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O piquenique do Catapimba
O piquenique do Catapimba
Série A Turma da nossa rua
de Ruth Rocha
Catapimba resolveu organizar um piquenique e chamou toda a turma da
rua. Fizeram uma reunião escondido da turma do Sai-da-Frente, que é o
time de futebol da rua de baixo que ninguém gostava, mesmo sem saber
o motivo.
O piquenique seria num domingo na represa que não era longe dali.
A Caloca ia levar a vara de pescar, o Bolacha, umas coisas pra comer, a
Luciana, o espeto para fazer o churrasco e assim por diante. A Mariana queria fazer uma lista para
organizar tudo direitinho, mas a turma não se interessou.
No dia marcado, eles se encontraram na praçinha, se divertiram pra valer durante a caminhada e
chegaram na represa cansados e famintos. E sabe o que aconteceu? Descobriram que não tinham o
que comer. Tinha abridor de garrafa, mas não tinha garrafa, tinha lata de sardinha, de palmito, de
salsicha, mas não tinha abridor. Ah, tinha também raquetes sem bola, disco sem vitrola e até viola.
E no meio da fome e da desolação apareceu a solução: Batata, beque-central do Sai-da-Frente, que
apareceu meio sem graça dizendo que eles estavam fazendo um piquenique do outro lado do rio e
que estava com uns probleminhas... Sabe quais eram? Eles tinham carne para churrasco, mas
faltava espeto, abridor de lata, mas sem nada para abrir, bola para jogar, mas tinham esquecido as
raquetes...
Pois bem, o que a turma de Catapimba não tinha a outra tinha e vice-versa. Resolvidos os problemas
gastronômicos e de diversão o que podemos aprender é que quando se chega mais perto a gente vê
que afinal a turma de lá da outra rua até que é legal!
A autora
Ruth Rocha nasceu em 1931 em São Paulo, capital, onde sempre viveu. Foi orientadora educacional
e editora. Começou a escrever artigos sobre educação para a revista Cláudia, em 1967. Em 1969
começou a escrever histórias infantis para a revista Recreio. Em 1976 teve seu primeiro livro editado.
De lá para cá publicou mais de cem livros no Brasil e vinte no exterior, em dezenove idiomas.
Série A Turma da nossa rua
de Ruth Rocha
Catapimba resolveu organizar um piquenique e chamou toda a turma da
rua. Fizeram uma reunião escondido da turma do Sai-da-Frente, que é o
time de futebol da rua de baixo que ninguém gostava, mesmo sem saber
o motivo.
O piquenique seria num domingo na represa que não era longe dali.
A Caloca ia levar a vara de pescar, o Bolacha, umas coisas pra comer, a
Luciana, o espeto para fazer o churrasco e assim por diante. A Mariana queria fazer uma lista para
organizar tudo direitinho, mas a turma não se interessou.
No dia marcado, eles se encontraram na praçinha, se divertiram pra valer durante a caminhada e
chegaram na represa cansados e famintos. E sabe o que aconteceu? Descobriram que não tinham o
que comer. Tinha abridor de garrafa, mas não tinha garrafa, tinha lata de sardinha, de palmito, de
salsicha, mas não tinha abridor. Ah, tinha também raquetes sem bola, disco sem vitrola e até viola.
E no meio da fome e da desolação apareceu a solução: Batata, beque-central do Sai-da-Frente, que
apareceu meio sem graça dizendo que eles estavam fazendo um piquenique do outro lado do rio e
que estava com uns probleminhas... Sabe quais eram? Eles tinham carne para churrasco, mas
faltava espeto, abridor de lata, mas sem nada para abrir, bola para jogar, mas tinham esquecido as
raquetes...
Pois bem, o que a turma de Catapimba não tinha a outra tinha e vice-versa. Resolvidos os problemas
gastronômicos e de diversão o que podemos aprender é que quando se chega mais perto a gente vê
que afinal a turma de lá da outra rua até que é legal!
A autora
Ruth Rocha nasceu em 1931 em São Paulo, capital, onde sempre viveu. Foi orientadora educacional
e editora. Começou a escrever artigos sobre educação para a revista Cláudia, em 1967. Em 1969
começou a escrever histórias infantis para a revista Recreio. Em 1976 teve seu primeiro livro editado.
De lá para cá publicou mais de cem livros no Brasil e vinte no exterior, em dezenove idiomas.
PASSADO, PRESENTE, FUTURO UNS PELOS OUTROS
PASSADO, PRESENTE, FUTURO
UNS PELOS OUTROS
Isso aconteceu há muitos anos, quando as cidades começaram a ficar tão cheias de gente que ir de um lugar para o outro se tornou um problema.
Eu morava em São Paulo, que nesta época já tinha 20 milhões de habitantes, e mesmo o metrô com suas 27 linhas principais não dava conta de transportar todo mundo.
Nas avenidas auxiliares, aquelas enormes avenidas que o prefeito eleito em 1.996 construiu, e que têm 18 faixas de rodagem, o trânsito às vezes ficava parado 5,6 horas, de maneira que as pessoas faziam de tudo dentro dos carros: liam, faziam a barba, estudavam, jogavam batalha-naval, faziam tricô, jogavam xadrez, faziam de tudo!
Nas ruas secundárias as pessoas desciam dos carros, dançavam, faziam cooper, ginástica, balé, lutavam caratê...
A gente tinha que ficar o dia inteiro abrindo a porta, que toda hora tinha alguém pedindo pra usar o banheiro, beber água, ou pedindo um comprimido pra dor de cabeça.
Então, não sei bem quem foi que encontrou uma maneira de facilitar algumas tarefas, ou se foram várias pessoas ao mesmo tempo que tiveram a mesma idéia.
O que eu sei é que todo mundo começou a trocar os encargos, uns com os outros, que era pra facilitar as coisas.
No começo facilitava, mesmo!
A gente telefonava pro amigo e pedia:
___Será que dá pra você pagar a mensalidade da minha escola que é aí pertinho?
E o outro respondia:
___ Está bem, eu pago, mas será que dava pra você ir ao aniversário do Alaor, que é aí juntinho da sua casa?
Até que funcionava!
Às vezes vinham uns pedidos meio chatos:
___Você pode visitar minha sogra, por favor, que ela está doente, precisa de companhia? Ela mora mesmo no seu prédio. Como era um pedido meio chato, lá vinha outro pedido chato de volta:
___Tudo bem, desde que você vá ao enterro do Dr. Genivaldo que é aí na sua esquina.
Mas tinha gente que pedia pra gente umas coisas absurdas:
___Será que dava pra você ir ao dentista por mim, enquanto eu vou comer uma pizza aqui na esquina pra você?
Aí não dava, é ou não é?
Ou então:
___Olha, vai fazer exame na escola pra mim que eu vou ao cinema pra você.
No começo, quando as pessoas pediam essas coisas, a gente recusava, naturalmente.
Mas com o tempo foi ficando tão difícil a gente se movimentar que as pessoas foram concordando em fazer a tarefa dos outros.
Tinha gente que substituía os amigos no trabalho, tinha gente que namorava a namorada dos amigos, diz que teve um que até fez operação de apendicite no lugar de um primo...
Mas aí a coisa começou a encrencar.
Porque tinha gente que era reprovada pelos outros, o outro ficava danado!
Tinha gente que namorava o namorado do outro e não devolvia. Tinha gente que pegava catapora, quando estava fazendo a tarefa dos outros, e queria indenização porque dizia que isso não estava na combinação.
E a coisa começou a ficar preta no dia que as pessoas começaram a se aproveitar da confusão.
Teve gente que tirou dinheiro do banco e não devolveu nunca mais; teve gente que pegou o emprego do outro e não saiu mais, e teve até um espertinho que assumiu o comando do 28º exército no lugar do General Durão e era pra ficar só um ou dois dias ele não queria sair mais.
Mas o cúmulo, mesmo, foi no dia em que um tal de Generalino Caradura chegou cedo no Palácio do Governo, e foi dizendo que o Presidente tinha telefonado pra ele, e tinha pedido que ele ficasse na presidência por uns tempos, que ele estava muito gripado, e que Brasília era muito longe, o trânsito estava impossível e coisa e tal...
E depois que ele entrou no palácio, quem diz que ele saía?
Mas nunca mais!
Ele inventava que agora não podia, porque estava resolvendo umas coisas importantes, que agora não podia, porque ia receber uma visita de fora, que agora não podia por isso, por aquilo, por aquiloutro.
Esse cara ficou no palácio durante anos, e só saiu quando soube que tinha um cara na casa dele morando com a mulher dele, gastando o dinheiro dele, e o pior, usando o carro dele, que era feito sob encomenda nas oficinas especializadas de Cochabamba.
Essas coisas hoje em dia já são raras...
E agora vocês me desculpem. Tenho muito o que fazer.
Tenho que jogar uma partida de futebol para o meu sobrinho, enquanto ele experimenta meu vestido na costureira...
(Ruth Rocha; Este admirável mundo louco.)
O QUE DIZ O TEXTO?
1- A história começa com a seguinte expressão: “Isso aconteceu há muitos anos”. Significa que o narrador está contando um fato passado, presente ou do futuro?
2- O enredo da história, ou seja, os acontecimentos mostram cenas que representam a vida no passado, no presente, ou uma possibilidade de vida no futuro?
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Que relação existe entre o texto e o título do livro de onde ele foi tirado?
Bom Dia, Todas as Cores!
BOM DIA A TODAS AS CORES
Neste livro Camaleão acordou muito feliz, e mudou sua cor para rosa, a cor que ele achava a mais bonita. Durante um passeio encontrou vários de seus amiguinhos e cada um sugeria uma cor diferente para ele usar. Ele concordava e mudava sua cor, mas acabou ficando muito cansado. Ele percebeu então, que não conseguiria agradar a todos todo o tempo, no dia seguinte ele usou só cor-de-rosa
Leia o texto:
Bom Dia, Todas as Cores!
Meu amigo Camaleão acordou de bom humor.
- Bom dia, sol, bom dia, flores,
bom dia, todas as cores!
Lavou o rosto numa folha
Cheia de orvalho, mudou sua cor
Para a cor-de-rosa, que ele achava
A mais bonita de todas, e saiu para
O sol, contente da vida.
Meu amigo Camaleão estava feliz
Porque tinha chegado a primavera.
E o sol, finalmente, depois de
Um inverno longo e frio, brilhava,
Alegre, no céu.
- Eu hoje estou de bem com a vida
- Ele disse. - quero ser bonzinho
Pra todo mundo...
Logo que saiu de casa,
O Camaleão encontrou
O professor pernilongo.
O professor pernilongo toca
Violino na orquestra
Do Teatro Florestal.
- Bom dia, professor!
Como vai o senhor?
- Bom dia, Camaleão!
Mas o que é isso, meu irmão?
Por que é que mudou de cor?
Essa cor não lhe cai bem...
Olhe para o azul do céu.
Por que não fica azul também?
O Camaleão,
Amável como ele era,
Resolveu ficar azul
Como o céu da primavera...
Até que numa clareira
O Camaleão encontrou
O sabiá-laranjeira:
- Meu amigo Camaleão,
Muito bom dia e você!
Mas que cor é essa agora?
O amigo está azul por quê?
E o sabiá explicou
Que a cor mais linda do mundo
Era a cor alaranjada,
Cor de laranja, dourada.
Nosso amigo, bem depressa,
Resolveu mudar de cor.
Ficou logo alaranjado,
Louro, laranja, dourado.
E cantando, alegremente,
Lá se foi, ainda contente...
Na pracinha da floresta,
Saindo da capelinha,
Vinha o senhor louva-a-deus,
Mais a família inteirinha.
Ele é um senhor muito sério,
Que não gosta de gracinha.
- bom dia, Camaleão!
Que cor mais escandalosa!
Parece até fantasia
Pra baile de carnaval...
Você devia arranjar
Uma cor mais natural...
Veja o verde da folhagem...
Veja o verde da campina...
Você devia fazer
O que a natureza ensina.
É claro que o nosso amigo
Resolveu mudar de cor.
Ficou logo bem verdinho.
E foi pelo seu caminho...
Vocês agora já sabem como era o Camaleão.
Bastava que alguém falasse, mudava de opinião.
Ficava roxo, amarelo, ficava cor-de-pavão.
Ficava de toda cor. Não sabia dizer NÃO.
Por isso, naquele dia, cada vez que
Se encontrava com algum de seus amigos,
E que o amigo estranhava a cor com que ele estava...
Adivinha o que fazia o nosso Camaleão.
Pois ele logo mudava, mudava para outro tom...
Mudou de rosa para azul.
De azul para alaranjado.
De laranja para verde.
De verde para encarnado.
Mudou de preto para branco.
De branco virou roxinho.
De roxo para amarelo.
E até para cor de vinho...
Quando o sol começou a se pôr no horizonte,
Camaleão resolveu voltar para casa.
Estava cansado do longo passeio
E mais cansado ainda de tanto
mudar de cor.
Entrou na sua casinha.
Deitou para descansar.
E lá ficou a pensar:
- Por mais que a gente se esforce,
Não pode agradar a todos.
Alguns gostam de farofa.
Outros preferem farelo...
