"A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo. (Nelson Mandela) "

sexta-feira, 20 de março de 2015

ÇA-FEIRA, 27 DE MAIO DE 2008

CADERNO DE LEITURA


CADERNO DE LEITURA: um recurso a favor da Alfabetização.

Como surgiu a proposta?

Surgiu da observação de que muitas crianças aprendiam a ler a partir da “leitura” de textos que já sabiam de cor (músicas, poemas, listas de nomes de familiares e amigos e outros textos de conteúdo conhecido).
A observação dessa prática motivou a proposta de organizar um caderno de leitura contendo diferentes tipos de textos conhecidos das crianças, como apoio à alfabetização.
O que se pode aprender?

O caderno de leitura possibilita:
• Trabalhar com textos reais, de diferentes gêneros
• Apresentar um repertório de textos conhecidos das crianças
• Organizar os textos trabalhados em classe
• Desenvolver
 atividades de leitura compartilhada
• Incentivar as crianças a lerem antes de saber fazê-lo de forma convencional
• Socializar com os familiares alguns dos textos que circulam na sala de aula
• Promover a leitura e consulta dos textos sempre que as crianças desejarem e/ou necessitarem
• Criar um referencial estável de textos/palavras que podem ser usados no momento de produzir outros textos.
Que textos selecionar?

O caderno de leitura pode ter duas partes. Uma delas com textos como parlendas, poemas, quadrinhas, músicas, listas e outros textos que as crianças sabem de cor. E outra com textos que as crianças demonstrarem interesse em ter disponíveis para compartilhar com familiares e amigos: fábulas, piadas, receitas e outros.
Quais os objetivos?

Não podemos esquecer que um dos objetivos do caderno é apresentar um repertório de textos conhecidos pelas crianças.
Quanto ao tipo de caderno, pode-se escolher o de brochura pequeno, pois é mais fácil de carregar na mochila, sendo que ele vai para casa todos os dias.
O caderno de leitura tem como objetivos principais:
• incentivar a prática da leitura e o desejo de ler
• possibilitar o contato direto das crianças com textos reais
• ampliar a diversidade de gêneros textuais conhecidos pelas crianças
• garantir um repertório de textos de boa qualidade que se constitua num material de consulta para a escrita de outros textos
• incentivar as crianças a lerem mesmo quando ainda não sabem ler convencionalmente
• apresentar situações reais em que as crianças tenham que utilizar estratégias de leitura e ajustar o que sabem de cor ao que está escrito
• desencadear atividades de leitura que exigem reflexão sobre a escrita convencional
• favorecer algumas aprendizagens importantes: sobre o fato de todo escrito poder ser lido, sobre a linguagem que se usa para escrever, sobre a disposição gráfica dos diferentes gêneros textuais, sobre o valor sonoro convencional das letras...
• ajudar as crianças a avançarem nos seus conhecimentos sobre a escrita.
Desde quando?

O caderno de leitura pode ser organizado com as turmas de três anos em diante.
• Com as crianças de 3 a 5 anos, o caderno será uma oportunidade para que elas se reconheçam capazes de ler. A seleção dos textos deve sempre ter como critérios principais: as características, conhecimentos e preferências da turma e a qualidade do material (tanto do ponto de vista do conteúdo como da apresentação gráfica).
Nessa faixa etária o caderno possibilita (principalmente) resgatar textos significativos da cultura popular, ampliar o repertório de textos conhecidos, aprender que tudo o que dizemos, cantamos, recitamos pode ser escrito, que os textos são diferentes e se organizam graficamente de modo diferente, que escrevemos com letras...
• A partir dos 6 anos, além dessas vantagens, o caderno serve também como fonte de consulta para a escrita das crianças, em situações espontâneas ou orientadas pelo professor.
Alguns cuidados com o caderno de leitura:

