Um palhaço e uma boneca que interagem com o público. O palhaço chama a boneca para brincar, descobre que a boneca está com defeito.
A boneca tem más lembranças da época que estava sendo fabricada.
Com ajuda do palhaço ela vai “se concertar”, são sempre ensinadas lições das vida, de comportamento...
TEXTO REGISTRADO no Escritório de Direito Autoral
O Palhaço chicote entra em cena, lambendo a sua gravata. A boneca Xicuta só está com seus pezinhos em cena. Ela tem uma cordinha pendurada em suas costas.
CHICOTE: Ai, ai. Como é bom ter uma gravata de algodão doce só para mim. Só eu tenho uma gravata de algodão doce. E vocês sabem o meu nome, meus amiguinhos. Vocês sabem quem sou eu? O meu nome é Chiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii... Xi! Esqueci meu nome. Ah, lembrei. O meu nome é Chiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiicote! Pois é, Chicote. Sou um palhaço que faço, que faço, que faço, que faço e aconteço. Mas posso levar uma bronca quando sei, quando sei, quando sei que mereço. E eu estou procurando a minha amiguinha que está perdida por aí. Eu não sei onde eu a deixei (expressão de choro). Hmmmm! Olha o meu biquinho de tristeza. Estão vendo só? Isso é o que acontece quando a gente deixa as coisas todas espalhadas por aí. Meus amiguinhos, eu vou pedir uma ajuda a vocês. Vocês são crianças, e crianças muitas vezes veem melhor as coisas. Os adultos veem maldade em tudo! Criança não! Criança é pura. Então, com o seu olhar, vocês podem me ajudar a procurar? É, a procurar a Xicuta. Ah, Xicuta é minha bonequinha. Eu ganhei ela ontem da minha mãe, e não sei onde eu deixei. Vocês estão aí de fora, e quem vê de fora, vê melhor. Vamos, me ajudem. Quando eu for chegando perto vocês dizem que “tá quente”, quando eu estiver longe, vocês dizem que “tá frio”. Está combinado assim? Então vamos lá!
O público infantil vai orientando o Palhaço Chicote na procura da boneca. Ele simula que está com dificuldade de achar até que encontra.
CHICOTE: Ahá! Achei minha amiguinha. Com Deus o Chicote pode tudo! Com Deus o Chicote pode tudo! Estão vendo só! Achei a Xicuta. É Xicuta é o nome dela. Vocês querem ver? Ela vai falar o nome dela. Mas antes, nós temos que cantar uma musiquinha para ela poder brincar com a gente. É assim: “finge que é gente, pra a gente brincar! Finge que é gente pra gente brincar!”
A boneca Xicuta vai fazendo uma performance dançante até que se levanta.
XICUTA: Oi amiguinhos! O meu nome é Cicuta.
O Palhaço Chicote faz cara de espanto.
CHICOTE: Cicuta? Cicuta não. O seu nome é Xicuta.
XICUTA: (a chicote) E o seu é Cicote.
CHICOTE: Não, o meu nome não é Cicote. É Chiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.... (ficando sem ar e, logo depois, respira). ...cote. Chiiiiiiicote.
XICUTA: Calma, Cicote. Assim você vai morrer com falta de ar.
CHICOTE: Eu vou morrer é de raiva por ouvir você falar o meu nome e o seu nome errado. O meu nome é Chiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii....cote e o seu nome é Xiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii...cuta. Xicuta, entendeu? E quer saber? Acho que você veio da loja com defeito.
XICUTA: (expressão de choramingo) Defeito só porque eu tenho a língua presa?
CHICOTE: Não é só por isso! É que na televisão você fala o nome das pessoas direito e o seu nome também direito.
XICUTA: Ah, mas eu falo o nome das crianças que estão nos assistindo direitinho, quer ver. Olha só, aquele ali é Macarrão. Macarrão Cunha Azevedo. E aquela ali é a Cenoura. Cenoura da Silva Silveira. E aquela ali se chama...
CHICOTE: (interrompendo) Chega, Xicuta. Não adianta! Não adianta que eu vou te levar para trocar por outra lá na loja. Vem cá! Chicote agarra Xicuta que resiste.
XICUTA: Não! Por favor, Cicote!
CHICOTE: O meu nome é Chicote!
XICUTA: Por favor. Eu não quero voltar para aquela fábrica. Lá tem homens maus que me fabricaram. Não me deixe voltar para lá!
CHICOTE: Maus? Como assim “maus”, Xicuta?
XICUTA: (chorando) Sabe o que é? Eu vou contar para você. Antes de eles fabricarem as bonecas Cicuta...
CHICOTE: Xicuta.
XICUTA: Ah, você sabe. Pois é, quando eles estão fabricando a gente, eles falam umas coisas estranhas.
CHICOTE: Como assim “coisas estranhas?”
XICUTA: É, eles falam que não importa que as crianças vão ficar tristes, não importa que as crianças vão ficar sem sono, não importa que as crianças vão ficar sem estudar. Só o que importa é vender, vender e vender as bonecas.