Uns querem comer maçã.
Outros preferem marmelo...
Tem quem goste de sapato.
Tem quem goste de chinelo...
E se não fossem os gostos,
Que seria do amarelo?
Por isso, no outro dia, Camaleão levantou-se
Bem cedinho.
- Bom dia, sol, bom dia, flores,
Bom dia, todas as cores!
Lavou o rosto numa folha
Cheia de orvalho,
Mudou sua cor para
A cor-de-rosa, que ele
Achava a mais bonita
De todas, e saiu para
O sol, contente
Da vida.
Logo que saiu, Camaleão encontrou o sapo cururu,
Que é cantor de sucesso na Rádio Jovem Floresta.
- Bom dia, meu caro sapo! Que dia mais lindo, não?
- Muito bom dia, amigo Camaleão!
Mais que cor mais engraçada,
Antiga, tão desbotada...
Por que é que você não usa
Uma cor mais avançada?
O Camaleão sorriu e disse para o seu amigo:
- Eu uso as cores que eu gosto,
E com isso faço bem.
Eu gosto dos bons conselhos,
Mas faço o que me convém.
Quem não agrada a si mesmo,
Não pode agradar ninguém...
E assim aconteceu
O que acabei de contar.
Se gostaram, muito bem!
Se não gostaram, AZAR!
Aqui é uma peça de teatro feita por uma escola.
A escolinha do Mar
A escolinha do Mar
Ostra fica lá no fundo do mar. Nesta escola, as aulas são muito diferentes.
O Dr. Camarão, por exemplo, dá aulas aos peixinhos menores: -
Um peixe inteligente presta atenção àquilo que come. Não come minhoca com anzol dentro. Nunca! O peixe elétrico ensina a fazer foguetes: - Quando nosso foguete ficar pronto, vamos à terra.
Os homens não vão a Lua? E o maestro Villa-Peixes ensina aos alunos lindas canções: “Como pode o peixe vivo Viver fora d’ água fria...” Os alunos desta escola não são apenas peixes. Há, por exemplo, Estela, a pequena estrela-do-mar, tão graciosa, que é a primeira aluna da aula de balé. Há Lulita, a pequena lula, que é a primeira em caligrafia porque já tem, dentro dela, pena e tinta. E há o siri-patola, que só sabe andar de lado e por isso nunca acompanha a aula de ginástica. Mas nem todos os alunos são bem-comportados. Quando o Dr. Camarão se distrai, escrevendo na concha, Peixoto, o peixinho vermelho, solta bolhas tão engraçadas que os outros riem, riem. O Dr. Camarão se queixa: - Estes meninos estão ficando muito marotos, fazem estripulias nas minhas barbas! No fim do ano, Dona Ostra, que é uma professora muito moderna, leva seus alunos para uma excursão pelo fundo do mar. Naquele ano, os preparativos para a excursão foram animadíssimos. Vocês sabem, o melhor da festa é esperar por ela. Um grande ônibus foi contratado para levar os alunos e professores. Ônibus marítimo, é claro, puxado por cavalos-marinhos. No dia da partida, todas as mamães foram despedir-se dos filhinhos e todas faziam muitas recomendações: - Veja lá, hein? Não vá chegar à beira do ar, e cuidado com as gaivotas! - Meu filho, não chegue perto do peixe-elétrico quando ele estiver ligado. É muito perigoso! - Adeus, adeus, boa viagem, aproveitem bem! E eles aproveitaram mesmo. Que beleza é o fundo do mar! E como aprenderam! - Veja, dona Ostra, que peixão tão grande, dando de mamar ao peixinho!
- Aquilo não é peixe, não, é uma baleia. As baleias são de outra família. Aparentadas com o homem. Por isso dão de mamar aos filhotes. E aprenderam muitas outras coisas. Viram os peixes-voadores, que davam grandes mergulhos no ar; viram os golfinhos, que são parentes das baleias, inteligentíssimos. E os tubarões, muito emproados, que andam sempre com seus ajudantes, os peixes-pilotos. O mais emproados de todos é o Barão Tubarão. Mora num grande castelo de madrepérola, com seu filho, o Tubaronete. Naquela noite, acamparam perto do castelo do Barão. Todos ajudaram a armar o acampamento e, quando tudo ficou pronto, juntaram-se e começaram a cantar; “Roda, roda, roda, pé, pé, pé. Caranguejo só é peixe Na enchente da maré...” Ouvindo aquela cantoria, o Tubaronete veio espiar o que havia. Ele era um peixe muito mal-educado, não ia á escola, nem nada, era um verdadeiro “play-peixe”. Começou a caçoar de todos, a imitar o jeito de cada um, que é uma coisa muito feia. Dona Ostra ficou aborrecida. - Olhe aqui, menino, se você quiser, pode ficar, mas tem que se comportar direitinho, como os outros. Tubaronete era mesmo muito mal-educado. Avançou para dona Ostra, vermelhinho de raiva: - Eu não preciso de vocês, seus peixes de água doce, seus peixes de lata! E arrancou a pérola de dona Ostra e fugiu, espirrando água para todos os lados. Dona Ostra se pôs a chorar: - Ai, minha pérola! Como é que vou passar sem ela? Já estava tão acostumada... - Ah, dona Ostra, não se aflija, não - disse Peixoto, que, apesar de pequenininho, era muito valente. - Eu vou já ao castelo buscar a pérola. Se ele não devolver, falo com o pai dele! Dona Ostra empalideceu: - Ai, não vai não! Eu tenho tanto medo de tubarão, ainda mais de tubarão barão. - Eu vou, sim. Se a gente ficar de braços cruzados, sua pérola não volta nunca mais. Chegando ao palácio do Barão, Peixoto bateu as barbatanas com toda a força: PLAC, PLAC, PLAC! Veio atender ao portão uma senhora enguia, de uniforme preto e touquinha branca na cabeça. - Boa noite, dona Cobra, diga ao Tubaronete que aqui está o Peixoto, que quer falar com ele sem demora – disse o peixinho. - Cobra, não! Dobre a língua, ouviu? Meus patrões não têm tempo a perder com senhores Peixotos...
E foi entrando, sem querer escutar o que Peixoto estava dizendo. Mas Peixoto não desanimou. Rodeou a casa até que encontrou uma janela meio aberta e foi entrando, mesmo sem convite. Lá estavam o Barão e o Tubaronete jantando. Peixoto, com o coração batendo muito, adiantou-se: - Desculpe, seu Barão, eu ir entrando assim, mas tenho umas contas a ajustar aqui com o seu filho. Cadê a pérola de dona Ostra? Devolva já, já! Tubaronete até engasgou de susto: - Eu ia devolver, eu ia, sim! Tome a pérola, eu estava brincando... O Barão Tubarão levantou-se, furioso: - De que é que vocês estão falando? Pelo que vejo, o senhor meu filho já aprontou mais uma das suas! É a vergonha da família Tubarão! Vou-lhe aplicar um castigo tremendo! Peixoto ficou com pena de Tubaronete: - Olhe, seu Barão, eu acho que o Tubaronete é assim, por que ele não sabe nada. Por que é que ele não vai á escola como os outros peixes? O Barão não disse nada, mas, no ano seguinte, Tubaronete foi o primeiro aluno que se matriculou na escola de dona Ostra. Faz muito tempo que essa história se passou. Tubaronete já não é mais aquele peixe sem educação que era naquele tempo. Ele, agora, é aluno de dona Ostra, dos mais aplicados. É ele quem apaga a concha para os professores, e é agora o melhor amigo do Peixoto. Os dois combinaram que, quando se formarem, vão ser sócios. Vão fundar uma grande agência de turismo, para fazerem sempre outras viagens pelo
O que os olhos não vêem
O que os olhos não vêem
Havia uma vez um rei num reino muito distante, que vivia em seu palácio com toda a corte reinante. Reinar pra ele era fácil, ele gostava bastante. Mas um dia, coisa estranha! Como foi que aconteceu? Com tristeza do seu povo nosso rei adoeceu. De uma doença esquisita, toda gente, muito aflita, de repente percebeu... Pessoas grandes e fortes o rei enxergava bem. Mas se fossem pequeninas, e se falassem baixinho, o rei não via ninguém. Por isso, seus funcionários tinham de ser escolhidos entre os grandes e falantes, sempre muito bem nutridos. Que tivessem muita força, e que fossem bem nascidos. E assim, quem fosse pequeno, da voz fraca, mal vestido, não conseguia ser visto. E nunca, nunca era ouvido.
O rei não fazia nada contra tal situação; pois nem mesmo acreditava nessa modificação. E se não via os pequenos e sua voz não escutava, por mais que eles reclamassem o rei nem mesmo notava. E o pior é que a doença num instante se espalhou. Quem vivia junto ao rei logo a doença pegou. E os ministros e os soldados, funcionários e agregados, toda essa gente cegou. De uma cegueira terrível, que até parecia incrível de um vivente acreditar, que os mesmos olhos que viam pessoas grandes e fortes, as pessoas pequeninas não podiam enxergar. E se, no meio do povo, nascia algum grandalhão, era logo convidado para ser o assistente de algum grande figurão. Ou senão, pra ter patente de tenente ou capitão. E logo que ele chegava, no palácio se instalava; e a doença, bem depressa, no tal grandalhão pegava. Todas aquelas pessoas, com quem ele convivia, que ele tão bem enxergava, cuja voz tão bem ouvia, como num encantamento, ele agora não tomava o menor conhecimento... Seria até engraçado se não fosse muito triste; como tanta coisa estranha que por esse mundo existe. E o povo foi desprezado, pouco a pouco, lentamente. Enquanto que próprio rei vivia muito contente; pois o que os olhos não vêem,
nosso coração não sente. E o povo foi percebendo que estava sendo esquecido; que trabalhava bastante, mas que nunca era atendido; que por mais que se esforçasse não era reconhecido. Cada pessoa do povo foi chegando á convicção, que eles mesmos é que tinham que encontrar a solução pra terminar a tragédia. Pois quem monta na garupa não pega nunca na rédea!
Eles então se juntaram, Discutiram, pelejaram, E chegaram à conclusão Que, se a voz de um era fraca, Juntando as vozes de todos Mais parecia um trovão. E se todos, tão pequenos, Fizessem pernas de pau, Então ficariam grandes, E no palácio real Seriam logo avistados, Ouviriam os seus brados, Seria como um sinal. E todos juntos, unidos, fazendo muito alarido seguiram pra capital. Agora, todos bem altos nas suas pernas de pau. Enquanto isso, nosso rei continuava contente. Pois o que os olhos não vêem nosso coração não sente... Mas de repente, que coisa! Que ruído tão possante! Uma voz tão alta assim só pode ser um gigante! - Vamos olhar na muralha. - Ai, São Sinfrônio, me valha neste momento terrível! Que coisa tão grande é esta que parece uma floresta? Mas que multidão incrível! E os barões e os cavaleiros, ministros e camareiros, damas, valetes e o rei
tremiam como geléia, daquela grande assembléia, como eu nunca imaginei! E os grandões, antes tão fortes, que pareciam suportes da própria casa real; agora tinham xiliques e cheios de tremeliques fugiam da capital. O povo estava espantado pois nunca tinha pensado em causar tal confusão, só queriam ser ouvidos, ser vistos e recebidos sem maior complicação. E agora os nobres fugiam, apavorados corriam de medo daquela gente. E o rei corria na frente, dizendo que desistia de seus poderes reais. Se governar era aquilo ele não queria mais! Eu vou parar por aqui a história a que estou contando. O que se seguiu depois cada um vá inventando. Se apareceu novo rei ou se o povo está mandando, na verdade não faz mal. Que todos naquele reino guardam muito bem guardadas as suas pernas de pau. Pois temem que seu governo possa cegar de repente. E eles sabem muito bem que quando os olhos não vêem nosso coração não sente.
Como se Fosse Dinheiro
Como se Fosse Dinheiro
Todos os dias Catapimba levava dinheiro para escola para comprar o lanche. Chegava no bar, comprava um sanduíche e pagava seu Lucas. Mas seu Lucas nunca tinha troco. Um dia, Catapimba reclamou de seu Lucas: - Seu Lucas, eu não quero bala, quero meu troco em dinheiro. - Ora, menino, eu não tenho troco. Que é que eu posso fazer? - Ah, eu não sei! Só sei que quero meu troco em dinheiro! - Ora, bala é como se fossa dinheiro, menino? Ora essa... Catapimba ainda insistiu umas duas ou três vezes. A resposta era sempre a mesma: - Ora, menino, bala é como se fosse dinheiro... Então, leve um chiclete, se não gosta de bala. Aí, Catapimba resolveu dar um jeito. No dia seguinte, apareceu com um embrulhão de baixo do braço. Os colegas queriam saber o que era. Catapimba ria e respondia; - Na hora do recreio, vocês vão ver... E, na hora do recreio, todo mundo viu. Catapimba comprou o seu lanche. Na hora de pagar, abriu o embrulho. E tirou de dentro... uma galinha. Botou a galinha em cima do balcão. - Que é isso, menino? - perguntou seu Lucas. - É pra pagar o sanduíche, seu Lucas. Galinha é como se fosse dinheiro... o senhor pode me dar troco, por favor? Os meninos estavam esperando para ver o que seu Lucas ia fazer. Seu Lucas ficou um tempão parado, pensando... Aí colocou uma moedas no balcão: - Está aí seu troco, menino! E pegou a galinha, para acabar com a confusão. No dia seguinte, todas as crianças apareceram com embrulhos debaixo do braço. No recreio, todo mundo foi comprar lanche. Na hora de pagar...