É importante:
• garantir, na página inicial, uma breve apresentação do caderno com os seus objetivos, para que os familiares saibam para que serve e como será utilizado em casa e na escola;
• deixar, em seguida, um espaço para elaboração progressiva de um índice dos textos;
• garantir uma boa apresentação do material (textos bem impressos, com letra legível e de tamanho adequado, recortados e colados com capricho pelo professor etc);
• incentivar as crianças a terem uma atitude de cuidado com o caderno;
• apresentar às crianças os portadores de onde são transcritos os textos;
• manter a diagramação dos textos tal como é feita nos portadores de origem;
• não permitir a ilustração do caderno, pois não se pretende que as crianças reconheçam os textos a partir de imagens, mas sim de outras estratégias;
• deixar claro que o caderno deve ser mantido sempre na mochila das crianças, para que circule além da escola.
PROCEDIMENTOS:
Iniciar o caderno com uma abertura: uma mensagem sobre o caderno, depois os objetivos do caderno e em seguida, a lista dos alunos da sala e seus respectivos números, onde quem fará a chamada são as crianças, lendo os nomes e números e o referido aluno responde.
Na seqüência, colar a oração que fazemos diariamente e mais oito textos incluindo músicas, parlendas e trava-línguas.
Dar um tempo e colar nova remessa de textos: músicas, poemas e mais parlendas.
Fazer leitura diária de todos os textos do caderno, utilizando estratégias para leitura, como leitura dos textos debaixo para cima, meninas lêem uma parte e os meninos outra...
A intenção do caderno é somente leitura, sem apoio de figuras.
Mas, nada impede que se trabalhe à parte os textos do caderno, dependendo do nível da criança elaborar atividades como por exemplo: jogos mexe-mexe, completar lacunas, textos fatiados, cruzadinhas, caça-palavras, desenho sobre determinado texto...
Os textos devem ser impressos com boa qualidade, imprimindo os textos na matricial, assim não gasta muito com xerox.
Fazer sempre com a classe, ditados de listas, escrita espontânea de alguma música, parlenda...
Assim pode-se acompanhar o desenvolvimento da escrita dos alunos.
TIPO DE LETRA:
Todos os textos com letras maiúsculas.
ATIVIDADES RELACIONADAS:
Quanto a sugestão de atividades, tem uma série de atividades que pode-se conciliar com o caderno de leitura: textos fatiados, lacunados, reescrita dos textos do caderno, produções de textos coletivas e individuais, cruzadinhas, caça-palavras, enfim uma série de atividades que dá para complementar e fixar os conteúdos que pretende-se desenvolver.
Alguns textos para o caderno de leitura...
MÚSICA: CAI, CAI, BALÃO
CAI,CAI, BALÃO
CAI, CAI, BALÃO
AQUI NA MINHA MÃO.
NÃO CAI NÃO,
NÃO CAI NÃO,
NÃO CAI NÃO!
CAI NA RUA DO SABÃO.
MÚSICA: CAPELINHA DE MELÃO
CAPELINHA DE MELÃO,
É DE SÃO JOÃO.
É DE CRAVO, É DE ROSA,
É DE MANJERICÃO.
SÃO JOÃO ESTÁ DORMINDO,
NÃO ACORDA NÃO.
ACORDAI, ACORDAI,
ACORDAI JOÃO.
MÚSICA: CARNEIRINHO, CARNEIRÃO
CARNEIRINHO, CARNEIRÃO,
NEIRÃO, NEIRÃO.
OLHAI PRO CÉU,
OLHAI PRO CHÃO,
PRO CHÃO, PRO CHÃO.
MANDA EL-REI,
NOSSO SENHOR,
SENHOR, SENHOR.
CADA UM SE LEVANTAR...
ORAÇÃO: BOM DIA!
BOM DIA, MEU DEUS QUERIDO!
AS AULAS JÁ VÃO COMEÇAR.
NÓS QUEREMOS QUE O SENHOR,
VENHA CONOSCO FICAR.
AQUI ESTAMOS JUNTINHOS.
E JÁ VAMOS ESTUDAR.
ABENÇOE A NOSSA CLASSE,