CHICOTE: Ah, mas não é possível. Eles parecem tão bonzinhos no comercial da Televisão. Quer saber, Xicuta? Acho que você está é mentindo, e fique sabendo você que mentir é muito feio. E por isso eu vou trocar você por outra sim.
XICUTA: Não! Por favor. Olha imagine se a outra também estiver com esse defeito? Aí, você vai ficar indo e voltando, indo e voltando, indo e voltando para a loja. Eles vão fazer você de palhaço.
CHICOTE: É mesmo. Então vamos pensar.
Chicote e Xicuta andam para lá e para cá.
CHICOTE: Peraí, Xicuta. Eu já sou um palhaço.
XICUTA: Eu quis dizer bobo. Bobo!
CHICOTE: Ah bom...
Chicote e Xicuta andam para cá e para lá.
CHICOTE: Ei, Xicuta. Então você está me dizendo que palhaço é mesma coisa que bobo?
XICUTA: Ai, ai, ai. Parece mesmo, pois você fica com essa bobeira e não pensa numa ideia para me consertar, Cicote.
CHICOTE: O meu nome é Chicote.
XICUTA: Ah, você entendeu. E quer saber. Vai ver que você não gostou de mim desde início. Só pediu para sua mamãe me comprar porque todos seus amiguinhos têm uma boneca igual a mim.
CHICOTE: E se isso for verdade, hein, Xicuta?
XICUTA: Ah, então quer dizer que se os seus amiguinhos se jogarem no meio da rua para serem atropelados pelos carros você faz isso também. Hein, hein, hein, Cicote?
CHICOTE: (vociferando) O meu nome é...
Xicuta se encurva, com as duas mãos escondendo rosto, demonstrando medo. Chicote percebe e modifica sua expressão.
CHICOTE: Está bem... Eu vou aguentar você falar meu nome errado, mas só enquanto a gente não conserta você.
XICUTA: A gente?
CHICOTE: É. EU vou te consertar e VOCÊ vai se consertar também! Não é só os outros que têm que nos concertar. Nós também temos que nos concertar. Já até tive uma ideia para isso.
XICUTA: Que bom! E qual seria essa ideia?
CHICOTE: Ora, a gente te desmontar.
XICUTA: (gagueja assustada) M-me desmontar? Mas vai doer muito.
CHICOTE: Xicuta, nem tudo que é bom para a gente é sem dor. Pelo contrário, as coisas que não são tão agradáveis muitas vezes são melhores para a gente. Por exemplo, as injeções que os médicos dão na gente são boas. As palmadinhas que os papais e as mamães dão na gente são boas para a gente não ter que apanhar da polícia na rua, e por aí vai. E para a gente mudar de um erro para um acerto, é bom deixar alguém nos desmontar e montar de novo, como por exemplo, Deus, que faz assim com os homens.
XICUTA: Deus faz assim como os homens?
CHICOTE: Sim, mas só os homens se deixam ser desmontados para serem montados de novo.
XICUTA: Que legal. Então quero ser um brinquedo obediente também. Vai, me desmonta e monta logo.
CHICOTE: Deixa comigo. Deixa eu começar examinando as suas costas. Deixe-me ver. Lalalálálálalalálá.
XICUTA: Ô Cicote? Você tem experiência nesse desmonte de brinquedos mesmo?
CHICOTE: (examinando as costas de Xicuta) Claro!
XICUTA: Vê lá, hein, Cicote, porque é muito perigoso alguém que não sabe desmontar brinquedos desmontar uma bonequinha frágil como eu.
CHICOTE: (examinando as costas da Xicuta) Ora, não se preocupe, Xicuta. Um dia eu desmontei um radinho de brinquedo e ele ficou melhor ainda.
XICUTA: Como assim “melhor ainda”?
CHICOTE: (examinando as costas da Xicuta) Ele virou um telefone de brinquedo. (pausa) Caramba! Olha o que eu achei nas suas costas? Uma cruz de cabeça para baixo. E por isso que quando eu te abraçava eu ficava todo cheio de dor e não sabia o que era. Vou jogar essa cruz de cabeça para baixo fora, sabe.
XICUTA: Mas será que isso é o motivo de eu falar errado.
CHICOTE: Calma, Xicuta. Vou continuar examinando você. Talvez esse não seja o único defeito.
XICUTA: Você está me chamando de toda errada, é?
CHICOTE: Calma, Xicuta. Vai ficar tudo bem. Vamos examinar agora a sua barriguinha. Ela é tão cheinha. Vamos ver de que ela está cheinha.
XICUTA: Olha só, eu não como nenhuma porcaria.
Chicote vai tirando muitos doces da barriga da Xicuta e jogando para a plateia
CHICOTE: (perplexo) Não come nenhuma porcaria, Xicuta? Não come nenhuma porcaria? Xicuta, eu não encontrei sequer uma frutinha na sua barriga. Só doces. Você pode comer doce sim. Por exemplo, olha só a minha gravata. Eu sou o único palhaço do mundo que tem uma gravata feita todinha de algodão doce. Só que eu não fico lambendo a gravata toda hora. Você percebeu?
XICUTA: Você tem razão, Cicote.
CHICOTE: E você está muito gulosa para uma boneca tão pequenininha.