Teve gente que queria pagar com raquete de pingue-pongue, com papagaio de papel, com vidro de cola, com geléia de jabuticaba... O Armandinho quis pagar um sanduíche de mortadela com o sanduíche de goiabada que ele tinha levado... Teve gente que também levou galinha, pato, peru... E, quando seu Lucas reclamava, a resposta era sempre a mesma; - Ué, seu Lucas, é como se fosse dinheiro... Mas seu Lucas ficou chateado mesmo quando apareceu o Caloca puxando um bode. Aí, seu Lucas correu e chamou a diretora. Dona Júlia veio e contaram pra ela o que estava acontecendo. E sabe o que ela achou? Pois achou que as crianças tinham razão.. - Sabe, seu Lucas - ela falou -, bode não é como se fosse dinheiro. Galinha também não é. Até aí o senhor tem razão. Mas bala também não é como se fosse dinheiro muito menos chiclete. Seu Lucas se desculpava: - É, mas eu não tive troco? - Aí, o senhor anota, e no outro dia paga. Os meninos fizeram uma festa, deram pique-pique pra dona Júlia e tudo. Naquele dia, nem houve mais aula. Mas o melhor de tudo é que todos do bairro ficaram sabendo do caso. E, agora, seu Pedro da farmácia não dá mais compridos de troco, seu Ângelo do mercado não dá mais mercadoria como se fosse dinheiro. Afinal, ninguém quer receber um bode em pagamento, como se fosse dinheiro. É, ou não é?
Faca Sem Ponta Galinha Sem Pé
Faca Sem Ponta Galinha Sem Pé
Esta é a história de dois irmãos.
Com eles aconteceu uma coisa muito esquisita, muito rara e difícil de acreditar.
Pois eram dois irmãos: um menino, o Pedro. E uma menina a Joana.
Eles viviam com os pais, seu Setúbal e dona Brites. E os problemas que eles tinham não eram diferentes dos problemas de todos os irmãos. Por exemplo... Pedro pegava a bola para ir jogar futebol, lá vinha Joana: - Eu também quero jogar! Pedro danava:
- Onde é que já se viu mulher jogar futebol? - Em todo lugar. - Eu é que não vou levar você! O que é que meus amigos vão dizer? - E eu estou ligando pro que os seus amigos vão dizer?
- Pois eu estou. Não levo e pronto! Joana ficava furiosa, batia as portas, chutava o que encontrasse no chão, fazia cara feia.
Dona Brites ficava zangada:
- Que é isso, menina?
Que comportamento!
Menina tem que ser delicada, boazinha...
- Boazinha? Pois sim! - respondia Joana de maus modos.
Ás vezes Pedro chegava da rua todo esfolado, chorando. - Que é isso?
- Espantava-se seu Setúbal. - O que foi que aconteceu?
- Foi o Carlão! foi o besta do Carlão! Me pegou na esquina - choramingava Pedro.
Seu Setúbal ficava furioso:
- E você?
O que foi que você fez?
Por acaso fugiu?
Filho meu não foge!
Volte pra lá já e bata nele também.
E vamos parar com essa choradeira!
Homem não chora!
Pedrinho desapontava:
- Eu estou chorando é de raiva! É de ódio!
Joana se metia :
- Homem é assim mesmo!
Quando a gente chora é porque é mole, é boba, é covarde.
Agora, homem quando chora é de ódio...
Pedro ficava furioso, queria bater na irmã.
Dona Brites entrava no meio:
- Que é isso, menino?
Numa menina não se bate nem com uma flor...
Pedro ia embora, pisando duro:
- Só com um pedaço de pau... E as brigas se repetiam sempre.
Quando Joana subia na árvore para apanhar goiaba, Pedro implicava:
- Mãe, olha a Joana encarapitada na árvore. Parece um moleque!
- Moleque é o seu nariz! - gritava Joana.
- Você toda hora está em cima de árvore, por que é que eu não posso?
- Não pode porque é mulher!
Por isso é que não pode.
E não adianta vir com conversa mole, não!
Mulher é mulher, homem é homem!
Quando Pedro botava camisa nova e se olhava no espelho, Joana já implicava:
- Olha a mulherzinha! Como está vaidoso...
Ou então quando Pedro ficava comovido com alguma coisa, como filme triste, que tem menininha sozinha, sem ninguém para cuidar dela, Joana já começava a caçoar:
- Vai chorar, é? E agora é de ódio, è?
Mas nas outras coisas eles eram bem amigos:
Jogavam cartas, viam televisão juntos, iam ao cinema...
Um dia... Tinha chovido muito e os dois vinham voltando da escola.
De repente, Pedro gritou:
- Olha só o arco-íris!
- É mesmo! - disse Joana.
- que grandão!
Que bonito!
- Puxa! - espantou-se Pedro.
- Parece que está pertinho!
Vamos passar por baixo? Vamos! Joana se riu:
- Tia Edith disse que se a gente passar por baixo do arco-íris, antes do meio-dia, homem vira mulher e mulher vira homem...
- Que besteira! - disse Pedro
. - Quem é que acredita numa coisa dessas? E os dois se deram as mãos e correram, correram, na direção do arco-íris.
E de repente pararam espantados.
Eles estavam se sentindo esquisitíssimos!
- O que aconteceu?
- perguntou Joana.
E a voz dela saiu diferente, parece que mais grossa...
- Sei lá! - disse Pedro.
Mas parou de pressa, porque ele estava falando direitinho como uma menina.
- Aconteceu comigo uma coisa muito estranha... - resmungou Joana.
- Comigo também... - reclamou Pedro.
E os dois se olharam muito espantados... E correram para casa.
Vocês podem imaginar o reboliço que foi na casa deles quando contaram o que tinha acontecido. No começo ninguém estava acreditando.
- Que brincadeira mais idiota! - falou seu Setúbal.
- Vamos parar com isso? - disse dona Brites.
Mas depois tiveram que se convencer...
E naquele dia, no jantar, ninguém brigou para saber se menina podia ou não podia fazer isso ou aquilo.
Afinal ninguém sabia direito quem era quem...
O pai e mãe de Joana e Pedro ficaram conversando até de madrugada
. - Acho melhor nem contarmos pra ninguém - dizia seu Setúbal.
- Mas como é que vai ser? - argumentava dona Brites.
- Todo mundo vai notar! E podem até pensar coisa pior...
- E o nome deles? - perguntou seu Setúbal.
- Como é que fica?
- É mesmo! - choramingou dona Brites.
- A Joaninha, meu Deus, que tinha o nome da minha mãe.
Que Deus a tenha em sua glória, agora vai ter que se chamar Joano!
Joano, Setúbal! Isso é lá nome de gente? E o Pedro, que horror!
Vai ter que se chamar Pêdra. Pode uma coisa dessas?
- E tem um outro problema em que estou pensando - disse seu Setúbal.
- Está bem que a gente vista o Joano de homem... afinal as mulheres hoje em dia só querem se vestir de homem... mas vestir a Pêdra de mulher... não sei, não!
E se ele, quer dizer, ela, virar homem outra vez?
- Ah, sei lá! - disse dona Brites. - Jà nem sei o que pensar. Acho melhor a gente ir dormir...
No dia seguinte o problema da roupa foi resolvido com facilidade. Foi só vestir calça de brim nos dois, mais camiseta e tênis
. Joano e Pêdra estavam brincando e rindo, como se nada estivesse acontecido, disfarçando para que os pais não se preocupassem ainda mais do que já estavam preocupados.
Mas assim que saíram de casa ficaram sérios.
Eles não sabiam como é que iam fazer na escola.
Logo na esquina, Pedro, quer dizer Pêdra, que agora era menina, deu o maior chute numa tampinha de cerveja que estava no chão
. - Vamos parar co isso? - disse Joano.
- Menina não faz essas coisas. - E eu sou menina? - reclamou Pêdra.
- É, não é? - Ah, mas eu não me sinto menina! Tenho vontade de chutar tampinha, de empinar papagaio, de pular sela...
- Ué, eu também tinha vontade de fazer tudo isso e você dizia que menina não podia - reclamou Joano.
- Mas é que todo mundo diz isso - disse Pêdra. - que menina não joga futebol, que mulher é dentro de casa...
- Pois é, agora agüenta!
Não pode, não pode, não pode...
- Ah, mas agora eu posse chorar a vontade, posse dizer fita, posso ter medo de escuro...
Quando tiver que ir buscar água de noite você é que tem que ir... e quando eu quiser ver novela ninguém vai me chatear... E eles ficaram ali, uma porção de tempo, discutindo a situação. De repente Pêdra lembrou-se de que precisava ir para o colégio. - Sabe de uma coisa? - disse Joano. - Eu é que não vou para escola desse jeito ridículo. - Não sei por que ridículo. Ridículo estou eu, aqui, virado em mulher. - E você quer ir para escola? - perguntou Joano. - Eu não - respondeu Pêdra. E sentou num murinho, muito desanimada. Joano sentou também. - Sabe de uma coisa? - disse Pêdra. - Nós temos é que encontrar o arco-íris pra passar por baixo outra vez. - Mas não está nem chovendo - choramingou Joano, que agora era menino mas bem que estava com vontade de chorar... - É, mas se a gente não procurar não vai encontrar. E se não encontrar vai ficar desse jeito o resto da vida! Então Joano tomou uma decisão: - Olha aqui. Eu vou mas não vou levar você, não! Vou é sozinho! Menina só serve pra atrapalhar. Pêdra ficou danada da vida: - Ah, é? Então vire-se! Eu também vou procurar sozinha e não quero conversa com você. Vamos ver quem encontra primeiro. E cada um foi para o seu lado, sem nem olhar para trás. Os dois rodaram o dia inteirinho, mas não tinha caído nem uma chovinha, de maneira que não havia jeito de encontrar o arco-íris. E no outro dia foi a mesmo coisa, e no outro, e no outro. E em casa as coisas estavam piorando cada vez mais. Um implicava com o outro, caçoava, proibia: - Menino não pode! - Menina não faz! - Onde é que já se viu? - Coisa mais feia!
- Vou contar pra mamãe!
Se o arco-íris não aparecesse logo... Até que um dia eles acordaram e estava chovendo a maior chuva que já tinha visto. Trovão, relâmpagos, água que não acabava mais. Os dois ficaram torcendo para a chuva passar. E quando passou, saíram, como sempre um para cada lado, procurando o arco-íris
. Joano chegou para lá da escola, num lugar onde ele nunca tinha ido.
E já vinha voltando, desanimado, quando viu, bem na sua frente, o arco-íris. Joano correu e passou por baixo. Mas não aconteceu nada. Joano continuava Joano...
Com Pêdra aconteceu mais ou menos a mesma coisa. Andou, andou, até fora da cidade. E só quando vinha voltando é que encontrou o arco-íris, passou por baixo e nada!
Na porta de casa os dois se encontraram:
- Nada, hein? - perguntou Pêdra. - Nadinha! - respondeu Joano. - Que será que aconteceu? - disse um. - Que será que não aconteceu? - disse o outro. E os dois se sentaram - tão amigos! - e contaram, um ao outro, como é que eles tinham passado por baixo e nada tinha acontecido...
De repente Pêdra se levantou animada: - Espere um pouco! A tia Edith disse que tinha que passar embaixo do arco-íris antes do meio-dia, não foi? Então, pra desvirar tem que ser Depois do meio-dia, é ou não é? - É mesmo! - disse Joano. - E tem mais uma coisa.
Pra mudar de sexo nós passamos de lá pra cá, não foi?
A gente vinha voltando da escola, não vinha?
Pois agora a gente tem que passar daqui pra lá, pra desvirar. Pêdra ficou olhando para Joano:
- Sabe que você é bem esperta para uma menina? Joano respondeu: - Você também é bem esperta... pra uma menina.
Os dois se riram como há muito tempo não faziam.
E juntos saíram á procura do arco-íris.
E de repente lá estava ele. Grande, brilhante, colorido, como um desafio. Joano e Pêdra deram-se as mãos.
E correram, juntos, em direção do arco-íris.
E finalmente perceberam que alguma coisa, novamente, tinha acontecido.
Então riram, se abraçaram e abraçados começaram a voltar para casa. Então Joana viu uma tampinha de cerveja na calçada.
Correu e chutou a tampinha para Pedro. Pedro devolveu e os dois foram jogando tampinha até em casa...
Esta é a história de dois irmãos.
Com eles aconteceu uma coisa muito esquisita, muito rara e difícil de acreditar.
Pois eram dois irmãos: um menino, o Pedro. E uma menina a Joana.
