O CRAVO E A ROSA
agosto 25, 2010
CENÁRIO: UM JARDIM
ABREM-SE AS CORTINAS, A ROSA ESTÁ EM CENA. LINDA, VERMELHA. QUASE UMA PRINCESA.
ROSA – Bom dia, dia! Bom dia, Sol! Que lindo dia para encontrar um belo namorado. Tomara que aquele Lírio lindo passe por aqui hoje! Tenho certeza que hoje ele vai me notar, pois estou mais bonita do que os outros dias. E se ele olhar pra mim… Aaaaaaiiii… acho que vou desmaiar de emoção!
ENTRA EM CENA O CRAVO. SIMPLES, SEM GRAÇA, UM CAIPIRA. TRAZ UM VIOLÃO.
CRAVO – Bão dia, minha princesa!
ROSA – Estava um bom dia… Até você aparecer por aqui.
CRAVO – Mas, ocê tá uma belezura hoje, hein?
ROSA – Você não tem outro lugar pra ir não?
CRAVO – Que lugar desse jardim todo eu vô achá uma Rosa mais linda que ocê?
ROSA – Larga do meu pé, chulé!
CRAVO – Só largo do seu pé quando ocê aceitá namorá com eu?
ROSA – Não é: namorar com eu! É namorar comigo!
CRAVO – Inton, ocê aceita?
ROSA – Claro que não! Já falei que não quero nada com você. Se você quiser, posso até ser sua amiga. Mas, só!
CRAVO – Fiz até uma moda pr’ocê. Iscuita só!
CRAVO DEDILHA UM ACORDO SERTANEJO NO VIOLÃO.
ROSA – Pode parar, pode parar, pode parar! Eu odeio a sua cantoria. Agora me dá licença que está quase na hora do meu futuro namorado passar por aqui.
CRAVO – Mas, o seu namorado já táqui. Oia só!
FAZ POSE DE FORTÃO E ESBOÇA UM OLHAR SEDUTOR.
CRAVO – Não sou uma beleza?
ROSA – Você é um chato, isso sim! Agora vai procurar a Margarida, vai! Quem sabe ela não te dá bola? Pois o meu negócio é com o Lírio! Ele sim, é lindo, elegante, perfumado.
CRAVO – Ih, tá me chamando de fedido?
O CRAVO SE CHEIRA. FAZ MENÇÃO DE SE SENTIR FEDIDO.
ROSA – (RINDO) Viu só! Até você não agüenta o seu cheiro.
CRAVO – Oia aqui, sua… sua… Qué sabê de uma coisa? Eu num quero mais sabe de ocê. E fica aí mesmo esperando aquele almofadinha do Lírio, fica!
ROSA – Fico mesmo, ta?
CRAVO – Vai ficá esperando e vai até cansá!
ROSA – Quem disse que eu vou cansar?
CRAVO – Quem disse que o Lírio vai te bola?
ROSA – Eu sou a Rosa, a mais bela do jardim!
CRAVO – Seu eu fosse ocê, aceitava logo namorá com eu!
ROSA – Já falei que não é com eu! É comigo! É comigo! E o Lírio, vai sim querer namorar comigo, ta?
CRAVO – Intão ta bão! Quero vê quando ocê ficá véia, feia, murcha, sozinha e toda despetalada? Aí, nem adianta vim me procurá, viu?
ROSA – Seu horroroso. Eu é que nunca vou namorar com você! Você é um grosso! Fora daqui!
A ROSA ATIRA UM VASO EM CRAVO. ELE TENTA SE PROTEGER E DEIXA O VIOLÃO NO CHÃO. O CRAVO SE ESCONDE E FICA OBSERVANDO ROSA.
ROSA – Esse Cravo é um insuportável! O pior é que ele não larga do meu pé! Eu vou lhe mostrar uma coisa. Volta aqui!
ROSA VAI ATÉ O CENTRO DO PALCO E PROCURA POR CRAVO.
ROSA – Cravo, cadê você! Seu sem graça! Aparece. Agora!
ROSA PÁRA NO CENTRO DO PALCO, OLHA E NÃO VÊ NINGUÉM.
ROSA – Será? Será que o Cravo tem razão? Será que o Lírio não vai querer namorar comigo? E eu vou ficar sozinha? Não! Não posso ficar sozinha! Velha, feia, murcha e despetalada? Aí que medo! Ei, Cravo, volta aqui. Você está certo! Não quero mais saber de esperar o Lírio. Eu aceito namorar com você!