A NOSSA ESCOLA
E O NOSSO LAR.
AMÉM!
PARLENDAS
UM, DOIS,
FEIJÃO COM ARROZ.
TRÊS, QUATRO,
FEIJÃO NO PRATO.
CINCO, SEIS,
BOLO INGLÊS.
SETE, OITO,
COMER BISCOITO.
NOVE, DEZ,
COMER PASTÉIS.
A GALINHA DO VIZINHO
A GALINHA DO VIZINHO
BOTA OVO AMARELINHO
BOTA UM,
BOTA DOIS,
BOTA TRÊS,
BOTA QUATRO,
BOTA CINCO,
BOTA SEIS,
BOTA SETE,
BOTA OITO,
BOTA NOVE,
BOTA DEZ.
TRAVA-LÍNGUAS
O RATO ROEU A ROUPA DO REI DE ROMA.
E A RAINHA, COM RAIVA, ROEU O RESTO.
SE O PAPA PAPASSE PAPA,
SE O PAPA PAPASSE PÃO,
O PAPA TUDO PAPAVA,
SERIA O PAPA PAPÃO.
ARANHA ARRANHA A JARRA.
A JARRA ARRANHA A ARANHA.
ERENHE ERRENHE E JERRE.
E JERRE ERRENHE E ERENHE.
CANÇÃO: SAPO JURURU
SAPO JURURU
NA BEIRA DO RIO,
QUANDO O SAPO CANTA,
Ó MANINHA,
É QUE ESTÁ COM FRIO.
CANÇÃO: NANA NENÉM
NANA, NENÉM,
QUE A CUCA VEM PEGAR,
PAPAI FOI NA ROÇA,
MAMÃE VOLTA JÁ.
PARLENDA: SOL E CHUVA
SOL E CHUVA,
CASAMENTO DE VIÚVA.
CHUVA E SOL,
CASAMENTO DE ESPANHOL.
POEMA
VOCÊ VIU
O GALO DE GALOCHA,
O SAPO DE SAPATO,
O PATO DE PÉ-DE-PATO
NO CARRO DO CARRAPATO?
PARLENDA: HOJE É DOMINGO
HOJE É DOMINGO
PÉ DE CACHIMBO.
O CACHIMBO É DE BARRO,
BATE NO JARRO.
O JARRO É DE OURO,
BATE NO TOURO.
O TOURO É VALENTE,
CHIFRA A GENTE.
A GENTE É FRACO,
CAI NO BURACO.
O BURACO É FUNDO,
ACABOU-SE O MUNDO.
PARLENDA: CADÊ O TOUCINHO
CADÊ O TOUCINHO
QUE ESTAVA AQUI?

O GATO COMEU.
CADÊ O GATO
FOI PRO MATO.
CADÊ O MATO?
O FOGO QUEIMOU.
CADÊ O FOGO?
A ÁGUA APAGOU.
CADÊ A ÁGUA?
O BOI BEBEU.
CADÊ O BOI?
ESTÁ AMASSANDO TRIGO
CADÊ O TRIGO?
A FORMIGA ESPALHOU.
CADÊ A FORMIGA?
ESTÁ NO FORMIGUEIRO.
PARLENDA: MACACA SOFIA
MEIO-DIA, MACACA SOFIA,
PANELA NO FOGO,
BARRIGA VAZIA.
MEIO-DIA, MACACA SOFIA
FAZENDO CARETA
PRA DONA MARIA.
TRAVA-LÍNGUA: O SAPO NO SACO
OLHA O SAPO DENTRO DO SACO,
O SACO COM O SAPO DENTRO,
O SAPO BATENDO PAPO
E O PAPO DO SAPO SOLTANDO VENTO.
MÚSICA: BORBOLETINHA
BORBOLETINHA
ESTÁ NA COZINHA
FAZENDO CHOCOLATE
PARA A MADRINHA
POTI, POTI
PERNA DE PAU
OLHO DE VIDRO
NARIZ DE PICA-PAU
PAU, PAU.
DIAS DA SEMANA
DOMINGO
SEGUNDA-FEIRA
TERÇA-FEIRA
QUARTA-FEIRA