Eles viviam com os pais, seu Setúbal e dona Brites. E os problemas que eles tinham não eram diferentes dos problemas de todos os irmãos. Por exemplo... Pedro pegava a bola para ir jogar futebol, lá vinha Joana: - Eu também quero jogar! Pedro danava:
- Onde é que já se viu mulher jogar futebol? - Em todo lugar. - Eu é que não vou levar você! O que é que meus amigos vão dizer? - E eu estou ligando pro que os seus amigos vão dizer?
- Pois eu estou. Não levo e pronto! Joana ficava furiosa, batia as portas, chutava o que encontrasse no chão, fazia cara feia.
Dona Brites ficava zangada:
- Que é isso, menina?
Que comportamento!
Menina tem que ser delicada, boazinha...
- Boazinha? Pois sim! - respondia Joana de maus modos.
Ás vezes Pedro chegava da rua todo esfolado, chorando. - Que é isso?
- Espantava-se seu Setúbal. - O que foi que aconteceu?
- Foi o Carlão! foi o besta do Carlão! Me pegou na esquina - choramingava Pedro.
Seu Setúbal ficava furioso:
- E você?
O que foi que você fez?
Por acaso fugiu?
Filho meu não foge!
Volte pra lá já e bata nele também.
E vamos parar com essa choradeira!
Homem não chora!
Pedrinho desapontava:
- Eu estou chorando é de raiva! É de ódio!
Joana se metia :
- Homem é assim mesmo!
Quando a gente chora é porque é mole, é boba, é covarde.
Agora, homem quando chora é de ódio...
Pedro ficava furioso, queria bater na irmã.
Dona Brites entrava no meio:
- Que é isso, menino?
Numa menina não se bate nem com uma flor...
Pedro ia embora, pisando duro:
- Só com um pedaço de pau... E as brigas se repetiam sempre.
Quando Joana subia na árvore para apanhar goiaba, Pedro implicava:
- Mãe, olha a Joana encarapitada na árvore. Parece um moleque!
- Moleque é o seu nariz! - gritava Joana.
- Você toda hora está em cima de árvore, por que é que eu não posso?
- Não pode porque é mulher!
Por isso é que não pode.
E não adianta vir com conversa mole, não!
Mulher é mulher, homem é homem!
Quando Pedro botava camisa nova e se olhava no espelho, Joana já implicava:
- Olha a mulherzinha! Como está vaidoso...
Ou então quando Pedro ficava comovido com alguma coisa, como filme triste, que tem menininha sozinha, sem ninguém para cuidar dela, Joana já começava a caçoar:
- Vai chorar, é? E agora é de ódio, è?
Mas nas outras coisas eles eram bem amigos:
Jogavam cartas, viam televisão juntos, iam ao cinema...
Um dia... Tinha chovido muito e os dois vinham voltando da escola.
De repente, Pedro gritou:
- Olha só o arco-íris!
- É mesmo! - disse Joana.
- que grandão!
Que bonito!
- Puxa! - espantou-se Pedro.
- Parece que está pertinho!
Vamos passar por baixo? Vamos! Joana se riu:
- Tia Edith disse que se a gente passar por baixo do arco-íris, antes do meio-dia, homem vira mulher e mulher vira homem...
- Que besteira! - disse Pedro
. - Quem é que acredita numa coisa dessas? E os dois se deram as mãos e correram, correram, na direção do arco-íris.
E de repente pararam espantados.
Eles estavam se sentindo esquisitíssimos!
- O que aconteceu?
- perguntou Joana.
E a voz dela saiu diferente, parece que mais grossa...
- Sei lá! - disse Pedro.
Mas parou de pressa, porque ele estava falando direitinho como uma menina.
- Aconteceu comigo uma coisa muito estranha... - resmungou Joana.
- Comigo também... - reclamou Pedro.
E os dois se olharam muito espantados... E correram para casa.
Vocês podem imaginar o reboliço que foi na casa deles quando contaram o que tinha acontecido. No começo ninguém estava acreditando.
- Que brincadeira mais idiota! - falou seu Setúbal.
- Vamos parar com isso? - disse dona Brites.
Mas depois tiveram que se convencer...
E naquele dia, no jantar, ninguém brigou para saber se menina podia ou não podia fazer isso ou aquilo.
Afinal ninguém sabia direito quem era quem...
O pai e mãe de Joana e Pedro ficaram conversando até de madrugada
. - Acho melhor nem contarmos pra ninguém - dizia seu Setúbal.
- Mas como é que vai ser? - argumentava dona Brites.
- Todo mundo vai notar! E podem até pensar coisa pior...
- E o nome deles? - perguntou seu Setúbal.
- Como é que fica?
- É mesmo! - choramingou dona Brites.
- A Joaninha, meu Deus, que tinha o nome da minha mãe.
Que Deus a tenha em sua glória, agora vai ter que se chamar Joano!
Joano, Setúbal! Isso é lá nome de gente? E o Pedro, que horror!
Vai ter que se chamar Pêdra. Pode uma coisa dessas?
- E tem um outro problema em que estou pensando - disse seu Setúbal.
- Está bem que a gente vista o Joano de homem... afinal as mulheres hoje em dia só querem se vestir de homem... mas vestir a Pêdra de mulher... não sei, não!
E se ele, quer dizer, ela, virar homem outra vez?
- Ah, sei lá! - disse dona Brites. - Jà nem sei o que pensar. Acho melhor a gente ir dormir...
No dia seguinte o problema da roupa foi resolvido com facilidade. Foi só vestir calça de brim nos dois, mais camiseta e tênis
. Joano e Pêdra estavam brincando e rindo, como se nada estivesse acontecido, disfarçando para que os pais não se preocupassem ainda mais do que já estavam preocupados.
Mas assim que saíram de casa ficaram sérios.
Eles não sabiam como é que iam fazer na escola.
Logo na esquina, Pedro, quer dizer Pêdra, que agora era menina, deu o maior chute numa tampinha de cerveja que estava no chão
. - Vamos parar co isso? - disse Joano.
- Menina não faz essas coisas. - E eu sou menina? - reclamou Pêdra.
- É, não é? - Ah, mas eu não me sinto menina! Tenho vontade de chutar tampinha, de empinar papagaio, de pular sela...
- Ué, eu também tinha vontade de fazer tudo isso e você dizia que menina não podia - reclamou Joano.
- Mas é que todo mundo diz isso - disse Pêdra. - que menina não joga futebol, que mulher é dentro de casa...
- Pois é, agora agüenta!
Não pode, não pode, não pode...
- Ah, mas agora eu posse chorar a vontade, posse dizer fita, posso ter medo de escuro...
Quando tiver que ir buscar água de noite você é que tem que ir... e quando eu quiser ver novela ninguém vai me chatear... E eles ficaram ali, uma porção de tempo, discutindo a situação. De repente Pêdra lembrou-se de que precisava ir para o colégio. - Sabe de uma coisa? - disse Joano. - Eu é que não vou para escola desse jeito ridículo. - Não sei por que ridículo. Ridículo estou eu, aqui, virado em mulher. - E você quer ir para escola? - perguntou Joano. - Eu não - respondeu Pêdra. E sentou num murinho, muito desanimada. Joano sentou também. - Sabe de uma coisa? - disse Pêdra. - Nós temos é que encontrar o arco-íris pra passar por baixo outra vez. - Mas não está nem chovendo - choramingou Joano, que agora era menino mas bem que estava com vontade de chorar... - É, mas se a gente não procurar não vai encontrar. E se não encontrar vai ficar desse jeito o resto da vida! Então Joano tomou uma decisão: - Olha aqui. Eu vou mas não vou levar você, não! Vou é sozinho! Menina só serve pra atrapalhar. Pêdra ficou danada da vida: - Ah, é? Então vire-se! Eu também vou procurar sozinha e não quero conversa com você. Vamos ver quem encontra primeiro. E cada um foi para o seu lado, sem nem olhar para trás. Os dois rodaram o dia inteirinho, mas não tinha caído nem uma chovinha, de maneira que não havia jeito de encontrar o arco-íris. E no outro dia foi a mesmo coisa, e no outro, e no outro. E em casa as coisas estavam piorando cada vez mais. Um implicava com o outro, caçoava, proibia: - Menino não pode! - Menina não faz! - Onde é que já se viu? - Coisa mais feia!
- Vou contar pra mamãe!
Se o arco-íris não aparecesse logo... Até que um dia eles acordaram e estava chovendo a maior chuva que já tinha visto. Trovão, relâmpagos, água que não acabava mais. Os dois ficaram torcendo para a chuva passar. E quando passou, saíram, como sempre um para cada lado, procurando o arco-íris
. Joano chegou para lá da escola, num lugar onde ele nunca tinha ido.
E já vinha voltando, desanimado, quando viu, bem na sua frente, o arco-íris. Joano correu e passou por baixo. Mas não aconteceu nada. Joano continuava Joano...
Com Pêdra aconteceu mais ou menos a mesma coisa. Andou, andou, até fora da cidade. E só quando vinha voltando é que encontrou o arco-íris, passou por baixo e nada!
Na porta de casa os dois se encontraram:
- Nada, hein? - perguntou Pêdra. - Nadinha! - respondeu Joano. - Que será que aconteceu? - disse um. - Que será que não aconteceu? - disse o outro. E os dois se sentaram - tão amigos! - e contaram, um ao outro, como é que eles tinham passado por baixo e nada tinha acontecido...
De repente Pêdra se levantou animada: - Espere um pouco! A tia Edith disse que tinha que passar embaixo do arco-íris antes do meio-dia, não foi? Então, pra desvirar tem que ser Depois do meio-dia, é ou não é? - É mesmo! - disse Joano. - E tem mais uma coisa.
Pra mudar de sexo nós passamos de lá pra cá, não foi?
A gente vinha voltando da escola, não vinha?
Pois agora a gente tem que passar daqui pra lá, pra desvirar. Pêdra ficou olhando para Joano:
- Sabe que você é bem esperta para uma menina? Joano respondeu: - Você também é bem esperta... pra uma menina.
Os dois se riram como há muito tempo não faziam.
E juntos saíram á procura do arco-íris.
E de repente lá estava ele. Grande, brilhante, colorido, como um desafio. Joano e Pêdra deram-se as mãos.
E correram, juntos, em direção do arco-íris.
E finalmente perceberam que alguma coisa, novamente, tinha acontecido.
Então riram, se abraçaram e abraçados começaram a voltar para casa. Então Joana viu uma tampinha de cerveja na calçada.
Correu e chutou a tampinha para Pedro. Pedro devolveu e os dois foram jogando tampinha até em casa...
Faca sem ponta, galinha sem pé Ruth Rocha
Faca sem ponta, galinha sem pé
Ruth Rocha
Esta é a história de dois irmãos. Com eles aconteceu uma coisa muito esquisita, muito rara e difícil de acreditar.
Pois eram dois irmãos: um menino, o Pedro. E uma menina, a Joana. Eles viviam com os pais, seu Setúbal e dona Brites. E os problemas que eles tinham não eram diferentes dos problemas de todos os irmãos. Por exemplo...
Pedro pegava a bola para ir jogar futebol, lá vinha Joana:
– Eu também quero jogar!
Pedro danava:
– Onde é que já se viu mulher jogar futebol?
– Em todo lugar.
– Eu é que não vou levar você!
– O que é que meus amigos vão dizer?
– E eu estou ligando pro que os seus amigos vão dizer?
– Pois eu estou. Não levo e pronto!
Joana ficava furiosa, batia as portas, chutava o que encontrasse no chão, fazia cara feia.
Dona Brites ficava zangada:
– Que é isso, menina? Que comportamento! Menina tem que ser delicada, boazinha...
– Boazinha? Pois sim! – respondia Joana de maus modos.
Às vezes Pedro chegava da rua todo esfolado, chorando.
– Que isso? – espantava-se seu Setúbal. – O que foi que aconteceu?
– Foi o Carlão! Foi o besta do Carlão! Me pegou na esquina – choramingava Pedro.
Seu Setúbal ficava furioso:
– E você? O que foi que você fez? Por acaso fugiu? Filho meu não foge! Volte pra lá e bata nele também. E vamos parar com essa choradeira! Homem não chora!
Pedrinho desapontava:
– Eu estou chorando é de raiva! É de ódio!
Joana se metia:
– Homem é assim mesmo! Quando a gente chora é porque é mole, é boba, é covarde. Agora, homem quando chora é de ódio...
Pedro ficava furioso, queria bater na irmã.
Dona Brites, entrava no meio:
– Que é isso, menino? Numa menina não se bate nem com uma flor...
Pedro ia embora, pisando duro:
– Só com um pedaço de pau...
E as brigas se repetiam sempre. Quando Joana subia na árvore para apanhar goiaba, Pedro implicava:
– Mãe, olha a Joana encarapitada na árvore. Parece um moleque!
– Moleque é o seu nariz! – gritava Joana. – Você toda hora está em cima da árvore, por que é que eu não posso?
– Não pode porque é mulher! Por isso é que não pode. E não adianta vir com conversa mole, não! Mulher é mulher, homem é homem [...]
Mas nas outras coisas eles eram bem amigos: jogavam cartas, viam televisão juntos, iam ao cinema...
Um dia... Tinha chovido muito e os dois vinham voltando da escola.
De repente, Pedro gritou:
– Olha só o arco-íris [...]