A ROSA VOLTA A PROCURA POR CRAVO.
ROSA – (CHOROSA) Cravo! Cravo! Cadê você?
O CRAVO SAI DO ESCONDERIJO COM UM LENÇO SUJO DE VERMELHO AMARRADO NA CABEÇA.
CRAVO – Ai! Ai minha cabeça!
ROSA – O que aconteceu?
CRAVO – Ocê num alembra? O vaso que ocê jogou ni mim?
ROSA – Desculpa, Cravo. Não queria te machucar!
CRAVO – Mas, machucô!
ROSA – Deixa eu ver isso!
CRAVO – Não! Meio ocê nem mexe!
ROSA – Então vamos fazer as pazes!
CRAVO – Tá bem! Eu aceito suas desculpas!
ROSA – Você gosta mesmo de mim?
CRAVO – Craro que gosto! Ocê sabe que sim. Mas se ocê prefere o Lírio, ocê precisava sabê que vai ficá véia, feia, murcha, despetalada e sozinha pra sempre!
ROSA AMEAÇA BATER EM CRAVO.
CRAVO – Ai!… Tô vendo tudo escuro! Acho que vô desm…
O CRAVO DESABA NO CHÃO, DESMAIADO.
ROSA – (DESESPERADA) Ai, Desculpa! Eu não ia fazer nada em você! Socorro! Eu aceito até namorar com você! Alguém me ajude, por favor! Será que eu matei o Cravo? Agora que estou perdida mesmo. Vou ficar velha, feia, murcha, sozinha, despetalada e passar o resto da minha vida na cadeia.
A ROSA CORRE PELO PALCO. O CRAVO LEVANTA A CABEÇA E RI DO DESESPERO DA ROSA. ELA VOLTA ATÉ ELE E ELE SE DEITA DE NOVO.
ROSA – (CHORANDO) Cravo! Meu amigo Cravinho! Fala com a sua Rosa! Eu pensei melhor. Eu aceito namorar com você. Me dá um sinal.
ROSA SE AJOELHA E APOIA A CABEÇA DE CRAVO EM SEUS BRAÇOS. O CRAVO ABRE O OLHO E DÁ UM GEMIDO.
ROSA – Cravo! Você está bem?
CRAVO – Quem é ocê?
ROSA – Sou eu! A sua Rosa. Lembra?
CRAVO – Que Rosa?
ROSA – A sua namorada!
CRAVO – Eu num tenho namorada.
ROSA – Agora tem! Eu aceito namorar com você!
O CRAVO DÁ UM PULO E FICA DE PÉ.
CRAVO – Jura? Sabia que ocê gostava de eu!
ROSA – Não é gostava de eu! É, gostava de mim! E você não passa de um mentiroso! Eu vou acabar com você! Onde já se viu enganar os outros. Eu
toda preocupada e você aí, fingindo! Seu grosso!
ROSA AMEAÇA BATER NO CRAVO.
CRAVO – Ai, minha cabeça!
ROSA – (COM RAIVA) Como você pôde fazer isso comigo? Assim que você gosta de mim? Eu não quero mais saber de você. Nunca mais! Nem que eu fique velha, feia, murcha, toda despetalada e sozinha!
ROSA DÁ UM EMPURRÃO NO CRAVO
ROSA – E sai da minha frente!
ROSA SAI DE CENA FURIOSA.
CRAVO – Espera por mim, minha belezura! Num faz assim com eu! Eu gosto de ocê de verdade! Foi só uma brincadeira! Eu sabia que ocê gosta de eu! Eu sabia!
O CRAVO SAI ATRÁS DE ROSA. ENQUANTO ELE SAI, TOCA A MÚSICA: O CRAVO E A ROSA.
APAGAM-SE AS LUZES. FECHAM-AS CORTINAS.
– FIM –
ERA UMA VEZ UM HOMEM…
março 5, 2009
ERA UMA VEZ UM HOMEM…
Peça Infantil de: PAULO SACALDASSY
PERSONAGENS
TATU
TAMANDUÁ
JAGUATIRICA
HOMEM
OBS.: Os diálogos estão em linguagem coloquial característica do pessoal do interior, portanto não obedecem à norma culta da língua.
CONTATO: sacaldassy@yahoo.com.br
TEL.: 0 XX 13 – 3363-3942
CENÁRIO: UMA FLORESTA.