XICUTA: Eu não sou pequenininha, sou Cicuta! Cicuta!
CHICOTE: E eu não sou Cicote. Sou CHHHHHHHHHHHHHHHHHicote!
XICUTA: Mas é porque...
CHICOTE: Está bem, está bem! Eu percebi que você ainda está com esse defeito de falar o seu nome errado e o nome das pessoas errado também. Mas me desculpe. Eu não resisti. Bom, e qual será esse problema que faz com que você fale o seu nome e o nome dos outros errado? Qual será?
XICUTA: Para a falar a verdade, eu não sei?
CHICOTE: O que tinha de errado na sua barriguinha (dá uma examinada rápida na barriga de Xicuta) eu consertei. E com as suas costas (coloca, sem as crianças perceberem, um cartaz adesivo com o seguinte dizer: “PUXE A CORDA”, dando a entender para as crianças que estava de fato examinando-a) agora também está tudo certinho.
XICUTA: O que será?
CHICOTE: Bom, talvez os nossos amiguinhos nos ajudem.
XICUTA: É. Quem sabe eles percebem alguma coisa que não percebemos, pois as crianças são muito espertas para isso.
Chicote e Xicuta andam para lá e para cá, permitindo que as crianças percebam o que está escrito nas costas da Xicuta. Certamente elas gritarão “puxe a corda” e também perceberão numa cordinha dependurada desde o início nas costas da boneca Xicuta.
CHICOTE: (ao público) O quê?
XICUTA: (ao público) O quê, amiguinhos? Falem mais alto!
CHICOTE: (ao público) Não estou entendendo. O quê? Puxe a carta?
XICUTA: Não, Cicote. Eu acho que é para PUXAR A CORDA. A corda, Cicote. A corda que tem nas minhas costas.
CHICOTE: Ai... É mesmo. Que distraído que eu sou. Estão vendo como é ruim ficar desligado, amiguinhos. Nós temos que ficar o tempo todo ligado para não ser atropelado, para não ser enganado, para não ser tapeado, para não ser esbofet...
XICUTA: Ai, Cicote. Está bom. Os nossos amiguinhos já entenderem que eles têm que ficar completamente ligados. Só que quem ainda não está completamente ligada sou eu. Vai, me liga logo! Vai ver que é por isso que eu ainda estou falando o meu nome e o nome dos outros de errado.
CHICOTE: Então ta legal. Lá vai. Contem comigo, amiguinhos. 1, 2, 3 e... já.
O palhaço chicote puxa a corda da boneca Xicuta.
XICUTA: SEU PORCO! VOCÊ É UM PORCO! EU TAMBÉM SOU PORCA! AHHHHHHHHHH! VOCÊ NÃO VAI CONSEGUIR DORMIR PORQUE É LEGAL SER DA NOITE, QUE NEM VAMPIRO! AHHHHHHHHHH! O BOM MESMO É FICAR SEM TOMAR BANHO! O BOM MESMO É DESRESPEITAR O PAPAI E A MAMÃE! AHHHHHHHHHH! EU SOU A BONECA CICUTA! AHHHHHHHHHH
O Palhaço Chicote se assusta e fica bem longe, ouvindo essas frases proferidas pela boneca Xicuta assustado. Ele se aproxima da boneca e, escondido, consegue desligá-la. Enquanto isso, ela está em pé encurvada para frente, exprimindo estar desligada. O palhaço pega uma fita K7 que está no bolso da boneca cicuta, joga no chão e coloca outra fita K7 no bolso da boneca e puxa novamente a corda, dando a entender ao público que era esse o problema.
XICUTA: (despertando morosamente e falando mansamente) SEU... SEU... Cabelo está despenteado. Você deve fazer boas amizades. Você tem que obedecer aos seus pais. Você pode brincar de qualquer coisa que não te faça mal. O meu nome é Xicuta é o seu é... é...é....
Suspense.
XICUTA: (com um enorme sorriso) CHIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIICOTE!
Todos vibram. Xicuta e Chicote se abraçam.
CHICOTE: Viram só, amiguinhos. Vocês podem brincar de qualquer coisa que não lhe façam mal, não é, boneca Xicuta
XICUTA: É isso aí, palhaço Chicote. Mas se, mesmo assim, alguém insistir em dar para você alguma coisa que lhe faça mal, entregue o brinquedo, a roupa ou esse objeto para um adulto inteligente e ele vai lhe devolver o brinquedo, a roupa ou o objeto sem aquilo que venha te fazer mal.
CHICOTE: Só que SE esse brinquedo, roupa ou objeto só lhe faz mal, é melhor que ela desapareça por completo! E só assim...
XICUTA e CHICOTE: ... VOCÊ VAI BRINCAR SEM SE PREJUDICAR!
Xicuta e Chicote cantam a música final.
Xicuta e CHICOTE: Se o mal vier habitar.
Dentro dos brinquedos.
É melhor escolher outra coisa pra brincar
Do que viver com medo.
REFRÃO
Vamos brincar, vamos brincar,
Para todo mundo se alegrar!
Vamos brincar, vamos brincar,
Para todo mundo se alegrar
Fim
Glória a Deus