– Vamos passar por baixo? Vamos!
E os dois se deram as mãos e correram, correram, na direção do arco-íris. E de repente pararam espantados.
Eles estavam se sentindo esquisitíssimos!
– O que aconteceu? – perguntou Joana.
E a voz dela saiu diferente, parece que mais grossa...
– Sei lá! – disse Pedro.
Mas parou depressa, porque ele estava falando direitinho como uma menina [...]
E os dois se olharam muito espantados...
(Em: Faca sem ponta, galinha sem pé. São Paulo, Ática.)
Pessoas são Diferentes
Pessoas são Diferentes
São duas crianças lindas Mas são muito diferentes!
Uma é toda desdentada, A outra é cheia de dentes...
Uma anda descabelada, A outra é cheia de pentes!
Uma delas usa óculos, E a outra só usa lentes.
Uma gosta de gelados,
A outra gosta de quentes.
Uma tem cabelos longos,
A outra corta eles rentes.
Não queira que sejam iguais,
Aliás, nem mesmo tentes!
São duas crianças lindas,
Mas são muito diferentes!
Ruth Rocha
Biografia de Ruth Rocha
Biografia de Ruth Rocha
Ruth Rocha nasceu em 1931 na cidade de São Paulo. Filha dos cariocas Álvaro de Faria Machado, médico, e Esther de Sampaio Machado, tem quatro irmãos, Rilda, Álvaro, Eliana e Alexandre. Teve uma infância alegre e repleta de livros e gibis..
Começou a escrever em 1967, para a revista Claudia, artigos sobre educação. Participou da criação da revista Recreio, da Editora Abril, onde teve suas primeiras histórias publicadas a partir de 1969. “Romeu e Julieta”, “Meu Amigo Ventinho”, “Catapimba e Sua Turma”, “O Dono da Bola”, “Teresinha e Gabriela” estão entre seus primeiros textos de ficção.
Publicou seu primeiro livro, “Palavras Muitas Palavras”, em 1976, e desde então já teve mais de 130 títulos publicados, entre livros de ficção, didáticos, paradidáticos e um dicionário. As histórias de Ruth Rocha estão espalhadas pelo mundo, traduzidas em mais de 25 idiomas. Monteiro Lobato foi sua grande influência..Seu livro mais conhecido é “Marcelo, Marmelo, Martelo”, que já vendeu mais de 1 milhão de cópias.
1.Compreendendo o texto:
a) Qual o nome da escritora ?
b) Em que ano ela nasceu?
c) Quando começou a escrever?
2. Qual o livro mais conhecido de Ruth Rocha?
3. Quais foram às primeiras histórias publicadas pela autora?
4. Responda:
a) Ruth Rocha nasceu no ano de
b) Esse numeral tem ______ algarismos.
c) O algarismo das unidades é ________
d) O algarismo das dezenas é________
e) O algarismo das centenas é________
f) O algarismo das unidades de milhar é________
5. Retire do texto:
a) Dois números pares________________________________________________________
b) Dois números ímpares ______________________________________________________
6) Qual a idade de Ruth Rocha ?
7) Assinale a alternativa correta:
a) O número correspondente a oito mil, seiscentos e setenta é:
( ) 8 670 ( ) 8 760 ( ) 7 860
b) A leitura correspondente ao número 6 104 é:
( ) sessenta e um mil e quatro.
( ) seis mil, cento e quatro
( ) setecentos e oitenta e seis
8) Uma livraria vendeu vários livros de Ruth Rocha. Observe a quantidade de livros vendidos e responda:
Marcelo, Martelo, Marmelo 422 livros
Palavras, muitas palavras 139 livros
A árvore do Beto 68 livros
Quem tem medo do monstro? 397 livros
a) Qual é o livro mais vendido ?
b) Qual é o livro menos vendido?
c) Qual foi o total de livros vendidos?
d) Como se escreve por extenso o número total de livros vendidos?
9. Resolva:
a) Uma biblioteca tinha 6 104 livros. Foram doados 3 320 para uma escola. Quantos livros sobraram na biblioteca?
b) Uma editora publicou 1 376 livros de Monteiro lobato e 1297 de Ruth Rocha. Quantos livros foram publicados no total?
c) A Casa de Cultura Lenir Jales Bellieny tinha em seu acervo, 1548 livros de Ruth Rocha e Monteiro Lobato. Durante a enchente foram perdidos 583 livros. Quantos livros sobraram?
POESIAS (RUTH ROCHA,
Ai que saudades que eu tenhoDa aurora da minha vidaDa minha infância queridaQue os anos não trazem mais. . .Me sentia rejeitada,Tão feia, desajeitada,Tão frágil, tola, impotente,Apesar dos laranjais.Ai que saudades que eu tenhoDa aurora da minha vida,Não gostava da comidaMas tinha que comer mais. . . Espinafre, beterraba,E era fígado e era fava,E tudo que eu não gostavaEm porções industriais.Como são tristes os diasDa criança escravizada,Todos mandam na coitada,Ela não manda em ninguém. . .O pai manda, a mãe desmanda,O irmão mais velho comanda,Todos entram na ciranda,E ela sempre diz amém. . .Naqueles tempos ditososNão podia abrir a boca,E a professora era louca,Só queria era gritar.Senta direito, menina!Ou se não, tem sabatina!Que letra mais horrorosa!E pare de conversar!Oh dias da minha infância,Quando eu ficava doente,Ou sentia dor de dente,E lá vinha tratamento!Era um tal de vitamina. . .Mingau, remédio, vacina,Inalação e aspirina,Injeção e linimento!E sem falar na tortura:Blusa de gola engomada,Roupa de cava apertada,Sapatinho de verniz. . .E as ordens? Anda direto!Diz bom dia pras visitas!Que menina mais sem jeito!Tira o dedo do nariz!Que aurora! Que sol! Que nada!Vai já guardar os brinquedos!Menina, não chupe os dedos!Não pode brincar na lama!Vai já botar o agasalho!Vai já fazer a lição!Criança não tem razão!É tarde, vai já pra cama!Vê se penteia o cabelo!Menina se mostradeira!Menina novidadeira!Está se rindo demais!- Que amor, que sonhos, que flores,Naquelas tardes fagueirasÀ sombra das bananeirasDebaixo dos laranjaisRuth RochaExtraído de: LEITE, Márcia & BASE, Cristina. O Mito da Infância Feliz. p. 33-4 A autora Ruth Rocha nasceu em São Paulo, em 1931. desde a década de 50 trabalha ligada às crianças, seja como orientadora educacional seja como orientadora pedagógica ou redatora de revistas infantis, tradutora, adaptadora e escritora de literatura infanto-juvenil. É uma das atuantes e premiadas escritoras da atualidade.Entre suas varias obras citamos: A Primavera da Lagarta; Nicolau Tinha uma Idéia; Catapimba e sua Turma, Faz Muito Tempo; O Reizinho Mandão; Sapo Vira Rei Vira Sapo e O Rei que não Sabia de Nada.II - VOCÊ CONVERSA SOBRE O TEXTO1) Você gostou da poesia? Por quê?R: _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________2) Você concorda com o texto “todos mandam na coitada, ela não, manda em ninguém”?R: __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________3) Quais são as partes da poesia com as quais você se identificou?R: __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________III - VOCÊ USA AS PALAVRAS4) Escolha no quadro o melhor sinônimo para a palavra destacada em cada frase e escreva-a na linha abaixo.a) Ai que saudades que eu tenhoda aurora da minha vida. __________________ b) E era fígado e era fava. __________________ c) E sem falar na tortura. _________________ d) Naqueles tempos ditosos. _______________ e) Senta direito, menina!Ou se não, tem sabatina! __________________ 5) Verifique em seu dicionário as definições dadas às palavras a seguir, e assinale com c ou e conforme estejam certa ou erradas. Escreva o significado correto das palavras erradas.a) Rejeitada é o mesmo que desprezada. ( )_______________________________________________________b) Linimento é um remédio liquido que se dissolve na água para ser bebido. ( ) ___________________________c) Inalação é um processo em que se mistura um medicamento na água e se inspira para que entre pelas vias espiratórias. ( ) ____________________________________________________________________________d) Engomada é quem tem goma, uma doença que dá na língua das aves. ( ) ____________________________e) Cava da roupa é um lugar onde se fez um buraco porque a roupa rasgou. ( ) _________________________IV - VOCÊ ESCREVE SOBRE O TEXTO6) Quem conta sobre a infância, um menino ou uma menina? Como você sabe disso? Justifique com uma frase do próprio texto. __________________________________________________) Qual era o tratamento recebido pela criança quando ficava doente ou com dor de dente? __________________________________________________________________________________________________________9) Que lembrança à personagem tem de sua escola? _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________10) Leia novamente o texto. Pense e escreva quais as coisas que as pessoas já disseram para você fazer._______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Bom Dia, Todas as Cores!
Bom Dia, Todas as Cores!
Meu amigo Camaleão acordou de bom humor.
- Bom dia, sol, bom dia, flores,
bom dia, todas as cores!
Lavou o rosto numa folha
Cheia de orvalho, mudou sua cor
Para a cor-de-rosa, que ele achava
A mais bonita de todas, e saiu para
O sol, contente da vida.
Meu amigo Camaleão estava feliz
Porque tinha chegado a primavera.
E o sol, finalmente, depois de
Um inverno longo e frio, brilhava,
Alegre, no céu.
- Eu hoje estou de bem com a vida
- Ele disse. - quero ser bonzinho
Pra todo mundo...
Logo que saiu de casa,
O Camaleão encontrou
O professor pernilongo.
O professor pernilongo toca
Violino na orquestra
Do Teatro Florestal.
- Bom dia, professor!
Como vai o senhor?
- Bom dia, Camaleão!
Mas o que é isso, meu irmão?
Por que é que mudou de cor?
Essa cor não lhe cai bem...
Olhe para o azul do céu.
Por que não fica azul também?
O Camaleão,
Amável como ele era,
Resolveu ficar azul
Como o céu da primavera...
Até que numa clareira
O Camaleão encontrou
O sabiá-laranjeira:
- Meu amigo Camaleão,
Muito bom dia e você!
Mas que cor é essa agora?
O amigo está azul por quê?
E o sabiá explicou
Que a cor mais linda do mundo
Era a cor alaranjada,
Cor de laranja, dourada.
Nosso amigo, bem depressa,
Resolveu mudar de cor.
Ficou logo alaranjado,
Louro, laranja, dourado.
E cantando, alegremente,
Lá se foi, ainda contente...
Na pracinha da floresta,
Saindo da capelinha,
Vinha o senhor louva-a-deus,
Mais a família inteirinha.
Ele é um senhor muito sério,
Que não gosta de gracinha.
- bom dia, Camaleão!
Que cor mais escandalosa!
Parece até fantasia
Pra baile de carnaval...
Você devia arranjar
Uma cor mais natural...
Veja o verde da folhagem...
Veja o verde da campina...
Você devia fazer
O que a natureza ensina.
É claro que o nosso amigo
Resolveu mudar de cor.
Ficou logo bem verdinho.
E foi pelo seu caminho...
Vocês agora já sabem como era o Camaleão.
Bastava que alguém falasse, mudava de opinião.
Ficava roxo, amarelo, ficava cor-de-pavão.
Ficava de toda cor. Não sabia dizer NÃO.
Por isso, naquele dia, cada vez que
Se encontrava com algum de seus amigos,
E que o amigo estranhava a cor com que ele estava...
Adivinha o que fazia o nosso Camaleão.
Pois ele logo mudava, mudava para outro tom...
Mudou de rosa para azul.
De azul para alaranjado.
De laranja para verde.
De verde para encarnado.
Mudou de preto para branco.
De branco virou roxinho.
De roxo para amarelo.
E até para cor de vinho...
Quando o sol começou a se pôr no horizonte,
Camaleão resolveu voltar para casa.
Estava cansado do longo passeio
E mais cansado ainda de tanto
mudar de cor.
Entrou na sua casinha.
Deitou para descansar.
E lá ficou a pensar:
- Por mais que a gente se esforce,
Não pode agradar a todos.
Alguns gostam de farofa.
Outros preferem farelo...
Uns querem comer maçã.
Outros preferem marmelo...
Tem quem goste de sapato.
Tem quem goste de chinelo...
E se não fossem os gostos,
Que seria do amarelo?
Por isso, no outro dia, Camaleão levantou-se
Bem cedinho.
- Bom dia, sol, bom dia, flores,
Bom dia, todas as cores!
Lavou o rosto numa folha
Cheia de orvalho,
Mudou sua cor para
A cor-de-rosa, que ele
Achava a mais bonita
De todas, e saiu para
O sol, contente
Da vida.
Logo que saiu, Camaleão encontrou o sapo cururu,
Que é cantor de sucesso na Rádio Jovem Floresta.
- Bom dia, meu caro sapo! Que dia mais lindo, não?
- Muito bom dia, amigo Camaleão!
Mais que cor mais engraçada,
Antiga, tão desbotada...
Por que é que você não usa
Uma cor mais avançada?
O Camaleão sorriu e disse para o seu amigo:
- Eu uso as cores que eu gosto,
E com isso faço bem.