QUINTA-FEIRA
SEXTA-FEIRA
SÁBADO
MESES DO ANO
JANEIRO
FEVEREIRO
MARÇO
ABRIL
MAIO
JUNHO
JULHO
AGOSTO
SETEMBRO
OUTUBRO
NOVEMBRO
DEZEMBRO
LISTA DE FRUTAS
MANGA
CEREJA
BANANA
CAJU
GOIABA
MAMÃO
JABUTICABA
MAÇÃ
MELÃO
MELANCIA
ABACAXI
LARANJA
MAIS TRAVA-LÍNGUA...
O RATO ROEU A ROUPA
DO REI DE ROMA,
O PATO POEU A POUPA
DO PEI DE POMA
O GATO GOEU A GOUPA
DO GUEI DE GOMA
E O NONATO NOEU
A NOUPA DO NEI
DE NOMA.
A PIPA PINGA
O PINTO PIA.
QUANTO MAIS O PINTO PIA,
MAIS A PIPA PINGA.
MÚSICA: O SAPO
O SAPO NÃO LAVA O PÉ,
NÃO LAVA PORQUE NÃO QUER.
ELE MORA LÁ NA LAGOA,
NÃO LAVA O PÉ
PORQUE NÃO QUER.
MAS QUE CHULÉ!
POEMA: COLAR DE CAROLINA
COM SEU COLAR DE CORAL,
CAROLINA
CORRE POR ENTRE AS COLUNAS
DA COLINA.

O COLAR DE CAROLINA
COLORE O COLO DE CAL,
TOMA CORADA A MENINA.

E O SOL VENDO AQUELA COR
DO COLAR DE CAROLINA
PÕE COROAS DE CORAL
NAS COLUNAS DAS COLINAS

(CECÍLIA MEIRELES)
LISTA: O QUE TEM NA FESTA JUNINA
. BANDEIRINHA
. QUADRILHA
. BOLO DE FUBÁ
. ARROZ DOCE
. PAMONHA
. DANÇA
. BARRACA
. CURAU
. CHAPÉU
. FOGUEIRA
. PINHÃO
. BALÃO
. FOGOS
. VINHO QUENTE
. QUENTÃO
. CANJICA
. MILHO

