Texto =Tempo bom na escola
Você sabia que a cada cem crianças que entram na primeira série apenas trinta chegam à quinta série? Para onde vão as outras setenta crianças que saem da escola? Será que existem histórias iguais a essa hoje em dia? Encontre a resposta nesta história de uma criança brasileira.
Assim, quando fiz sete anos, vó Luzia me apontou e disse:
- Ta na hora dele entrar pra escola.
Minha mãe vendeu o guarda-comida, me comprou cartilha, caderno, lápis e tudo o mais, pano para duas camisas brancas, para a calça azul; só faltou o calçado. Não fez diferença, quase todos os meninos iam de pé no chão.
A escola era uma sala ao lado da máquina de beneficiar café, trinta carteiras, a escrivaninha da professora e um quadro-negro que tomava a parede inteira. Dona Carolina vinha da cidade para dar aulas, na charrete da fazenda que às quatro horas a levava de volta, trazia os jornais da fazenda e a correspondência do patrão.
O filho do campeiro, moleque encapetado, logo inventou de chamar dona Carolina de “dona Creolina”. Como o nome dele era Raimundo ela botou nele o apelido de Viramundo; daí ele parou com aquela besteira.
Para mim a escola foi um tempo bom; eu pensava “enquanto estiver aqui não tem perigo de me mandarem pra roça”. A roça, puxar a enxada era nisto que nenhum menino queria pensar.
Enchi cadernos e mais cadernos; eu apreciava ver as letras saírem redondinhas do meu lápis:
- Fessora, e quando acabar a cartilha?
- Quando acabar a cartilha você já saberá ler.
- Vou poder ler gibi? Histórias em quadrinhos?
- Vai.
- O caso é que não tenho dinheiro pra comprar.
Toda a classe riu; a professora também:
- Então, todo dia em que ler corretamente, trago uma dessas revistinhas para você.
- Verdade? Promete mesmo?
- Prometo.
- Dona Carolina é pra frente!
Foi um tempo bom o da escola; apesar da palavra “carestia” sempre presente nas prosas dos mais velhos, fosse na casa do vizinho, fosse na nossa.
Acabei o primeiro ano, fiz o segundo e quando estava pra lá do meio do terceiro, setembro, com as chuvas e o começo das plantações, uma noite, depois de muito cochichar com vó Luzia e a mãe mais triste, vô Juvenal tocou no meu braço e, quando olhei, ele disse:
- Neguito, amanhã cedo ‘cê vai com nóis pra roça. A carestia... a carestia vai obrigar ocê a trabalhar com a gente... Tenho muita pena, meu filho, mas acabou-se a folgança da escola...
Sentado no degrau da cozinha, o preto de arroz com feijão sobre os joelhos, senti um nó na garganta, uma revolta que brotava do coração, queria arrebentar em soluços. Olhei para dentro de casa, para as paredes que em casa de colônia só vão até a altura de dois metros, por cima é a prosa dos vizinhos, não se têm segredos. Do lado de lá, seu Venerando criou coragem, disse para o filho menor, meu colega na escola:
- Ocê também, Zezinho, amanhã começa a gemer na enxada.
Do lado de cá até que me sentir melhor: “não estou sozinho na minha desgraça”. Olhei para minha avó, na beira do fogão – coava um café ralo – a mãe a chorar na porta da sala e o avô ali em pé, como à espera de uma palavra amiga.
- Não tem problema, vô. Não tem problema... Respondi, enquanto que o meu peito parecia crescer cheio de responsabilidade.
apreciava ver: tinha o prazer, gostava de ver.
campeiro: pessoa que trabalhava no campo.
casa de colônia: casa de trabalhadores do campo.
charrete:veículo geralmente de duas rodas,
puxado por um ou mais cavalos.
encapetado: travesso, traquinas, endiabrado.
folgança: folga, descanso, divertimento.
gemer na enxada: trabalhar com a enxada.
máquina de beneficiar café: máquina de descascar café.
prosa: conversa.
Como é fácil entender o texto!
1. Responda com frases completas:
a) A mãe da criança vendeu o guarda-comida para comprar o quê?
b) Como era a escola?
c) O que a professora prometeu trazer ao menino quando soubesse ler?
d) O que o avô Juvenal disse para o menino?
e) Até que série o menino pôde estudar?
f) Por que o menino não se sentiu sozinho na sua desgraça?
2. Enumere as frases na ordem dos acontecimentos do texto:
( ) Dona Carolina, a professora, ganhou o apelido de “dona Creolina”.
( ) O filho menor de seu Venerando parou de estudar para trabalhar.
( ) Quando o menino fez sete anos, vó Luzia falou que estava na hora de ele entrar para a escola.
( ) Em setembro, época de plantação, o menino parou de estudar.
3. Dê sua opinião e responda:
a) Por que ficou faltando o calçado no uniforme do menino?
b) Por que quase todas as crianças iam de pé no chão para a escola?
c) Por que o café que a vó coava era ralo?
d) Por que a mãe do menino chorava na porta?
4. Pesquise e escreva o que significa as expressões abaixo:
a) “Um nó na garganta”;
b) “Uma revolta brotar no coração”;
c) “Querer arrebentar em soluços”;
5. Copie as frases substituindo as palavras destacadas por outras do mesmo significado:
a) Você gosta de uma conversa com os amigos.
b) O menino trabalhava tanto que precisava de uma folgança.
c) O trabalhador gemeu na enxada das sete da manhã às cinco da tarde.
d) O moleque travesso amarrou uma lata no rabo do gato.
6. Pense e depois responda:
a) Por que a palavra carestia estava sempre presente na conversa dos mais velhos?
b) Você acha que carestia é um problema somente dos que moram no campo? Por quê?