Eu gosto dos bons conselhos,
Mas faço o que me convém.
Quem não agrada a si mesmo,
Não pode agradar ninguém...
E assim aconteceu
O que acabei de contar.
Se gostaram, muito bem!
Se não gostaram, AZAR!
Meu amigo Camaleão acordou de bom humor.
- Bom dia, sol, bom dia, flores,
bom dia, todas as cores!
Lavou o rosto numa folha
Cheia de orvalho, mudou sua cor
Para a cor-de-rosa, que ele achava
A mais bonita de todas, e saiu para
O sol, contente da vida.
Meu amigo Camaleão estava feliz
Porque tinha chegado a primavera.
E o sol, finalmente, depois de
Um inverno longo e frio, brilhava,
Alegre, no céu.
- Eu hoje estou de bem com a vida
- Ele disse. - quero ser bonzinho
Pra todo mundo...
Logo que saiu de casa,
O Camaleão encontrou
O professor pernilongo.
O professor pernilongo toca
Violino na orquestra
Do Teatro Florestal.
- Bom dia, professor!
Como vai o senhor?
- Bom dia, Camaleão!
Mas o que é isso, meu irmão?
Por que é que mudou de cor?
Essa cor não lhe cai bem...
Olhe para o azul do céu.
Por que não fica azul também?
O Camaleão,
Amável como ele era,
Resolveu ficar azul
Como o céu da primavera...
Até que numa clareira
O Camaleão encontrou
O sabiá-laranjeira:
- Meu amigo Camaleão,
Muito bom dia e você!
Mas que cor é essa agora?
O amigo está azul por quê?
E o sabiá explicou
Que a cor mais linda do mundo
Era a cor alaranjada,
Cor de laranja, dourada.
Nosso amigo, bem depressa,
Resolveu mudar de cor.
Ficou logo alaranjado,
Louro, laranja, dourado.
E cantando, alegremente,
Lá se foi, ainda contente...
Na pracinha da floresta,
Saindo da capelinha,
Vinha o senhor louva-a-deus,
Mais a família inteirinha.
Ele é um senhor muito sério,
Que não gosta de gracinha.
- bom dia, Camaleão!
Que cor mais escandalosa!
Parece até fantasia
Pra baile de carnaval...
Você devia arranjar
Uma cor mais natural...
Veja o verde da folhagem...
Veja o verde da campina...
Você devia fazer
O que a natureza ensina.
É claro que o nosso amigo
Resolveu mudar de cor.
Ficou logo bem verdinho.
E foi pelo seu caminho...
Vocês agora já sabem como era o Camaleão.
Bastava que alguém falasse, mudava de opinião.
Ficava roxo, amarelo, ficava cor-de-pavão.
Ficava de toda cor. Não sabia dizer NÃO.
Por isso, naquele dia, cada vez que
Se encontrava com algum de seus amigos,
E que o amigo estranhava a cor com que ele estava...
Adivinha o que fazia o nosso Camaleão.
Pois ele logo mudava, mudava para outro tom...
Mudou de rosa para azul.
De azul para alaranjado.
De laranja para verde.
De verde para encarnado.
Mudou de preto para branco.
De branco virou roxinho.
De roxo para amarelo.
E até para cor de vinho...
Quando o sol começou a se pôr no horizonte,
Camaleão resolveu voltar para casa.
Estava cansado do longo passeio
E mais cansado ainda de tanto
mudar de cor.
Entrou na sua casinha.
Deitou para descansar.
E lá ficou a pensar:
- Por mais que a gente se esforce,
Não pode agradar a todos.
Alguns gostam de farofa.
Outros preferem farelo...
Uns querem comer maçã.
Outros preferem marmelo...
Tem quem goste de sapato.
Tem quem goste de chinelo...
E se não fossem os gostos,
Que seria do amarelo?
Por isso, no outro dia, Camaleão levantou-se
Bem cedinho.
- Bom dia, sol, bom dia, flores,
Bom dia, todas as cores!
Lavou o rosto numa folha
Cheia de orvalho,
Mudou sua cor para
A cor-de-rosa, que ele
Achava a mais bonita
De todas, e saiu para
O sol, contente
Da vida.
Logo que saiu, Camaleão encontrou o sapo cururu,
Que é cantor de sucesso na Rádio Jovem Floresta.
- Bom dia, meu caro sapo! Que dia mais lindo, não?
- Muito bom dia, amigo Camaleão!
Mais que cor mais engraçada,
Antiga, tão desbotada...
Por que é que você não usa
Uma cor mais avançada?
O Camaleão sorriu e disse para o seu amigo:
- Eu uso as cores que eu gosto,
E com isso faço bem.
Eu gosto dos bons conselhos,
Mas faço o que me convém.
Quem não agrada a si mesmo,
Não pode agradar ninguém...
E assim aconteceu
O que acabei de contar.
Se gostaram, muito bem!
Se não gostaram, AZAR!
Como se Fosse Dinheiro
Como se Fosse Dinheiro
Todos os dias Catapimba levava dinheiro para escola para comprar o lanche.
Chegava no bar, comprava um sanduíche e pagava seu Lucas.
Mas seu Lucas nunca tinha troco.
Um dia, Catapimba reclamou de seu Lucas:
- Seu Lucas, eu não quero bala, quero meu trocoem dinheiro.
- Ora , menino, eu não tenho troco. Que é que eu posso fazer?
- Ah, eu não sei! Só sei que quero meu troco em dinheiro!
- Ora, bala é como se fossa dinheiro, menino? Ora essa...
Catapimba ainda insistiu umas duas ou três vezes.
A resposta era sempre a mesma:
- Ora, menino, bala é como se fosse dinheiro... Então, leve um chiclete, se não gosta de bala.
Aí, Catapimba resolveu dar um jeito.
No dia seguinte, apareceu com um embrulhão de baixo do braço. Os colegas queriam saber o que era. Catapimba ria e respondia;
- Na hora do recreio, vocês vão ver...
E, na hora do recreio, todo mundo viu.
Catapimba comprou o seu lanche. Na hora de pagar, abriu o embrulho. E tirou de dentro... uma galinha.
Botou a galinha em cima do balcão.
- Que é isso, menino? - perguntou seu Lucas.
- É pra pagar o sanduíche, seu Lucas. Galinha é como se fosse dinheiro... o senhor pode me dar troco, por favor?
Os meninos estavam esperando para ver o que seu Lucas ia fazer.
Seu Lucas ficou um tempão parado, pensando...
Aí colocou uma moedas no balcão:
- Está aí seu troco, menino!
E pegou a galinha, para acabar com a confusão.
No dia seguinte, todas as crianças apareceram com embrulhos debaixo do braço.
No recreio, todo mundo foi comprar lanche.
Na hora de pagar...
Teve gente que queria pagar com raquete de pingue-pongue, com papagaio de papel, com vidro de cola, com geléia de jabuticaba...
O Armandinho quis pagar um sanduíche de mortadela com o sanduíche de goiabada que ele tinha levado...
Teve gente que também levou galinha, pato, peru... E, quando seu Lucas reclamava, a resposta era sempre a mesma; - Ué, seu Lucas, é como se fosse dinheiro...
Mas seu Lucas ficou chateado mesmo quando apareceu o Caloca puxando um bode.
Aí, seu Lucas correu e chamou a diretora.
Dona Júlia veio e contaram pra ela o que estava acontecendo. E sabe o que ela achou?
Pois achou que as crianças tinham razão..
- Sabe, seu Lucas - ela falou -, bode não é como se fosse dinheiro. Galinha também não é. Até aí o senhor tem razão. Mas bala também não é como se fosse dinheiro muito menos chiclete.
Seu Lucas se desculpava:
- É, mas eu não tive troco? - Aí, o senhor anota, e no outro dia paga.
Os meninos fizeram uma festa, deram pique-pique pra dona Júlia e tudo.
Naquele dia, nem houve mais aula.
Mas o melhor de tudo é que todos do bairro ficaram sabendo do caso.
E, agora, seu Pedro da farmácia não dá mais compridos de troco, seu Ângelo do mercado não dá mais mercadoria como se fosse dinheiro.
Afinal, ninguém quer receber um bode em pagamento, como se fosse dinheiro. É, ou não é?
Todos os dias Catapimba levava dinheiro para escola para comprar o lanche.
Chegava no bar, comprava um sanduíche e pagava seu Lucas.
Mas seu Lucas nunca tinha troco.
Um dia, Catapimba reclamou de seu Lucas:
- Seu Lucas, eu não quero bala, quero meu troco
- Ora
- Ah, eu não sei! Só sei que quero meu troco em dinheiro!
- Ora, bala é como se fossa dinheiro, menino? Ora essa...
Catapimba ainda insistiu umas duas ou três vezes.
A resposta era sempre a mesma:
- Ora, menino, bala é como se fosse dinheiro... Então, leve um chiclete, se não gosta de bala.
Aí, Catapimba resolveu dar um jeito.
No dia seguinte, apareceu com um embrulhão de baixo do braço. Os colegas queriam saber o que era. Catapimba ria e respondia;
- Na hora do recreio, vocês vão ver...
E, na hora do recreio, todo mundo viu.
Catapimba comprou o seu lanche. Na hora de pagar, abriu o embrulho. E tirou de dentro... uma galinha.
Botou a galinha em cima do balcão.
- Que é isso, menino? - perguntou seu Lucas.
- É pra pagar o sanduíche, seu Lucas. Galinha é como se fosse dinheiro... o senhor pode me dar troco, por favor?
Os meninos estavam esperando para ver o que seu Lucas ia fazer.
Seu Lucas ficou um tempão parado, pensando...
Aí colocou uma moedas no balcão:
- Está aí seu troco, menino!
E pegou a galinha, para acabar com a confusão.
No dia seguinte, todas as crianças apareceram com embrulhos debaixo do braço.
No recreio, todo mundo foi comprar lanche.
Na hora de pagar...
Teve gente que queria pagar com raquete de pingue-pongue, com papagaio de papel, com vidro de cola, com geléia de jabuticaba...
O Armandinho quis pagar um sanduíche de mortadela com o sanduíche de goiabada que ele tinha levado...
Teve gente que também levou galinha, pato, peru... E, quando seu Lucas reclamava, a resposta era sempre a mesma; - Ué, seu Lucas, é como se fosse dinheiro...
Mas seu Lucas ficou chateado mesmo quando apareceu o Caloca puxando um bode.
Aí, seu Lucas correu e chamou a diretora.
Dona Júlia veio e contaram pra ela o que estava acontecendo. E sabe o que ela achou?
Pois achou que as crianças tinham razão..
- Sabe, seu Lucas - ela falou -, bode não é como se fosse dinheiro. Galinha também não é. Até aí o senhor tem razão. Mas bala também não é como se fosse dinheiro muito menos chiclete.
Seu Lucas se desculpava:
- É, mas eu não tive troco? - Aí, o senhor anota, e no outro dia paga.
Os meninos fizeram uma festa, deram pique-pique pra dona Júlia e tudo.
Naquele dia, nem houve mais aula.
Mas o melhor de tudo é que todos do bairro ficaram sabendo do caso.
E, agora, seu Pedro da farmácia não dá mais compridos de troco, seu Ângelo do mercado não dá mais mercadoria como se fosse dinheiro.
Afinal, ninguém quer receber um bode em pagamento, como se fosse dinheiro. É, ou não é?
A Arca de Noé
A Arca de Noé
Esta história é muito,
Muito antiga.
Eu li
Num livrão grande do papai,
Que se chama Bíblia.
É a história de um homem chamado Noé.
Um dia, Deus chamou Noé.
E mandou que ele construísse
Um barco bem grande.
Não sei por quê,
Mas todo mundo chama esse barco
De Arca de Noé.
Deus mandou
Que ele pusesse dentro do barco
Um bicho de cada qualidade.
Um bicho, não. Dois.
Um leão e uma leoa...
Um macaco e uma macaca...
Um caititu e uma caititoa...
Quer dizer, caititoa não,
Que eu nem sei se isso existe.
E veio tudo que foi bicho.
Girafa, com um pescoço
Do tamanho de um bonde...
Tinha tigre de bengala.
Papagaio que até fala.
E tinha onça-pintada.
Arara dando risada,
Que era ver uma vitrola!
E um casal de tatu-bola...
Bicho d´água, isso não tinha,
Nem tubarão, nem tainha,
Procurando por abrigo.
Nem peixe-boi nem baleia,
Nem arraia nem lampreia,
Que não corriam perigo...
E zebra, que parece cavalo de pijama...
E pavão, que parece um galo
Fantasiado pra baile de carnaval.
E cobra, jacaré, elefante...
E paca, tatu e cutia também.
E passarinho de todo jeito.
Curió, bem-te-vi, papa capim...
E inseto de todo tamanho.
Formiga, joaninha, louva-a-deus...
Eu acho que Noé
Devia Ter deixado fora
Tudo que é bicho enjoado,
Como pulga, barata r pernilongo,
Que faz fiuuummm no ouvido da gente.
Mas ele não deixou.
Levou tudo que foi bicho.
Tinha peru, tinha pato.
Tinha vespa e carrapato.
Avestruz, carneiro, pinto...
