trabalhou por mais de dez anos na Rádio Jornal do Brasil. Foi uma das fundadoras, em 1980, da primeira livraria infantil no Brasil, a Malasartes (Rio de Janeiro) que existe até hoje. Nessa década ela publicou mais de quarenta livros, e em 1981 recebeu o Prêmio Casa de Las Américas com o livro De olho nas penas. O reconhecimento mundial das obras de Ana Maria Machado aconteceu em 2000, quando recebeu o Prêmio Hans Christian Andersen, o mais importante prêmio de literatura infantil. No mesmo ano foi agraciada com a Ordem do Mérito Cultural. Foi ganhadora do Prêmio Jabuti de Literatura em 1978. Em 19 de julho de 2011 em entrevista no Programa do Jô declarou que já vendeu, em todas traduções, algo em torno de 19 milhões de exemplares de suas publicações.
este molde é do blog ;http://casfeitosaeva.blogspot.com.br/2010/10/fantoche-da-menina-bonita-do-laco-de.html
O mistério da Casa Mágica
Contos do Quintal: O mistério da Casa Mágica
Há muito tempo, na pequena vila de Águas Claras, todos viviam em perfeita harmonia. As crianças brincavam juntas perto do riacho e, à noite, se reuniam em frente a uma casa abandonada, no alto da colina. A casa era o mistério da vila: nunca alguém havia entrado lá. Mas Molly era muito curiosa e quando passava em frente à velha casa, dava uma espiadinha. Os pais diziam que lá não morava ninguém. A garota sabia que não era verdade, pois sempre sentia um cheiro gostoso saindo dali. Molly nunca tinha visto a dona da "casinha mágica" - como ela gostava de chamar -, até que um dia tomou coragem e bateu à porta: - Quem é? - respondeu de dentro uma voz cansada. - Sou eu, a Molly - disse a pequena. - Meus pais dizem que aí não mora ninguém, mas eu sei que a senhora existe e gostaria de conversar. - Vá embora. Nenhum dos pais nunca deixará que seus filhos conheçam a minha velha casa. - Não vou, não - retorquiu Molly. - O cheiro que vem daí é muito bom e eu estou faminta. Se abrir, posso comer um pedaço de bolo e depois eu vou embora. Ninguém vai descobrir. Uma velhinha com cara bondosa abriu devagar a porta. Quando a pequena Molly olhou ao redor, ficou maravilhada. Havia biscoitos em forma de coração por toda a casa, chocolate borbulhando nas panelas e umas bolachas dentro de uns potinhos. Ainda tinha mel escorrendo de dentro das vasilhas em formato de ursinhos. Mas o que mais surpreendeu Molly foram as árvores no fundo do quintal, cheinhas de frutas fresquinhas, que podiam ser tiradas do pé e saboreadas na hora. - Por que a senhora não abre a sua casa para que todos venham aqui ver todos estes quitutes maravilhosos? - indagou Molly. - Ah, pequena Molly, infelizmente nem todas as pessoas pensam como você. Elas acham que o ato de cozinhar por puro prazer é um pecado... - Pois falarei a todos que no alto deste vale existe uma pessoa com mãos de fada. E todos, crianças e adultos, virão aqui provar estas iguarias. Molly organizou uma festa e não disse que as comidas seriam preparadas pela senhorinha misteriosa. Todos amaram as comidas: o amor dava o gosto especial aos alimentos. Desde então, sempre havia alguém na casa da senhora para aprender a arte da culinária ou simplesmente comprar alguma das delícias. E a pequena vila agora se chama "Casa Mágica". Ariane Bomgosto é jornalista e escritora e entre suas paixões estão os contos infantis Rogério Coelho ilustra livros infantis desde 2002 para várias editoras em São Paulo e no Rio de Janeiro, e já ganhou prêmios na área.