TA-FEIRA, 14 DE MAIO DE 2008

HIPERATIVIDADE E APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA

Mário Félix

“Nosso cérebro é o melhor brinquedo já criado, nele se encontram todos os segredos, inclusive o da felicidade” (Charles Chaplin).
Resumo
1.O transtorno de déficit de atenção / hiperatividade (TDA/H) tem sido muitas vezes inconsistentemente diagnosticado em alunos das séries fundamentais e apontado como fator determinante no desempenho do aluno, principalmente no que se refere à educação matemática. Neste artigo, verifica-se quais são os elementos que constituem esse transtorno, a partir do ponto de vista científico e leigo, questionando-se sua real influência na Educação Matemática.
Palavras-chaves: Hiperatividade e Aprendizagem Matemática
O transtorno de déficit de atenção / hiperatividade (TDA/H) tem sido apontado como uma das principais causas do fracasso escolar e em especial, no que se refere ao aprendizado da educação matemática nas séries iniciais, ou seja, na educação fundamental. Entende-se aqui como sendo portadoras de TDA/H, crianças previamente diagnosticadas por professores, coordenadores, pediatras, neurologistas, psicólogos, psiquiatras e pais, que apresentam distúrbios ou não de aprendizado, mas que mantêm visíveis alterações de comportamento, diferenciando-se dentro do contexto escolar das outras crianças ditas “normais”. Portanto, surge aqui uma primeira dificuldade, uma vez que o diagnóstico de TDA/H é caracterizado pelos aspectos apresentados na quarta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV) da Associação Psiquiátrica Americana (APA). Para o diagnóstico clínico, é necessário associar a TDA/H a alterações do metabolismo cerebral (Bastos, 2003). Todavia, esse manual não deve ser apontado como o referencial último para o diagnóstico, tendo em vista as controvérsias em torno do conceito de hiperatividade, sendo algumas delas verificadas neste artigo. Mesmo na comunidade médica, não há um consenso, uma vez que diversas pesquisas referentes ao tema têm seu conteúdo questionado, por não apresentarem uma boa base de argumentação científica e, muitas vezes, atenderem a interesses diversos, como por exemplo: os das indústrias farmacêuticas. Na maioria das vezes, o diagnóstico é feito por pessoas leigas, que tomam como referência apenas o fato da criança apresentar algum desvio de conduta, em relação ao pressuposto da normalidade escolar.
Tal fato torna a maioria dos diagnósticos, sem os devidos estudos associados aos casos, muito perigosos, uma vez que podem levar a conclusões errôneas, principalmente porque as dificuldades de aprendizagem podem ter diversas outras causas, como por exemplo: dislexia, discalculia, disgrafia, problemas sociais e de comportamento, entre outros. Consideramos aqui neste artigo os indivíduos que apresentam um conjunto variável de comportamentos inadequados, tais como movimentação física excessiva e despropositada, dificuldade para concentrar-se em tarefas propostas, agressividade difusa e não justificada, associadas a queixa de mau rendimento escolar como sendo possíveis portadores de TDA/H, cujo aprendizado em Matemática será analisado. (Sucupira, 1985)
O aprendizado da Matemática não é linear, embora uma grande parcela da sociedade considere que o seja. Esta não linearidade significa que um conteúdo não aprendido em determinada fase pode ser estudado posteriormente e, finalmente, uma possível lacuna outrora deixada aberta pode ser preenchida. No geral, a Matemática é considerada a ciência que tem como objeto de estudo a quantidade e o espaço, ou seja, o número e a forma. Esta é uma definição considerada primitiva, pois sabe-se que o conceito da Matemática vai mais além, por ser uma ciência exata, que comprova e verifica de forma regular as descobertas de outras ciências. Embora não esteja pautada em fenômenos naturais comprovados empiricamente, ela se desenvolve como linguagem, o que constitui um meio de comunicação e uma ferramenta usada para descrever e analisar problemas, bem como intervir nas suas soluções.
Sabe-se que o processo que envolve o aprendizado matemático é inerente ao funcionamento da inteligência humana e se manifesta nos primeiros dias de vida, na tentativa de estabelecer relações (Piaget, 1978). Daí há uma aproximação com a arte em seu contexto natural e inato: a arte pela arte. Já enquanto ciência, a Matemática reporta-se a fenômenos naturais comprovados empiricamente. Esta ciência exige raciocínio hipotético dedutivo: imagina-se respostas aos problemas e busca-se prová-las até torná-las consistentes mediante o apoio de verdades já estabelecidas, chamadas de axiomas, a partir das quais se pode fazer demonstrações lógicas e chegar a novos resultados ou teoremas. As novas descobertas ou os novos teoremas precisam ser comunicados, donde a necessidade de uma linguagem própria à matemática. Como conseqüência, o conhecimento matemático é axiomático-dedutivo, embora isso não signifique que esse conhecimento é acabado, pois está em permanente construção. (Ponte e Serrazina, 2003)
Alguns indivíduos supostamente portadores de TDA/H apresentam dificuldades em Matemática, outros não. Acontece que, de forma errônea, muitos portadores de discalculia ou dislexia 1 são “diagnosticados” como portadores de TDA/H. O fato é que, ao apresentar problemas de aprendizado, o educando costuma sofrer de alterações comportamentais e, frequentemente, estas dificuldades acabam levando a pessoa a assumir uma atitude negativa perante o estudo da disciplina, sendo “taxadas” de hiperativas por conta do seu comportamento. Mas, segundo Bastos (2003), uma criança hiperativa possui uma capacidade de abstração muito grande, que leva a um potencial intelectual e criativo bastante elevado. Sendo assim, cria-se um paradoxo: por sua natureza dedutivo-axiomática, a Matemática necessita de um campo abstrato e investigatório para se desenvolver em qualquer indivíduo, isso sem levar em consideração as idades de cálculos concretos e abstratos pelas quais as crianças passam ao longo do seu desenvolvimento. Com base neste fato, é um erro considerar que uma criança supostamente portadora de TDA/H será também desprovida de requisitos básicos para o aprendizado matemático, ou mesmo afirmar de forma categórica que seu insucesso se deva a uma possível TDA/H; ao contrário: isso explica o porquê dessas “agitadas” crianças terem, muitas vezes, um bom desempenho na Matemática, sendo que esse desempenho não se verifica em outras disciplinas.
Todavia, um bom raciocínio abstrato e capacidade lógica não são suficientes para garantirem sucesso, não por conta das estruturas cognitivas do sujeito, e sim porque a Matemática – não se pode negar – exige boa memória, capacidade de abstração, um certo nível de concentração e dedicação aos estudos. Sendo assim, os problemas de memória que parecem surgir em atividades rotineiras – podendo ser exemplificados por esquecimentos de objetos ou informações importantes para a execução de alguma atividade – podem prejudicar a aprendizagem matemática das crianças supostamente portadoras de TDA/H. Cabe ainda ressaltar que a inconsistência e as flutuações no comportamento, ora apresentando-se de uma forma, ora de forma oposta, freqüentemente presentes em indivíduos com TDA/H, também podem prejudicar seu aprendizado. (Flick apud Bastos, 2003)
No geral, um dos principais transtornos que afetam o aprendizado da Matemática é a discalculia, a qual não é relacionada à ausência de habilidades matemáticas básicas, como contagem, e sim, à forma com que a criança associa essas habilidades ao mundo que a cerca (Bastos, 2003). A aquisição de conceitos matemáticos e outras atividades que exigem raciocínio são afetadas neste transtorno, cuja baixa capacidade para manejar números e conceitos matemáticos não é originada por uma lesão ou outra causa orgânica. Normalmente, a dificuldade de aprendizagem matemática é encontrada em combinação com o transtorno da leitura ou Transtorno da Expressão Escrita e tais domínios não estão diretamente relacionados à TDA/H. Não existe uma causa única e simples que possa justificar as dificuldades com a Linguagem Matemática, as quais podem ocorrer por falta de habilidade para determinação de razão matemática ou pela dificuldade em elaboração de cálculo matemático. Essas dificuldades estão atreladas a fatores diversos, podendo estar vinculadas a problemas como o domínio da leitura e/ou da escrita, que afetam a compreensão global de um texto ou problema, bem como o próprio processamento da linguagem (Luczynski, 2003).
Por fim, se não existe um consenso sobre a TDA/H nos meios acadêmico e científico, fica difícil estabelecer relações entre este transtorno e a aprendizagem matemática. Portanto, não se tem uma real comprovação de que a TDA/H possa ser considerada uma disfunção causadora de dificuldades no aprendizado da matemática ou mesmo afirmar que crianças portadoras de TDA/H são propensas a um aprendizado mais facilmente absorvido.