Tinha até ornitorrinco.
Urubu, besouro, burro.
Gafanhoto, grilo, gato.
Tinha abelha, tinha rato...
Quando a bicharada
Estava toda embarcada,
E mais a família do Noé todinha,
Começou a cair uma chuvarada.
Mas não era uma chuvarada
Dessas que caem agora.
Você já viu uma cachoeira?
Pois era igualzinho
A uma cachoeira caindo,
Caindo, que não acabava mais.
Parecia o Rio Amazonas despencando.
E aquela água foi cobrindo tudo, tudo.
Cobriu as terras, cobriu as plantas, cobriu as árvores, cobriu as montanhas.
Só mesmo a Arca de Noé, que boiava em cima das águas, é que não ficou coberta.
E mesmo depois
Que passou a tempestade
Ficou tudo coberto de água.
E passou muito tempo.
Todo mundo estava enjoado
De ficar preso dentro da Arca,
Sem poder sair nem um bocadinho.
Os bichos até começaram a brigar.
Que nem criança,
Que fica muito tempo dentro de casa
E já começa a implicar com os irmãos.
O gato e o rato
Começaram a brigar nesse tempo
E até hoje não fizeram as pazes.
Até que um dia...
Veio vindo um ventinho lá de longe.
E as águas começaram a baixar.
E foram baixando, baixando...
E Noé teve uma idéia.
Mandou o pombo
Dar uma volta lá fora
Para ver como estavam as coisas.
Os pombos são ótimos para isso.
Eles sabem ir e voltar dos lugares,
Sem se perder, nem nada.
Por isso é que Noé escolheu o pombo
Para esse trabalho.
O pombo foi e voltou
Com uma folhinha no bico.
E Noé ficou sabendo
Que as terras já estavam aparecendo.
E as águas foram baixando
Mais e mais...
Então a Arca pousou
Sobre um monte.
E todo mundo pôde sair
E todo mundo ficou contente.
E todos se abraçaram
E cantaram.
E Deus pendurou no céu
Um arco colorido,
Todo de listras.
E esse arco queria dizer
Que Deus era amigo dos homens,
E que nunca mais
Ia chover assim na terra.
Você já viu, depois da chuva,
O arco-íris redondinho no céu?
Pois é pra sossegar a gente.
Pra gente nunca mais
Ter medo da chuva
Esta história é muito,
Muito antiga.
Eu li
Num livrão grande do papai,
Que se chama Bíblia.
É a história de um homem chamado Noé.
Um dia, Deus chamou Noé.
E mandou que ele construísse
Um barco bem grande.
Não sei por quê,
Mas todo mundo chama esse barco
De Arca de Noé.
Deus mandou
Que ele pusesse dentro do barco
Um bicho de cada qualidade.
Um bicho, não. Dois.
Um leão e uma leoa...
Um macaco e uma macaca...
Um caititu e uma caititoa...
Quer dizer, caititoa não,
Que eu nem sei se isso existe.
E veio tudo que foi bicho.
Girafa, com um pescoço
Do tamanho de um bonde...
Tinha tigre de bengala.
Papagaio que até fala.
E tinha onça-pintada.
Arara dando risada,
Que era ver uma vitrola!
E um casal de tatu-bola...
Bicho d´água, isso não tinha,
Nem tubarão, nem tainha,
Procurando por abrigo.
Nem peixe-boi nem baleia,
Nem arraia nem lampreia,
Que não corriam perigo...
E zebra, que parece cavalo de pijama...
E pavão, que parece um galo
Fantasiado pra baile de carnaval.
E cobra, jacaré, elefante...
E paca, tatu e cutia também.
E passarinho de todo jeito.
Curió, bem-te-vi, papa capim...
E inseto de todo tamanho.
Formiga, joaninha, louva-a-deus...
Eu acho que Noé
Devia Ter deixado fora
Tudo que é bicho enjoado,
Como pulga, barata r pernilongo,
Que faz fiuuummm no ouvido da gente.
Mas ele não deixou.
Levou tudo que foi bicho.
Tinha peru, tinha pato.
Tinha vespa e carrapato.
Avestruz, carneiro, pinto...
Tinha até ornitorrinco.
Urubu, besouro, burro.
Gafanhoto, grilo, gato.
Tinha abelha, tinha rato...
Quando a bicharada
Estava toda embarcada,
E mais a família do Noé todinha,
Começou a cair uma chuvarada.
Mas não era uma chuvarada
Dessas que caem agora.
Você já viu uma cachoeira?
Pois era igualzinho
A uma cachoeira caindo,
Caindo, que não acabava mais.
Parecia o Rio Amazonas despencando.
E aquela água foi cobrindo tudo, tudo.
Cobriu as terras, cobriu as plantas, cobriu as árvores, cobriu as montanhas.
Só mesmo a Arca de Noé, que boiava em cima das águas, é que não ficou coberta.
E mesmo depois
Que passou a tempestade
Ficou tudo coberto de água.
E passou muito tempo.
Todo mundo estava enjoado
De ficar preso dentro da Arca,
Sem poder sair nem um bocadinho.
Os bichos até começaram a brigar.
Que nem criança,
Que fica muito tempo dentro de casa
E já começa a implicar com os irmãos.
O gato e o rato
Começaram a brigar nesse tempo
E até hoje não fizeram as pazes.
Até que um dia...
Veio vindo um ventinho lá de longe.
E as águas começaram a baixar.
E foram baixando, baixando...
E Noé teve uma idéia.
Mandou o pombo
Dar uma volta lá fora
Para ver como estavam as coisas.
Os pombos são ótimos para isso.
Eles sabem ir e voltar dos lugares,
Sem se perder, nem nada.
Por isso é que Noé escolheu o pombo
Para esse trabalho.
O pombo foi e voltou
Com uma folhinha no bico.
E Noé ficou sabendo
Que as terras já estavam aparecendo.
E as águas foram baixando
Mais e mais...
Então a Arca pousou
Sobre um monte.
E todo mundo pôde sair
E todo mundo ficou contente.
E todos se abraçaram
E cantaram.
E Deus pendurou no céu
Um arco colorido,
Todo de listras.
E esse arco queria dizer
Que Deus era amigo dos homens,
E que nunca mais
Ia chover assim na terra.
Você já viu, depois da chuva,
O arco-íris redondinho no céu?
Pois é pra sossegar a gente.
Pra gente nunca mais
Ter medo da chuva
O dia em que meu primo quebrou a cabeça do meu pai
O dia em que meu primo quebrou a cabeça do meu pai
Vocês precisavam conhecer meu primo, puxa vida!
Que chato que ele é!
Ele é tão certinho, mas tão certinho, que eu tenho sempre vontade de chutar a canela dele...
E nem isso eu posso, que ele é maior do que eu e é faixa marrom de caratê.
E joga futebol...
Ele é goleiro, e tem luva de goleiro e camisa de goleiro e uma joelheira de verdade que o Juju falou que é cotoveleira de gente grande e que criança usa de joelheira.
E na escola? Primeiro da classe perde. Ele sabe tudo! Só tira 10. Nunca vai pra fora de classe, nunca tem anotação na caderneta.
E quando ele vai na minha casa, puxa vida!
Meu pai fica dizendo “Olha a caderneta do Armandinho. Só tem 10...”
E a minha mãe fala “Olha como o Armandinho se comporta direitinho e cumprimenta todo mundo, não é como você que entra que nem furacão, sem falar com ninguém...”
E as canetas do Armandinho não estouram e não sujam a mão dele toda de tinta, os cadernos dele não enrolam nos cantos que nem os meus e os lápis de cor dele gastam todos iguaizinhos, não ficam que nem os meus que logo acaba o vermelho e o azul.
É por isso que eu não posso nem ouvir falar de Armandinho... e é por isso que quando aconteceu o que eu vou contar eu fiquei bem me divertindo...
Nesse dia o Armandinho já tinha enchido as minhas medidas. Vocês não vão acreditar, mas o Armandinho trouxe flores pra minha vó. Pode?
E ele veio com uma roupa que eu acho que a minha mãe e a dele compraram no mesmo dia e que era um horror e que eu disse pra minha mãe que eu não ia vestir nem que fosse amarrado.
E minha mãe e minha vó só faltaram babar quando viram o Armandinho com aquela roupa de palhaço.
E na hora do almoço tinha fígado e o engraçadinho gostava de fígado!
E ele tinha ganho um prêmio na escola e tocou piano pra minha mãe ver e tinha entrado na aula de natação.
Quando ele começou a contar que ia à Disneylândia nas férias e que ele tinha ganho um aparelho de video-cassete eu até levantei da mesa e disse que ia vomitar.
E fui pro meu quarto e me tranquei lá em cima e fingi que não ouvia quando minha mãe me chamou.
Mas depois de um tempo eu comecei a ouvir um berreiro, minha mãe falava sem parar e fui descendo a escada devagar e eu ouvi minha avó dizer pra minha mãe:
- Foi o Armandinho... ele quebrou a cabeça do Pacheco...
Eu podia perceber que a minha vó estava muito sem jeito. Pudera! Pacheco era meu pai. Se o Armandinho tinha quebrado a cabeça do meu pai...
Eu não sabia ao que fazer e eu só ouvia o Amandinho
chorando feito um bezerro desmamado.
Aí eu fiquei preocupado, que eu nem sabia que o meu pai estava em casa e eu não ouvia a voz dele...
“Será que meu pai morreu?” eu pensei, e fiquei aflitíssimo com essa idéia.
E aí eu cheguei na sala e estava aquela zona!
O Armandinho chorando, no colo da minha vó.
Minha mãe abaixada junto ao piano catando uma coisa que eu não sabia o que era.
E eu já entrei gritando:
- Cadê meu pai? Meu pai morreu?
Minha mãe ficou muito assustada e correu pra mim:
- Seu pai morreu? Que é que você está dizendo?
E eu então percebi o que tinha acontecido e comecei a rir que não parava mais.
Cheguei a sentar no chão de tanto rir.
É que o Armandinho tinha quebrado a cabeça do meu pai, sim. Mas não era a cabeça dele mesmo. Era a cabeça de gesso que tinha em cima do piano e que era de um tal de Beethoven...
Vocês precisavam conhecer meu primo, puxa vida!
Que chato que ele é!
Ele é tão certinho, mas tão certinho, que eu tenho sempre vontade de chutar a canela dele...
E nem isso eu posso, que ele é maior do que eu e é faixa marrom de caratê.
E joga futebol...
Ele é goleiro, e tem luva de goleiro e camisa de goleiro e uma joelheira de verdade que o Juju falou que é cotoveleira de gente grande e que criança usa de joelheira.
E na escola? Primeiro da classe perde. Ele sabe tudo! Só tira 10. Nunca vai pra fora de classe, nunca tem anotação na caderneta.
E quando ele vai na minha casa, puxa vida!
Meu pai fica dizendo “Olha a caderneta do Armandinho. Só tem 10...”
E a minha mãe fala “Olha como o Armandinho se comporta direitinho e cumprimenta todo mundo, não é como você que entra que nem furacão, sem falar com ninguém...”
E as canetas do Armandinho não estouram e não sujam a mão dele toda de tinta, os cadernos dele não enrolam nos cantos que nem os meus e os lápis de cor dele gastam todos iguaizinhos, não ficam que nem os meus que logo acaba o vermelho e o azul.
É por isso que eu não posso nem ouvir falar de Armandinho... e é por isso que quando aconteceu o que eu vou contar eu fiquei bem me divertindo...
Nesse dia o Armandinho já tinha enchido as minhas medidas. Vocês não vão acreditar, mas o Armandinho trouxe flores pra minha vó. Pode?
E ele veio com uma roupa que eu acho que a minha mãe e a dele compraram no mesmo dia e que era um horror e que eu disse pra minha mãe que eu não ia vestir nem que fosse amarrado.
E minha mãe e minha vó só faltaram babar quando viram o Armandinho com aquela roupa de palhaço.
E na hora do almoço tinha fígado e o engraçadinho gostava de fígado!
E ele tinha ganho um prêmio na escola e tocou piano pra minha mãe ver e tinha entrado na aula de natação.
Quando ele começou a contar que ia à Disneylândia nas férias e que ele tinha ganho um aparelho de video-cassete eu até levantei da mesa e disse que ia vomitar.
E fui pro meu quarto e me tranquei lá em cima e fingi que não ouvia quando minha mãe me chamou.
Mas depois de um tempo eu comecei a ouvir um berreiro, minha mãe falava sem parar e fui descendo a escada devagar e eu ouvi minha avó dizer pra minha mãe:
- Foi o Armandinho... ele quebrou a cabeça do Pacheco...
Eu podia perceber que a minha vó estava muito sem jeito. Pudera! Pacheco era meu pai. Se o Armandinho tinha quebrado a cabeça do meu pai...
Eu não sabia ao que fazer e eu só ouvia o Amandinho
chorando feito um bezerro desmamado.
Aí eu fiquei preocupado, que eu nem sabia que o meu pai estava em casa e eu não ouvia a voz dele...
“Será que meu pai morreu?” eu pensei, e fiquei aflitíssimo com essa idéia.
E aí eu cheguei na sala e estava aquela zona!