Há muito tempo, na pequena vila de Águas Claras, todos viviam em perfeita harmonia. As crianças brincavam juntas perto do riacho e, à noite, se reuniam em frente a uma casa abandonada, no alto da colina. A casa era o mistério da vila: nunca alguém havia entrado lá. Mas Molly era muito curiosa e quando passava em frente à velha casa, dava uma espiadinha. Os pais diziam que lá não morava ninguém. A garota sabia que não era verdade, pois sempre sentia um cheiro gostoso saindo dali. Molly nunca tinha visto a dona da "casinha mágica" - como ela gostava de chamar -, até que um dia tomou coragem e bateu à porta: - Quem é? - respondeu de dentro uma voz cansada. - Sou eu, a Molly - disse a pequena. - Meus pais dizem que aí não mora ninguém, mas eu sei que a senhora existe e gostaria de conversar. - Vá embora. Nenhum dos pais nunca deixará que seus filhos conheçam a minha velha casa. - Não vou, não - retorquiu Molly. - O cheiro que vem daí é muito bom e eu estou faminta. Se abrir, posso comer um pedaço de bolo e depois eu vou embora. Ninguém vai descobrir. Uma velhinha com cara bondosa abriu devagar a porta. Quando a pequena Molly olhou ao redor, ficou maravilhada. Havia biscoitos em forma de coração por toda a casa, chocolate borbulhando nas panelas e umas bolachas dentro de uns potinhos. Ainda tinha mel escorrendo de dentro das vasilhas em formato de ursinhos. Mas o que mais surpreendeu Molly foram as árvores no fundo do quintal, cheinhas de frutas fresquinhas, que podiam ser tiradas do pé e saboreadas na hora. - Por que a senhora não abre a sua casa para que todos venham aqui ver todos estes quitutes maravilhosos? - indagou Molly. - Ah, pequena Molly, infelizmente nem todas as pessoas pensam como você. Elas acham que o ato de cozinhar por puro prazer é um pecado... - Pois falarei a todos que no alto deste vale existe uma pessoa com mãos de fada. E todos, crianças e adultos, virão aqui provar estas iguarias. Molly organizou uma festa e não disse que as comidas seriam preparadas pela senhorinha misteriosa. Todos amaram as comidas: o amor dava o gosto especial aos alimentos. Desde então, sempre havia alguém na casa da senhora para aprender a arte da culinária ou simplesmente comprar alguma das delícias. E a pequena vila agora se chama "Casa Mágica". Ariane Bomgosto é jornalista e escritora e entre suas paixões estão os contos infantis Rogério Coelho ilustra livros infantis desde 2002 para várias editoras em São Paulo e no Rio de Janeiro, e já ganhou prêmios na área.
BRINCADEIRA DE CRIANÇA
BRINCADEIRA DE CRIANÇA
ACORDA, CRIANÇADA
TÁ NA HORA DA GENTE BRINCAR
BRINCAR DE PIQUE-ESCONDE, DE PIQUE-COLA
E DE PIQUE-TÁ...TATÁ-TÁ
NESSA BRINCADEIRA TAMBÉM TEM PIQUE-BANDEIRA,
AMARELINHA PRA QUEM GOSTA DE PULAR
E AQUELA BRINCADEIRA DE BEIJAR
É ESSA? NÃO
É ESSA? NÃO
É ESSA? NÃO (BIS)
PÊRA, UVA, MAÇÃ, OU...
SALADA MISTA... BEIJA, BEIJA
BRINCADEIRA DE CRIANÇA
COMO É BOM, COMO É BOM
GUARDO AINDA NA LEMBRANÇA
COMO É BOM, COMO É BOM
PAZ, AMOR E ESPERANÇA
COMO É BOM, COMO É BOM
BOM É SER FELIZ COM MOLEJÃO.
De como Malasartes vendeu um passarinho
De como Malasartes vendeu um passarinho
Pedro Malasartes
Malasartes ia viajando quando lhe deu vontade dedar de corpo. Agachou-se no meio da estrada e ali ficou. Nisto avistou um senhor que andava caçando. Malasartes tirou o chapéu e colocou-o sobre o que havia feito. O senhor quando se aproximou perguntou-lhe:
- Que está fazendo ai a segurar nesse chapéu com tanto cuidado?
- E um lindo passarinho que apanhei debaixo do chapéu. Canta que é um gosto. E eu não quero perdê-lo. Estou à espera de alguém que queira tomar conta dele, enquanto vou buscar uma gaiola.
O homem ficou muito curioso de ver o canário pois era grande apreciador de pássaros cantadores.