Assim, quando fiz sete anos, vó Luzia me apontou e disse:
- Ta na hora dele entrar pra escola.
Minha mãe vendeu o guarda-comida, me comprou cartilha, caderno, lápis e tudo o mais, pano para duas camisas brancas, para a calça azul; só faltou o calçado. Não fez diferença, quase todos os meninos iam de pé no chão.
A escola era uma sala ao lado da máquina de beneficiar café, trinta carteiras, a escrivaninha da professora e um quadro-negro que tomava a parede inteira. Dona Carolina vinha da cidade para dar aulas, na charrete da fazenda que às quatro horas a levava de volta, trazia os jornais da fazenda e a correspondência do patrão.
O filho do campeiro, moleque encapetado, logo inventou de chamar dona Carolina de “dona Creolina”. Como o nome dele era Raimundo ela botou nele o apelido de Viramundo; daí ele parou com aquela besteira.
Para mim a escola foi um tempo bom; eu pensava “enquanto estiver aqui não tem perigo de me mandarem pra roça”. A roça, puxar a enxada era nisto que nenhum menino queria pensar.
Enchi cadernos e mais cadernos; eu apreciava ver as letras saírem redondinhas do meu lápis:
- Fessora, e quando acabar a cartilha?
- Quando acabar a cartilha você já saberá ler.
- Vou poder ler gibi? Histórias em quadrinhos?
- Vai.
- O caso é que não tenho dinheiro pra comprar.
Toda a classe riu; a professora também:
- Então, todo dia em que ler corretamente, trago uma dessas revistinhas para você.
- Verdade? Promete mesmo?
- Prometo.
- Dona Carolina é pra frente!
Foi um tempo bom o da escola; apesar da palavra “carestia” sempre presente nas prosas dos mais velhos, fosse na casa do vizinho, fosse na nossa.
Acabei o primeiro ano, fiz o segundo e quando estava pra lá do meio do terceiro, setembro, com as chuvas e o começo das plantações, uma noite, depois de muito cochichar com vó Luzia e a mãe mais triste, vô Juvenal tocou no meu braço e, quando olhei, ele disse:
- Neguito, amanhã cedo ‘cê vai com nóis pra roça. A carestia... a carestia vai obrigar ocê a trabalhar com a gente... Tenho muita pena, meu filho, mas acabou-se a folgança da escola...
Sentado no degrau da cozinha, o preto de arroz com feijão sobre os joelhos, senti um nó na garganta, uma revolta que brotava do coração, queria arrebentar em soluços. Olhei para dentro de casa, para as paredes que em casa de colônia só vão até a altura de dois metros, por cima é a prosa dos vizinhos, não se têm segredos. Do lado de lá, seu Venerando criou coragem, disse para o filho menor, meu colega na escola:
- Ocê também, Zezinho, amanhã começa a gemer na enxada.
Do lado de cá até que me sentir melhor: “não estou sozinho na minha desgraça”. Olhei para minha avó, na beira do fogão – coava um café ralo – a mãe a chorar na porta da sala e o avô ali em pé, como à espera de uma palavra amiga.
- Não tem problema, vô. Não tem problema... Respondi, enquanto que o meu peito parecia crescer cheio de responsabilidade.
Lucília Junqueira de Prado. De sol a sol. Belo Horizonte, Comunicação, 1980.
Como é fácil conhecer palavras novas!apreciava ver: tinha o prazer, gostava de ver.
campeiro: pessoa que trabalhava no campo.
casa de colônia: casa de trabalhadores do campo.
charrete:veículo geralmente de duas rodas,
puxado por um ou mais cavalos.
encapetado: travesso, traquinas, endiabrado.
folgança: folga, descanso, divertimento.
gemer na enxada: trabalhar com a enxada.
máquina de beneficiar café: máquina de descascar café.
prosa: conversa.
Como é fácil entender o texto!
1. Responda com frases completas:
a) A mãe da criança vendeu o guarda-comida para comprar o quê?
b) Como era a escola?
c) O que a professora prometeu trazer ao menino quando soubesse ler?
d) O que o avô Juvenal disse para o menino?
e) Até que série o menino pôde estudar?
f) Por que o menino não se sentiu sozinho na sua desgraça?
2. Enumere as frases na ordem dos acontecimentos do texto:
( ) Dona Carolina, a professora, ganhou o apelido de “dona Creolina”.
( ) O filho menor de seu Venerando parou de estudar para trabalhar.
( ) Quando o menino fez sete anos, vó Luzia falou que estava na hora de ele entrar para a escola.
( ) Em setembro, época de plantação, o menino parou de estudar.
3. Dê sua opinião e responda:
a) Por que ficou faltando o calçado no uniforme do menino?
b) Por que quase todas as crianças iam de pé no chão para a escola?
c) Por que o café que a vó coava era ralo?
d) Por que a mãe do menino chorava na porta?
4. Pesquise e escreva o que significa as expressões abaixo:
a) “Um nó na garganta”;
b) “Uma revolta brotar no coração”;
c) “Querer arrebentar em soluços”;
5. Copie as frases substituindo as palavras destacadas por outras do mesmo significado:
a) Você gosta de uma conversa com os amigos.
b) O menino trabalhava tanto que precisava de uma folgança.
c) O trabalhador gemeu na enxada das sete da manhã às cinco da tarde.
d) O moleque travesso amarrou uma lata no rabo do gato.
6. Pense e depois responda:
a) Por que a palavra carestia estava sempre presente na conversa dos mais velhos?
b) Você acha que carestia é um problema somente dos que moram no campo? Por quê?
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