1- Dificuldade específica de aprendizado da linguagem: em leitura, escrita, em linguagem expressiva ou receptiva, em razão e cálculos matemáticos. (Luczynski, 2003)
Referências:
BASTOS, F.L. e BUENO, M. C. Diabinhos: Tudo sobre Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade. (mimeo)
BASTOS, F.L. Neurosciences for Kids Brasil. Disponível em
http://br.geocities.com/neurokidsbr/. Arquivo capturado em 22 de outubro de 2006.
BOSSA, Nadia A. Fundamentos da Psicologia. In: Nadia A. Bossa. A Psicopedagogia no Brasil. Contribuições a partir da prática, 2ª edição, Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
LUCZYNSKI, Zeneida B. Dislexia, você sabe o que é? Disponível em
http://www.dislexia.com.br/. Arquivo capturado em 08 de novembro de 2006.
MATTOS, P. (1999). TDAHI: Diagnóstico e causas. Arquivo capturado em 1º de outubro de 1999 disponível em http//www.dda.med.br
PIAGET, J. O nascimento da inteligência na criança. 3.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
PLENAMENTE. Transtornos de Aprendizagem. Disponível em
http://www. plenamente.com.br/diagnosticos7.htm. Arquivo capturado em 22 de outubro de 2006.
PONTE, J. P. e SERRAZINA, L. As práticas dos professores de Matemáticaem Portugal. Educação e Matemática. Lisboa: APM, 2004.
SUCUPIRA, Ana Cecília S. L. Hiperatividade: doença ou rótulo? Caderno CEDES, nº 15, 1985.
Publicado em 04/05/2007 15:34:00

Mário Félix - Licenciado em Matemática – UNIFACS e Pós-Graduado de Pedagogia com Ênfase em Orientação Educacional- UNIFACS.

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