Propôs comprá-lo, mas com a condição de Malasartes ir buscar a gaiola.
Pedro, depois de muitas negaças fechou o negócio por bom dinheiro deixou o tolo a tomar conta, e foi buscar a gaiola. O tempo ia passando e Malasartes não voltava. Então o homem, já impaciente tomou o partido de apanhar o pássaro com a mão e levá-lo para casa. Com toda a cautela, meteu a mão debaixo do chapéu e, quando pensou que pegava o canário, agarrou uma coisa muito diferente.
Deu os pregos, soltou pragas enquanto Pedro já estava muito distante e se divertindo à custa do trouxa...
O ANIVERSÁRIO MALASARTE
Pedro Malasarte
O ANIVERSÁRIO MALASARTEEra aniversário de Pedro Malasarte. Ele adorava uma festa, mas estava sem dinheiro para festejar o aniversário. Resolveu então, visitar o primo que tinha muito dinheiro e, certamente, lhe ofereceria alguma coisa, apesar de ser um tanto pão-duro. Chegando a fazenda do primo, este o recebeu com muito entusiasmado, não pela visita, mas por economizar assim a viagem a casa do aniversariante. Entraram e o primo foi logo oferecendo:
— Ó, primo Pedro! Tenho aqui uma broa, fresquinha, que sinhá assou. É tanta que vai durar a semana inteira.
— Broa de milho, primo?
— É sim, quer um pedaço?
— Não, primo - agradeceu Malasarte - basta um cafezinho.
— Mas é seu aniversário primo, eu reconheço que sou um pão-duro, mas um pouco de cortesia ao primo não faz mal! Se quiser é só pedir.
Malasarte novamente agradeceu, porém continuou só com o café. Continuaram proseando e, em meio à prosa, o primo lhe diz:
— Olha Pedro, ontem mandei matar aquele leitão capado que eu vinha engordando. Temos uma porção de torresmo e toucinho frescos que mandei preparar. Quer um pouco, pois tenho bastante?
— Não me diga isso! Tem muito mesmo?
— É o que lhe digo! Tenho bastante, quer?
— Nada primo, pode deixar, basta um cafezinho.
— Seja dito..., mas quando quiser é só pedir.
Continuaram proseando mais e mais, até que o primo fez nova oferta:
— Pedro, faz tempo que guardo umas garrafas de cachaça. Vamos tomar uns goles para comemorar?
— E é dá boa?
— Da melhor.
— Não primo, para mim basta um cafezinho.
— Não se faça de rogado que você tá em casa. Quando ficar com vontade é só pedir.
E assim, o primo de Pedro Malasarte, querendo lhe agradar pela passagem do aniversário e ao mesmo tempo percebendo que Malasarte não estava querendo lhe dar despesa, foi oferecendo um pouco de cada coisa que tinha na despensa. Malasarte ouvia e recusava; contentando-se só com o cafezinho. E continuaram nessa toada até que ouviram uma tímida batida na porta. O primo de Malasarte se levantou, abriu a porta epegou de espiar; do lado de fora havia uma verdadeira multidão de conhecidos. O primeiro foi logo falando:
— Olha, desculpa a intrusão, mas ficamos sabendo que Pedro Malasarte estava por aqui e passamos somente para dar lhe dar os parabéns.
Desconfiado, mas sem ter como recusar, o primo convidou a todos para entrar, mas foi logo avisando:
— Meus amigos! Gostaria de lhes oferecer alguma coisa, porém... quase nada tenho na despensa...
Malasarte, deixando de lado o cafezinho e interrompendo o primo, falou:
— Primo, sabe aquele torresmo, aquele toucinho, aquela broa, a cachaça, a suco de laranja, a rosca, a linguiça, e tudo mais que você me ofereceu? Agora eu até quero um pouquinho, que já me cansei desse cafezinho que tomava pra modo de esperar o pessoal chegar...
Vosmecê calcule: o primo ficou aturdido, tonteou... parecia inté que estava para dar a alma a Deus; entretanto, uma vez que o oferecido estava em vigor, acabou bancando toda a festa. Pois foi assim que Pedro Malasarte teve a sua festança. ®Sérgio.