AO ABRIR AS CORTINAS, UM TATU ESTÁ EM CENA SENTADO EM UMA PEDRA, ENROLANDO UM FUMINHO DE ROLO, TEM UMA VIOLA AO LADO. UM TAMANDUÁ E UMA JAGUATIRICA SE APROXIMAM.
Tamanduá – Boa tarde, cumpade Tatu!
Tatu – Tarde!
Jaguatirica – Tudo tranquilo por aqui?
Tatu – Tudo!
Tamanduá – O cumpade tá sabendo que tentaram entrá na floresta outra vez?
Tatu – Tô sabendo sim! É sempre assim…
Jaguatirica – Mas num havera de se preocupá, não, viu cumpade Tamanduá! Se arguém se atrevê tirá a nossa paz, eu põe pra corrê.
Tatu – Tá certo, cumade! Tâmo sabendo de sua corage!
Tamanduá – Essa sua tranquilidade é impressionante, vice?
Tatu – Pressa pra quê cumpade?
Jaguatirica – Pra fugí do inimigo, ara!
Tatu – Inimigo, a gente enfrenta com a cabeça, sô! Aliás, já que ocês tão por aqui mesmo, vô contá um causinho pr’ocês…
Tamanduá – Lá vem o cumpade com suas histórias!
Jaguatirica – Com suas mentiras, isso sim! Pois o cumpade não passa de um mentiroso, isso é que é!
Tatu – Mas, essa ocês sabem que é verdade! Ou ocês num alembram?
Tamanduá – Quar? Num vai dizê que é aquele da cumade galinha que quase morreu entalada com o seu próprio ovo?…
Jaguatirica – Nem aquela do cumpade Jacaré que tava cansado de nadá e qua-se morreu tomando sol na beira do rio…
Tatu – Nada disso! É a história daquele outro bicho… o bicho home!…
Tamanduá – Essa eu num gosto nem de me alembrar!
Jaguatirica – Mas, quar? São tantas!
Tatu – É aquele que o tar bicho home…
SOM DE TIROS. OS BICHOS SAEM CORRENDO. BLACK-OUT.
LUZ GERAL, UM HOMEM VESTIDO DE CAÇADOR TRAZENDO UMA MOCHILA, ENTRA EM CENA.
Homem – Nessa mata devastada
Onde quase não há nada
Ainda haverei de encontrar
Um bicho de pêlo grosso
Um outro de casca dura
Quem sabe uma onça pintada
Para fazer uma moldura
Um tal bicho em extinção
Que seja uma raridade
Aumentando a devastação
Dessa fauna tão selvagem
Mesmo porque o que interessa
É a vida do homem da cidade
Porque bicho da floresta
Serve só pra fazer maldade
E assim que eu encontrar
Serei reconhecido como aventureiro
Vou ter uma vida melhor
Vou ganhar muito dinheiro
Mas, onde estão os bichos desta floresta? Não acredito que não viva por aqui nenhum bicho que valha a pena ser capturado. Uma espécie em ex-tinção será bem melhor, pois o dinheiro será maior… Tem bicho que não serve pra nada mesmo. (O HOMEM TIRA DE SUA MOCHILA ALGUNS OBJETOS E PRE-PARA UMA ARMADILHA) Vou deixar essa bem aqui. Enquanto isso vou procurar algum lugar para armar acampamento, depois eu volto para ver se algum bicho esperto caiu em minha armadilha.
O HOMEM SAI DE CENA. ENTRAM O TATU, O TAMANDUÁ E A JAGUATIRICA. O TATU, COMO SEMPRE, SENTA EM SUA PEDRA E CONTINUA ENROLANDO O SEU FUMINHO DE ROLO. TEM SUA VIOLA ENCOSTADA A PEDRA.
Tamanduá – Esse tiro não é um bão sinar!
Tatu – É verdade, cumpade!
Jaguatirica – Já tô sentindo cheiro de home por aqui.
Tatu – E olha só! (MOSTRANDO A ARMADILHA) Ele já chegou por aqui!
Tamanduá – Então, agora tâmo perdido, cumpade!
Jaguatirica – Vou arrancá o coro desse home!
Tatu – É só prestá a atenção pra num pisá na armadilha. Se o home vê que num pegô bicho nenhum, ele vai embora!
Tamanduá – Mas, ocê é muito tranquilo, mesmo, hein cumpade?
O TATU SE PÕE PENSATIVO.
Jaguatirica – É que ele sabe que se precisá, eu tô aqui!