O Armandinho chorando, no colo da minha vó.
Minha mãe abaixada junto ao piano catando uma coisa que eu não sabia o que era.
E eu já entrei gritando:
- Cadê meu pai? Meu pai morreu?
Minha mãe ficou muito assustada e correu pra mim:
- Seu pai morreu? Que é que você está dizendo?
E eu então percebi o que tinha acontecido e comecei a rir que não parava mais.
Cheguei a sentar no chão de tanto rir.
É que o Armandinho tinha quebrado a cabeça do meu pai, sim. Mas não era a cabeça dele mesmo. Era a cabeça de gesso que tinha em cima do piano e que era de um tal de Beethoven...
Historinhas malcriadas
Historinhas malcriadas
O dia em que eu mordi Jesus Cristo
Eu estava numa escola onde não tinha aula de religião.
E todos os meus amigos já tinham feito a primeira comunhão, menos eu.
Então me deu uma vontade danada de fazer primeira comunhão. Eu nem sabia direito o que era isso, mas falei pra minha mãe e pro meu pai e eles acharam que até podia ser bom, que eu andava muito lavada e coisa e tal, e me arranjaram uma tal de aula de catecismo, que era na igreja.
Aí eu não gostei muito, que todo sábado de manhã, enquanto meus amigos ficavam brincando na rua, eu tinha que ir na tal aula. Eu ia, né, e aí eu arranjei uns amigos e tinha uma menina boazinha que vinha me buscar que ela também ia na aula e a gente ia pra igreja rindo de tudo que a gente via.
E na aula a gente aprendia uma porção de coisas, e tinha uma que eu achava engraçada e que era uma rezinha bem curtinha, que se chamava jaculatória. Eu achava esse nome meio feio, sei lá, me lembrava alguma coisa esquisita...
E o padre uma vez mostrou pra gente um livrão, que tinha uma figura com o inferno e uma porção de gente se danando lá dentro.
E a gente tinha que aprender a rezar a Ave-Maria e o Padre-Nosso e o Creindeuspadre.
E tinha um tal de ato de contrição, e uma tal de ladainha, que a gente morria de rir.
E aí a gente começou a aprender como é que se confessava, que tinha que dizer todos os pecados pro padre e eu perguntava pro padre o que era pecado e ele parece que nem sabia direito.
Quando eu chegava em casa e contava essas coisas, meu pai e minha mãe meio que achavam graça e eu comecei a achar que esse negócio de primeira comunhão era meio engraçado...
E aí o padre começou a explicar pra gente como era a comunhão e que a gente ia comer o corpo de Cristo, que na hora da missa aquela bolachinha chamada hóstia vira o corpo de Cristo.
Eu estava muito animada era com o meu vestido novo, que era branco e era cheio de babados e rendas, e na cabeça eu ia botar um véu, que nem a minha avó na missa, só que o meu era branco e mais parecia uma roupa de noiva.
E eu ganhei um livro de missa lindo, todo de madrepérola, e um terço que eu nem sabia usar, minha mãe disse que antigamente as pessoas rezavam terço, mas que agora não se usava mais...
E o dia da comunhão estava chegando e a minha mãe preparou um lanche, ia ter chocolate e bolo e uma porção de coisas, que a gente ia voltar bem depressa da igreja, que quem ia comungar não ia poder comer antes da missa. E era só eu que ia comungar.
E eu perguntei pra minha mãe por que é que ela nunca comungava e ela disse que um dia desses ela ia.
E eu perguntei por que é que o meu pai nunca ia na igreja e ele disse que um dia desses ele ia.
E aí chegou a véspera da minha comunhão e eu tive de ir confessar. E eu morri de medo de errar o tal ato de contrição e na hora que eu fui confessar mandaram eu ficar de um lado do confessionário, que é uma casinha com uma janelinha de grade de cada lado e um lugar de cada lado para ajoelhar, e o padre fica lá dentro.
Eu ajoelhei onde me mandaram e aí eu ouvia tudo que a menina do outro lado estava dizendo pro padre e era que ela tinha desobedecido a mãe dela e o padre mandou rezar vinte Ave-Marias.
Eu fiquei meio que achando que era pecado ouvir os pecados dos outros, mas como ninguém tinha falado nada pra mim eu fiquei quieta, e quando o padre veio pro meu lado eu fui logo falando o ato de contrição: eu pecador me confesso e o resto que vem depois.
E eu contei os meus pecados, que pra falar a verdade eu nem achava que eram pecados, mas foi assim que me ensinaram. E aí o padre disse uma coisa que eu não entendi e eu perguntei “o quê” e o padre disse "vai tirar o cera do ouvido”. E eu disse “posso ir embora?” e ele disse “vai, vai logo e reze vinte Ave-Marias”. E eu achei que ele nem tinha escutado o que eu disse e que ele que precisava tirar a cera do ouvido.
No dia seguinte eu botei o meu vestido branco e eu não comi nadinha, nem bebi água, e nem escovei os dentes, de medo de engolir uma aguinha.
E eu estava morrendo de medo, que todo mundo tinha dito que se a gente mordesse a hóstia saía sangue.
A igreja cheirava a lírio, que é um cheiro que até hoje eu acho enjoado.
As meninas e os meninos que iam fazer primeira comunhão ficavam lá na frente, nos primeiros bancos e davam pra gente uma vela pra segurar.
O padre foi rezando uma missa comprida que não acabava mais e às tantas chegou a hora da gente comungar e as meninas foram saindo dos bancos e foram indo lá pra frente e ajoelhando num degrau que tem perto de uma grade.
E o padre veio vindo com uma taça dourada na mão e ele tirava a hóstia lá de dentro e ia dando uma por uma para cada menina e menino.
Aí chegou a minha vez e abri bem a boca e fechei os olhos que nem eu vi as outras crianças fazerem e o padre botou a hóstia na minha língua. Eu não sabia o que fazer, que morder não podia e a minha boca estava sequinha e a hóstia grudou no céu da boca eu empurrava com a língua e não desgrudava e enquanto isso eu tinha que levantar e voltar pro meu lugar que já tinha gente atrás de mim querendo ajoelhar.
E eu nem aprestei atenção e tropecei no vestido da Carminha e levei o maior tombo da minha vida.
É claro que eu fiquei morrendo de vergonha e eu levantei e nem prestei atenção se eu tinha machucado o joelho. O que estava me preocupando mesmo é que eu tinha dado a maior mordida na hóstia.
Eu estava sentindo tudo que é gosto na boca, que devia de estar saindo sangue da hóstia, mas não tinha coragem de pegar pra olhar.
Aí eu pensei assim: “se eu não olhar se saiu sangue agora, nunca mais na minha vida eu vou saber se é verdade essa história”.
Aí eu meti o dedo na boca e tirei um pedaço da hóstia, meio amassado, meio molhado. E estava branquinho que nem tinha entrado.
E foi assim que eu aprendi que quando as pessoas falam pra gente coisas que parecem besteira não é pra acreditar, que tem muita gente besta neste mundo!
O dia em que eu mordi Jesus Cristo
Eu estava numa escola onde não tinha aula de religião.
E todos os meus amigos já tinham feito a primeira comunhão, menos eu.
Então me deu uma vontade danada de fazer primeira comunhão. Eu nem sabia direito o que era isso, mas falei pra minha mãe e pro meu pai e eles acharam que até podia ser bom, que eu andava muito lavada e coisa e tal, e me arranjaram uma tal de aula de catecismo, que era na igreja.
Aí eu não gostei muito, que todo sábado de manhã, enquanto meus amigos ficavam brincando na rua, eu tinha que ir na tal aula. Eu ia, né, e aí eu arranjei uns amigos e tinha uma menina boazinha que vinha me buscar que ela também ia na aula e a gente ia pra igreja rindo de tudo que a gente via.
E na aula a gente aprendia uma porção de coisas, e tinha uma que eu achava engraçada e que era uma rezinha bem curtinha, que se chamava jaculatória. Eu achava esse nome meio feio, sei lá, me lembrava alguma coisa esquisita...
E o padre uma vez mostrou pra gente um livrão, que tinha uma figura com o inferno e uma porção de gente se danando lá dentro.
E a gente tinha que aprender a rezar a Ave-Maria e o Padre-Nosso e o Creindeuspadre.
E tinha um tal de ato de contrição, e uma tal de ladainha, que a gente morria de rir.
E aí a gente começou a aprender como é que se confessava, que tinha que dizer todos os pecados pro padre e eu perguntava pro padre o que era pecado e ele parece que nem sabia direito.
Quando eu chegava em casa e contava essas coisas, meu pai e minha mãe meio que achavam graça e eu comecei a achar que esse negócio de primeira comunhão era meio engraçado...
E aí o padre começou a explicar pra gente como era a comunhão e que a gente ia comer o corpo de Cristo, que na hora da missa aquela bolachinha chamada hóstia vira o corpo de Cristo.
Eu estava muito animada era com o meu vestido novo, que era branco e era cheio de babados e rendas, e na cabeça eu ia botar um véu, que nem a minha avó na missa, só que o meu era branco e mais parecia uma roupa de noiva.
E eu ganhei um livro de missa lindo, todo de madrepérola, e um terço que eu nem sabia usar, minha mãe disse que antigamente as pessoas rezavam terço, mas que agora não se usava mais...
E o dia da comunhão estava chegando e a minha mãe preparou um lanche, ia ter chocolate e bolo e uma porção de coisas, que a gente ia voltar bem depressa da igreja, que quem ia comungar não ia poder comer antes da missa. E era só eu que ia comungar.
E eu perguntei pra minha mãe por que é que ela nunca comungava e ela disse que um dia desses ela ia.
E eu perguntei por que é que o meu pai nunca ia na igreja e ele disse que um dia desses ele ia.
E aí chegou a véspera da minha comunhão e eu tive de ir confessar. E eu morri de medo de errar o tal ato de contrição e na hora que eu fui confessar mandaram eu ficar de um lado do confessionário, que é uma casinha com uma janelinha de grade de cada lado e um lugar de cada lado para ajoelhar, e o padre fica lá dentro.
Eu ajoelhei onde me mandaram e aí eu ouvia tudo que a menina do outro lado estava dizendo pro padre e era que ela tinha desobedecido a mãe dela e o padre mandou rezar vinte Ave-Marias.
Eu fiquei meio que achando que era pecado ouvir os pecados dos outros, mas como ninguém tinha falado nada pra mim eu fiquei quieta, e quando o padre veio pro meu lado eu fui logo falando o ato de contrição: eu pecador me confesso e o resto que vem depois.
E eu contei os meus pecados, que pra falar a verdade eu nem achava que eram pecados, mas foi assim que me ensinaram. E aí o padre disse uma coisa que eu não entendi e eu perguntei “o quê” e o padre disse "vai tirar o cera do ouvido”. E eu disse “posso ir embora?” e ele disse “vai, vai logo e reze vinte Ave-Marias”. E eu achei que ele nem tinha escutado o que eu disse e que ele que precisava tirar a cera do ouvido.
No dia seguinte eu botei o meu vestido branco e eu não comi nadinha, nem bebi água, e nem escovei os dentes, de medo de engolir uma aguinha.
E eu estava morrendo de medo, que todo mundo tinha dito que se a gente mordesse a hóstia saía sangue.
A igreja cheirava a lírio, que é um cheiro que até hoje eu acho enjoado.
As meninas e os meninos que iam fazer primeira comunhão ficavam lá na frente, nos primeiros bancos e davam pra gente uma vela pra segurar.
O padre foi rezando uma missa comprida que não acabava mais e às tantas chegou a hora da gente comungar e as meninas foram saindo dos bancos e foram indo lá pra frente e ajoelhando num degrau que tem perto de uma grade.
E o padre veio vindo com uma taça dourada na mão e ele tirava a hóstia lá de dentro e ia dando uma por uma para cada menina e menino.
Aí chegou a minha vez e abri bem a boca e fechei os olhos que nem eu vi as outras crianças fazerem e o padre botou a hóstia na minha língua. Eu não sabia o que fazer, que morder não podia e a minha boca estava sequinha e a hóstia grudou no céu da boca eu empurrava com a língua e não desgrudava e enquanto isso eu tinha que levantar e voltar pro meu lugar que já tinha gente atrás de mim querendo ajoelhar.
E eu nem aprestei atenção e tropecei no vestido da Carminha e levei o maior tombo da minha vida.
É claro que eu fiquei morrendo de vergonha e eu levantei e nem prestei atenção se eu tinha machucado o joelho. O que estava me preocupando mesmo é que eu tinha dado a maior mordida na hóstia.
Eu estava sentindo tudo que é gosto na boca, que devia de estar saindo sangue da hóstia, mas não tinha coragem de pegar pra olhar.
Aí eu pensei assim: “se eu não olhar se saiu sangue agora, nunca mais na minha vida eu vou saber se é verdade essa história”.
Aí eu meti o dedo na boca e tirei um pedaço da hóstia, meio amassado, meio molhado. E estava branquinho que nem tinha entrado.
E foi assim que eu aprendi que quando as pessoas falam pra gente coisas que parecem besteira não é pra acreditar, que tem muita gente besta neste mundo!