O SEGREDO DO ALFAIATE
O SEGREDO DO ALFAIATE
Pedro Malasartes queria pregar uma peça no alfaiate Jeroboão.
Disse então que um velho alfaiate contara-lhe um segredo que tornaria rico e feliz o alfaiate que o conhecesse. Pedro disse ainda que só poderia contar esse segredo em público. Jeroboão, mais que depressa, enviou cartas para todos os alfaiates e costureiras do país, convidando-os para se reunirem em sua cidade. Dentro em pouco não havia mais lugar em nenhuma hospedaria da cidade. As casas dos alfaiates e costureiras locais também estavam repletas. No grande dia, armaram-se barraquinhas na praça principal da cidade e todos comeram e beberam por conta do segredo que os tornaria ricos e felizes. No meio da praça havia um alto palanque e, por volta das seis horas da tarde, quando o dia já ia morrendo e começavam a cair as primeiras sombras da noite, ali subiram Pedro Malasartes e Jeroboão. Foram longamente aplaudidos pela grande multidão que enchia a praça, de barriga cheia e a cabeça razoavelmente confusa pelo vinho. Então Pedro Malasartes tomou a palavra: - Meus caros amigos, que manejam com tanta habilidade a tesoura e o dedal, a agulha e a linha, mestres do carretel! A estas palavras seguiram-se longos e entusiasmados aplausos. - Não estou aqui para lhes ensinar como se manejam essas coisas, pois estão fartos de saber - continuou Pedro Malasartes, quando as palmas cessaram. - Meu caro amigo Jeroboão, aqui no meu lado, mandou-lhes as amáveis cartinhas que receberam convidando-os a se reunirem aqui, porque temos um maravilhoso segredo a lhes revelar. É um segredo ouvido da boca de um homem na hora da morte, e que lhes será muito útil daqui por diante.
Fez-se silêncio total na praça.
- Sabem o que ele me disse? - prosseguiu Pedro Malasartes - Vou-lhes repetir com suas próprias palavras: "Nunca se esqueçam de dar um nó na ponta da linha depois de a ter enfiado na agulha."
SEIS AVENTURAS DE PEDRO MALAZARTE Luís da Câmara Cascudo
SEIS AVENTURAS DE PEDRO MALAZARTE
Luís da Câmara CascudoI Um casal de velhos possuía dois filhos homens, João e Pedro, este tão astucioso e vadio que o chamavam Pedro Malazarte. Como era gente pobre, o filho mais velho saiu para ganhar a vida e empregou-se numa fazenda onde o proprietário era rico e cheio de velhacarias, não pagando aos empregados porque fazia contratos impossíveis de cumprimento. João trabalhou quase um ano e voltou quase morto. O patrão tirara-lhe uma tira de couro desde o pescoço até o fim das costas e nada mais lhe dera. Pedro ficou furioso e saiu para vingar o irmão. Procurou o mesmo fazendeiro e pediu trabalho. O fazendeiro disse que o empregava com duas condições; não enjeitar serviços e do que primeiro ficasse zangado tirava o outro uma tira de couro. Pedro Malazarte aceitou. No primeiro dia foi trabalhar numa plantação de milho. O patrão mandou que uma cachorrinha o acompanhasse. Só podia voltar quando a cachorra voltasse para casa. Pedro meteu o braço no serviço até meio-dia. A cachorrinha deitada na sombra nem se mexia. Vendo que era combinação Malazarte largou uma paulada na cachorra que esta saiu ganindo e correu até o alpendre da casa. O rapaz voltou e almoçou. Pela tarde nem precisou bater na cachorra. Fez o gesto e o bicho voou no caminho. No outro dia o fazendeiro escolheu outra tarefa. Mandou-o limpar a roça de mandioca. Pedro arrancou toda plantação, deixando o terreno completamente limpo. Quando foi dizer ao patrão o que fizera este ficou feio. - Zangou-se, meu amo? - Não senhor, - respondeu o patrão. No outro dia disse que Pedro trouxera o carro de bois carregado de pau sem nós. Malazarte cortou quase todo o bananal, explicando que bananeira é pau que não tem nó. O patrão ficou frio: - Zangou-se, meu amo? - Não senhor. No outro dia mandou-o levar o carro, com a junta de bois, para dentro de uma sala numa casinha perto, sem passar pela porta. E para melhor atrapalhar, fechou a porta e escondeu a chave. Malazarte agarrou um machado e fez o carro em pedaços, matou os bois, esquartejou-os e sacudiu, carnes e madeiras, pela janela, para dentro da sala. O patrão, quando viu, ficou preto:
- Zangou-se, meu amo? - Não senhor. Mandou vender na feira um bando de porcos. Malazarte levou os porcos, cortou as caudas e vendeu-os todos por um bom preço. Voltando enterrou os rabinhos num lamaçal e chegou em casa gritando que a porcada esta atolada no lameiro. O patrão foi ver e deu o desespero. Malazarte sugeriu cavar com duas pás. Correu para casa e pediu à dona que lhe entregasse dois contos de réis. A velha não queria mas o rapaz para certificá-la, perguntava ao patrão por gestos se devia levar um ou dois, e mostrava os dedos. Ante aos gritos do amo, a velha entregou o dinheiro ao Pedro. Voltou para o lameiro e começou a puxar a cauda de cada porco que dizia estar enterrado. Ia ficando com todas na mão. O patrão ficou suando mas não deu mostras de zanga. E Pedro ainda negou que tivesse recebido dinheiro. Vendo que ficava pobre com aquele empregado, o fazendeiro resolveu matá-lo o mais depressa possível, de um modo que não o levasse à justiça. Disse que andava um ladrão rondando o curral e deviam vigiar, armados, para prender ou afugentar a tiros. A idéia era atirar em Malazarte e dizer que se tinha enganado, supondo-o um malfeitor. De noite o fazendeiro foi para o curral e Pedro devia substituí-lo ao primeiro cantar do galo. Quando o galo cantou, Malazarte acordou a velha e disse que o marido a esperava no curral, e que levasse a outra espingarda, porque ele, Pedro, ia fazer o cerco pelo outro lado. A velha apanhou a carabina e foi, sendo morta pelo fazendeiro com um tiro certo de que abatia, pelo vulto, o atrevido criado. Assim que a velha caiu, Pedro apareceu chorando e acusando o amo. Este, assombrado pagou muito dinheiro para não haver conhecimento da justiça e ofereceu ainda mais dinheiro se o Malazarte se fosse embora, sem mais outra proeza. O rapaz aceitou e voltou rico para casa dos pais. II Não podendo ficar sossegado, Malazarte largou a casa, indo correr mundo. Logo no primeiro dia encontrou um urubu com uma perna e uma asa quebradas, batendo no meio da estrada. Agarrou o urubu e meteu-o dentro de um saco, seguindo caminho. Ao anoitecer estava diante de uma casa grande e bonita, alpendrada. Pela janela viu uma mulher guardando vários pratos de comidas saborosas e garrafas de vinho. Bateu e pediu abrigo mas a mulher recusou, dizendo que não estava em casa o marido e ficava feio ter um homem de portas a dentro. Malazarte foi para debaixo de uma árvore e reparou na chegada de um rapaz ainda moço, recebido com agrados pela dona da casa que o levou imediatamente para jantar. Iam os dois começando a refeição quando o dono da casa apareceu montado num cavalo alazão. O rapaz pulou uma janela e fugiu. Malazarte deu tempo para o dono da casa mudar o traje e tornou a bater e pedir dormida. O