De uma linhagem felina
Sou uma onça brasileira
Vivo embrenhada nas matas
Num faço mar a ninguém
Há aqueles que tem medo
Quando dou o meu rugido
Mas é só auto defesa
Não quero ferir ninguém
Só se me atacam primeiro
Viro de fato uma fera
Onça feroz e viril
E com o meu bote certeiro
Quando ninguém mais espera
Eu firo assim quem me feriu.
SONS DE TIRO. OS BICHOS TRATAM DE SAIR CORRRENDO. O RABO DO TAMANDUÁ FICA PRESO NA ARMADILHA. ENTRA O HOMEM.
Homem – Olha só! Um belo tamanduá em extinção caiu na minha armadilha!
A JAGUATIRIGA ATRAVESSA A CENA TIRANDO A ATENÇÃO DO HOMEM. O TATU VAI E LIVRA O TAMANDUÁ DA ARMADILHA.
Homem – Droga! Não é que aquele tamanduá conseguiu escapar! Se não fosse aquela onça!… Mas isso é um bom sinal! Deve ter outros bichos em extinção prontos para caírem nas minhas armadilhas. Desta vez vou armar logo duas arma-dilhas. Assim, tenho certeza que consigo pegar algum.
O HOMEM ARMA SUAS ARMADILHAS E SAI. OS BICHOS ENTRAM.
Tamanduá – Essa foi por pouco!
Tatu – É cumpade! Precisa prestá mais atenção!
Jaguatirica – Da próxima vez, esse home num me escapa!
Tamanduá – Olha lá! O home agora armô duas armadilha!
Tatu – Num se preocupe, cumpade, a gente é mais esperto que ele!
Jaguatirica – E temos uma vantagem, já conhecemos muito bem a mata.
Tamanduá – Num sei que esse bicho home quer tanto aqui na floresta!
Tatu – Vai vê ele gosta do ar puro, né mesmo, cumade?
Jaguatirica – É verdade, cumpade!
OS DOIS CAEM NA GARGALHADA.
Tamanduá – Já faz tempo que aqui
Num se tem paz pra vivê
Há alguém a nos perseguir
Temo sempre que corrê
Como pode ser assim
Num se ter tranquilidade
Tâmo quase no fim
Por conta de tanta mardade
Precisamo encontrá
Uma solução certeira
Uma forma derradeira
De acabá com a perseguição
OUVE-SE SOM DE TIRO
Corre Tatu e se esconde
Que o homem vai te pegá
Eu também já vou indo
Pois preciso escapá
OS BICHOS CORREM, MENOS A JAGUATIRICA QUE FICA PRESA EM UMA DAS ARMADILHAS. ENTRA O HOMEM.
Homem – Olha só! Que bela onça pintada!
Jaguatirica – Me sorta daqui!
Homem – E não é que a tal onça é valente! Esse belo exemplar vai me render um bom dinheiro. Só que sua cabeça vou pendurar na minha sala como um troféu, pois não é sempre que se consegue capturar uma onça, não é mesmo? Bom, acho que vou descansar dessa caçada, mesmo porque, já não vou embora de mãos abanando. (PARA A JAGUATIRICA) E você, trate de se comportar, viu?
Jaguatirica – Preciso dá um jeito de me livrá dessa armadilha, senão vou acabá morrendo, isso sim!
ENTRAM O TATU E O TAMANDUÁ.
Tatu – Ê cumade, tanta valentia e acabô caindo na armadilha, hein?
Tamanduá – Eu bem que avisei pra corrê!
Jaguatirica – Me tirem daqui, por favô! Ele disse que vai me matá!
Tatu – Carma, cumade! Sempre tem uma saída.
Tamanduá – Mas, quar?
Jaguatirica – Me tira daqui! Me tira daqui!
Tatu – Nem sempre é com a força
Que se ganha uma batalha
Ou se escapa do perigo
Precisa ser astuto
Muito mais que destemido
Pra enfrentá o inimigo
Aí sim será possível
Revertê toda a situação
Deixá de sê o perseguido
Pra fazê a perseguição
E no momento certo
Quanto menos se esperá
Dá o bote certeiro
E o inimigo capturá
O TATU SE SENTA NA PEDRA E SE PÕE PENSATIVO.
Jaguatirica – (PARA O TAMANDUÁ) Ocê precisa me tirá daqui. Quando ocê caiu na armadilha eu ajudei ocê a escapá!