dono apareceu e mandou-o entrar, lavar as mãos e ir jantar com ele. A comida que apareceu era outra, bem pobre e malfeita. Malazarte, sempre com o urubu dentro do saco, deu com o pé, fazendo-o roncar, começou a falar, baixinho, como se estivesse discutindo. - Com quem está falando? - Perguntou o dono da casa. - Com esse urubu. - Sim senhor, falando e adivinhando. Esse urubu é ensinado a adivinhar. - E o que ele está adivinhando a agora? - Está me dizendo que naquele armário há um peru assado, arroz de forno, bolo de milho e três garrafas de vinho. - Não me diga ... Procura aí, mulher! A mulher procurou e, fingindo-se assombrada pela surpresa, encontrou tudo quanto anunciara o urubu e trouxe os pratos e o vinho para a mesa. Comeram fartamente e o dono quis porque quis comprar o urubu. Pela manhã Malazarte, muito contrariado, aceitou o dinheiro alto e foi embora, deixando o urubu que nunca mais adivinhou cousa alguma. III Malazarte encontrou uma ruma de excremento ainda fresca, no meio da estrada. Parou curvou-se e cobriu com seu próprio chapéu, ficando de cócoras, segurando as abas, como se guardasse uma preciosidade. Passou um homem, a cavalo, e parou, perguntando: - Que está guardando aí? - O mais bonito passarinho do mundo! Custou mas segurei-o - E o que vai fazer? - Esperar que passe um conhecido para vendê-lo ou mandar comprar uma gaiola. - Quanto quer pelo passarinho? - Vinte mil-réis! - Está fechado. Tome o dinheiro, monte neste cavalo e vá buscar uma gaiola, ali na vila. Apeou-se, Malazarte meteu o dinheiro no bolso, cavalgou o animal, picou-o
nas esporas e desapareceu para sempre. O dono do passarinho esperou, esperou e, perdendo a paciência ou cutucado pela curiosidade, passou a mão para segurar a mais linda ave do mundo, ficando com ela suja e nauseante, furioso pelo logro e sem poder castigar o astucioso larápio. IV Órfão de pai, Malazarte viu morrer sua mãe, ficando muito triste. Mas, sendo ardiloso por natureza, do próprio cadáver quis aproveitar e ganhar mais dinheiro. Saiu com ele e escondeu-o nuns capins, perto de um pomar. O dono desse pomar era homem rico e violento, tendo comprado uma matilha de cachorros ferozes para a defesa das frutas. Ao anoitecer, Malazarte levou o corpo da velha e sacudiu-o por cima da cerca. Os cachorros acudiram imediatamente ladrando e mordendo. Nesse momento, Malazarte começou a gritar pelo dono do pomar, e quando este apareceu acusou-o de haver assassinado sua mãe, velhinha inofensiva que entrara no sítio para apanhar um graveto de lenha. Sabendo da ferocidade dos cachorros, Malazarte correra para impedir mas já chegara tarde. O dono do pomar, cheio de medo, pagou muito dinheiro e ainda encarregou-se de enterrar a velha com toda a decência. V Pedro Malazarte comprou uma panelinha nova para cozinhar quando viajasse. Na primeira viagem que fez levou a panelinha e estava preparando seu almoço, já abrindo a fervura, quando ouviu o tropel de um comboio que carregava algodão. Mais que depressa cavou um buraco, colocou todas as brasas e tições, cobrindo de areia, e pôs a panela por cima, fervendo. Os comboieiros que iam passando ficaram admirados de ver uma panela ferver sem haver fogo. Pararam, discutiram e perguntaram se Malazarte a queria vender por bom dinheiro. O sabidão fez-se muito rogado, dizendo ter adquirido aquele objeto em terras distantes, mas terminou vendendo a panelinha. Os comboieiros seguiram jornada, muito satisfeitos da compra que no outro dia verificaram ser mais um logro do endiabrado rapaz. VI Nas cercanias da casa de Pedro Malazarte morava um homem rico e muito avarento. Vivia enganando toda a gente e sendo detestado por todos os vizinhos. Não pagava ordenado aos seus empregados porque fazia apostas e não era possível cumprir-se uma das condições porque tinham sido escolhidas com intenção de burla. Malazarte ofereceu-se para criado e o homem aceitou. Se Malazarte ficasse trinta dias sem pedir a conta, seria pago três vezes, e não o fazendo, nada teria de direito.
O homem mandou Malazarte com mais duzentas ovelhas para o campo, com ordem de passar por uma garganta de serra muito estreita. As ovelhas recusavam avançar e os empregados anteriores haviam desistido com esse embaraço. Malazarte chegou ao boqueirão, agarrou uma ovelha, amarrou-a e saiu na frente puxando o animalzinho. As outras acompanharam sem dificuldade. Não deram rede para Malazarte dormir. Durma onde quiser, disse-lhe o homem. Pedro, vendo que o casal guardava a comida num armário grande, trepou-se para cima, com as pernas descidas e recusou sair, dizendo ser aquela a sua cama. Como o casal queria comer, ofereceram ao novo empregado o direito de fazer as refeições com eles, marido e mulher, chegando à conclusão de que só iam comer pão e bolachas, o que davam a Pedro quando ele se empregou. Mandou o dono que Malazarte levasse o carro de bois e o metesse numa sala sem passar pelas portas. Malazarte despedaçou o carro, partiu os bois em quatro e jogou tudo pela janela. Dias depois o dono da casa foi viajar e recomendou a Pedro que queria encontrar o gado muito bem tratado, rindo-se com o tempo. Quando o homem voltou viu que Malazarte havia cortado os beiços dos bois, vacas, novilhos, touros, deixando-os com os dentes de fora, como se estivessem rindo. Não quis mais conversa. Pagou três vezes e mandou que Pedro Malazarte fosse embora antes que ficasse completamente arruinado.
A ÁRVORE QUE DAVA DINHEIRO
Pedro Malasarte
A ÁRVORE QUE DAVA DINHEIROVendo-se apertado com a falta de dinheiro e não querendo ter arenga com o dono da pensão, Malasarte saiu bem cedo naquela manhã, para ganhar a vida. Arranjou com o vendedor de mel de jataí um bocado de cera; trocou na mercearia de Seu Joaquim a única nota de dinheiro que lhe sobrara, por algumas de moedas de vintém e caiu na estrada. Caminhou por obra de uma légua ou mais, quando avistou uma árvore na beira da estrada. Chegando ao pé da árvore, parou e pôs-se a pregar os vinténs à folhagem com a cera que arranjara.
Não demorou muito, deu de aparecer na estrada um boiadeiro que vinha tocando uns boizinhos para vender na vila. E como já ia levantando um solão esparramado, a cera ia derretendo e fazendo cair às moedas. Malasarte, fazendo festas, as apanhava. O boiadeiro acercou-se, curioso, perguntou-lhe o que fazia, e Malasarte explicou:
— Esta árvore é deveras encantada, patrão. As suas frutas são moedas legítimas. Estou colhendo todas, porque vou me bandear pra outra terra e tô pensando em levar a árvore, apesar de todo o trabalho que vai me dar.
— Não me diga isto, sô!
— É o que eu lhe digo, patrão!
— Diacho! Se lhe vai dar tanto trabalho...
E o boiadeiro propôs comprar a árvore encantada. Malasarte, depois de muitas negaças, fechou negócio trocando a árvore pelos boizinhos; em seguida, bateu pé na estrada, vendendo-os na vila por um bom preço.
O boiadeiro mandou alguns de seus peões retirarem, com todo o cuidado, a árvore encantada e a replantou no pomar do seu sítio. Daquele ano até hoje, está esperando ela dar moedas de vinténs.
Trecho de O Pequeno Príncipe, de Antoine Saint-Exupéry
Trecho de O Pequeno Príncipe, de Antoine Saint-Exupéry
O pequeno príncipe atravessou o deserto e encontrou apenas uma flor. Uma flor de três pétalas, uma florzinha insignificante....
- Bom dia - disse o príncipe.
- Bom dia - disse a flor.
- Onde estão os homens? - Perguntou ele educadamente.
A flor, um dia, vira passar uma caravana:
- Os homens? Eu creio que existem seis ou sete. Vi-os faz muito tempo. Mas não se pode nunca saber onde se encontram. O vento os leva. Eles não têm raízes. Eles não gostam das raízes.
-Adeus - disse o principezinho.
-Adeus - disse a flor.
O pequeno príncipe escalou uma grande montanha. As únicas montanhas que conhecera eram os três vulcões que batiam no joelho. O vulcão extinto servia-lhe de tamborete. "De uma montanha tão alta como esta", pensava ele, "verei todo o planeta e todos os homens..." Mas só viu pedras pontudas, como agulhas.
- Bom dia! - disse ele ao léu.
- Bom dia... bom dia... bom dia... - respondeu o eco.
- Quem és tu? - perguntou o principezinho.
- Quem és tu... quem és tu... quem és tu... - respondeu o eco.