Tamanduá – Eu sei, cumade! Mas, como posso fazê isso?
O HOMEM ENTRA DE SURPRESA.
Homem – Olha só isso! Agora minha caçada ficou completa. Uma onça, um tamanduá e um tatu. Dessa vez vou faturar alto! Fazia tempo que uma caçada não era tão bem sucedida!.
O TATU SE LEVANTE E VAI EM DIREÇÃO AO HOMEM.
Jaguatirica – Cuidado, cumpade!
Tamanduá – Num faz isso! Ele vai te pegá!
Tatu – Ô, seu home! A gente pode tê dois dedinhos de prosa!
Homem – Não tenho nada pra conversar com você!
Tatu – É que eu queria contá uma historinha pra vos micê…
Tamanduá – Lá vai o cumpade com suas histórias!
Jaguatirica – (PARA O TAMANDUÁ) Aproveita que o cumpade vai contá as suas histórias e tenta sortá esse nó que tá prendendo minha pata.
Homem – (PARA O TATU) Tudo bem! Mas tem que ser bem rápido, pois preciso levar vocês logo daqui!
Tatu – Num vai demorá nada. É só um tiquinho…
Tamanduá – (PARA A JAGUATIRICA) Tá difícil, cumade!
Tatu – (PARA O HOMEM) Era uma vez um home, lá pra bandas da Mata Larga… Um caboclo valente como ele só… Assim como vos micê aqui! Ele num tinha medo de tatu, de cobra, de tamanduá. Nem mesmo de onça, o caboclo tinha medo. Então, ele entrô na mata mais fechada que existia na região, tava disposto a enfrentá todos os perigos… E chegou lá, no meio da mata, com toda sua corage e valentia…
Homem – (PARA O TATU) Dá pra ser um pouquinho mais rápido?
Jaguatirica – (PARA O TAMANDUÁ) Vai cumpade! Tá quase soltando o nó!
Tatu – (PARA O HOMEM) Tá certo! O home quer que eu seja rápido, então vamô lá!… O caboclo enfrentô todos os bichos daquela mata e vortô pra casa sastisfeito com a sua caçada, assim como vos micê tá, sastisfeito por tê capturado três espécies em extinção… Mas aí, quando o caboclo vortô pra sua casa, que tragédia… um outro bicho home, mais valente do que ele e mais ganancioso do que ele, tinha invadido sua casa e matado toda a sua família…
Homem – Ora, isso é conversa fiada. Vou acabar já com essa brincadeira! (E SACA SUA ARMA).
O TAMANDUÁ CONSEGUE SOLTAR A JAGUATIRICA. OS TRÊS BICHOS CER-CAM O HOMEM.
Tatu – … Só que o bicho home num aprendeu a lição e continua a invadí as matas atrás dos animar em extinção. Ê bicho burro esse tar de home!…
O HOMEM APONTA A ARMA PARA O TATU, MAS A JAGUATIRICA PULA EM CIMA DELE. OS DOIS LUTAM. O HOMEM CONSEGUE ESCAPAR E SAI DE CE-NA. BLACK-OUT.
LUZ GERAL. O TATU ESTÁ SENTADO NA MESMA POSIÇÃO DO INÍCIO, EN-ROLANDO SEU FUMINHO.
Tatu – Ê bicho mais burro, não, sô!
Jaguatirica – Mas também se num fosse eu?
Tamanduá – Mas seu eu num tivesse te soltado…
Tatu – Só, que se num fosse o meu causinho, o tar do bicho home, tinha era papado nós três…
Jaguatirica – É! Isso bem que é verdade!
Tamanduá – Ê cumpade mais esperto, sô!
Tatu – Já que ocês gostaram tanto desse meu causinho, vou contá outro pro’cês…
Tamanduá – Chega de causo por hoje, cumpade!
Jaguatirica – Também já tô sastisfeita!
OS DOIS SAEM DE CENA.
Tatu – E tem cumpade que num acredita nas minhas histórias!
O TATU ACENDE SEU FUMINHO DE ROLO, PEGA SUA VIOLA DE TRÁS DA PEDRA E COMEÇA TOCAR UMA MODA.
Coitado do bicho home
Que se acha o mais esperto
Nós caça porque tem fome
E ele por sê anarfabeto
Num sabe que samos parte
Todos da mesma família
O home só faz besteira
E cai sempre na armadilha…
APAGUAM-SE AS LUZES. FECHAM-SE AS CORTINAS.
– FIM –