- Sejam meus amigos, eu estou só... - disse ele.
- Estou só... estou só... estou só... - respondeu o eco.
"Que planeta engraçado!", pensou então. "É completamente seco, pontudo e salgado. E os homens não têm imaginação. Repetem o que a gente diz... No meu planeta eu tinha uma flor; e era sempre ela que falava primeiro."
Mas aconteceu que o pequeno príncipe, tendo andado muito tempo pelas areias, pelas rochas e pela neve, descobriu, enfim, uma estrada. E as estradas vão todas em direção aos homens.
- Bom dia! - disse ele.
Era um jardim cheio de rosas.
- Bom dia! - disseram as rosas.
Ele as contemplou. Eram todas iguais à sua flor.
- Quem sois? - perguntou ele espantado.
- Somos as rosas - responderam elas.
- Ah! - exclamou o principezinho...
E ele se sentiu profundamente infeliz. Sua flor lhe havia dito que ele era a única de sua espécie em todo o Universo. E eis que havia cinco mil, iguaizinhas, num só jardim!
"Ela teria se envergonhado", pensou ele, "se visse isto... Começaria a tossir, simularia morrer, para escapar ao ridículo. E eu seria obrigado a fingir que cuidava dela; porque senão, só para me humilhar, ela seria bem capaz de morrer de verdade..."
Depois, refletiu ainda: "Eu me julgava rico por ter uma flor única, e possuo apenas uma rosa comum. Uma rosa e três vulcões que não passam do meu joelho, estando um, talvez, extinto para sempre. Isso não faz de mim um príncipe muito poderoso..."
E, deitado na relva, ele chorou.
E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia - disse a raposa.
- Bom dia - respondeu educadamente o pequeno príncipe, olhando a sua volta, nada viu.
- Eu estou aqui - disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? - Perguntou o principezinho. - Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa - disse a raposa.
- Vem brincar comigo - propôs ele. - Estou tão triste...
-Eu não posso brincar contigo - disse a raposa. - Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa - disse o principezinho.
Mas, após refletir, acrescentou:
- Que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui - disse a raposa. - Que procuras?
- Procuro os homens - disse o pequeno príncipe. - Que quer dizer "cativar"?
- Os homens - disse a raposa - têm fuzis e caçam. É assustador! Criam galinhas também. É a única coisa que fazem de interessante. Tu procuras galinhas?
- Não - disse o príncipe. - Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É algo quase sempre esquecido - disse a raposa. Significa "criar laços"...
- Criar laços?
- Exatamente - disse a raposa. - Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender - disse o pequeno príncipe. - Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...
- É possível - disse a raposa. - Vê-se tanta coisa na Terra...
- Oh! Não foi na Terra - disse o principezinho.
- A raposa pareceu intrigada:
- Num outro planeta?
- Sim.
- Há caçadores nesse planeta?
- Não.
- Que bom! E galinhas?
- Também não.
- Nada é perfeito - suspirou a raposa.
LIÇÃO DE CRIATIVIDADE
Um cachorrinho perdido na selva vê um tigre correndo em sua direção. Pensa rápido, vê uns ossos no chão e se põe a mordê-los.
Então, quando o tigre está pronto atacá-lo, o cachorrinho diz:
- Ah, que delícia este tigre que acabo de comer! O tigre pára bruscamente e sai apavorado correndo do cachorrinho, e no caminho vai pensando:
- Que cachorro bravo! Por pouco não me come a mim também!
Um macaco, que havia visto a cena, sai correndo atrás do tigre e conta como ele tinha sido enganado.
O tigre, furioso, diz: - Cachorro maldito! Vai me pagar!
O cachorrinho vê que o tigre vem atrás dele de novo e desta vez traz o macaco montado em suas costas.
Ah, macaco traidor! O que faço agora?, pensou o cachorrinho.
Em vez de sair correndo, ele ficou de costas, como se não estivesse vendo nada. Quando o tigre está a ponto de atacá-lo de novo, o cachorrinho diz:
- Macaco preguiçoso! Faz meia hora que eu mandei me trazer um outro tigre e ele ainda não voltou!
Em momentos de crise, só a imaginação é mais importante do que o conhecimento. (Albert Eistein)
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